24 de junho, de 2019 | 17:00

A disrupção da contabilidade sob a ótica de um auditor

Walmir Moreira Lage *

“Nós deixamos de ser Guarda-Livros e passamos a ser profissionais do século XXI que precisam sim, sofrer disrupturas”

Ao fim da XII Convenção de Contabilidade de Minas Gerais ocorrida do dia 5 a 7 de junho de 2019 com o tema “A contabilidade diante da inovação disruptiva no mundo dos negócios: gestão, conhecimento, tecnologia, ética e responsabilidade social”, sai com o forte propósito de levar adiante o debate principal da convenção que foi a inovação tecnológica disruptiva no mundo dos negócios, e, em destaque, para a Contabilidade.

“Disruptura" é uma palavra que não constava nos dicionários de português, deriva de "disruption" (disrupção), do inglês. Mas ela está na moda e é o centro do debate para todas as profissões e negócios. Em um mundo pautado pelas inovações digitais, negócios "disruptivos" surgem a todo instante e podem acabar com empresas e até setores organizados inteiros, vejamos os exemplos do Uber x táxis, Ifood x delivery de comidas, Netflix x locadoras de filmes, e agora as famosas patinetes elétricas locadas por aplicativos x transporte público.

Ao completar mais de 30 anos de profissão contábil e no efetivo exercício da profissão de auditor independente e consultor na área contábil vejo que há por parte de muitos autores e atores uma forte tendência em divulgar os estudos apocalípticos do fim de várias profissões e, dentre estas, com destaque a do Contador. É o fim da contabilidade, assim preconizam. Ledo engano!

A minha graduação em Ciências Contábeis se deu na década de 1980. O laboratório de contabilidade, onde aprendíamos o manuseio tecnológico da época que era a mecanografia, onde, numa máquina de datilográfica adaptada faziam-se os registros em fichas coloridas para lançamentos contábeis dos débitos e os créditos dos fatos administrativos.

Naquela época dizia-se o fim da “gelatina” como processo de registro do diário e razão contábil, que só alguns anos mais tarde (já formado) conheci de perto ao fazer uma auditoria em um sindicato de trabalhadores em mineração. Realmente a “gelatina” tinha morrido. Mas ao fim da graduação em Contabilidade iniciei a vida empresarial contábil com a montagem de escritório de contabilidade e para ser moderno e disruptivo tecnologicamente tínhamos a nossa disposição o mais moderno computador da época um AT 286 e uma impressora de 132 colunas. Era o máximo! Vamos pôr fim à mecanografia com uso de sistemas, planilhas e editores de textos. Com isto a Contabilidade a ser informatizada iria morrer. Morreu a mecanografia, mas não a Contabilidade.

Passados alguns anos, nem tantos, estamos vivendo uma era digital onde os aplicativos e softwares integrados fazem com que a Contabilidade seja on-time. Em virtude desta total celeridade da informação e do conhecimento, temos um fenômeno na integração dos dados, das informações e melhoria dos processos. De novo a Contabilidade vai acabar, dizem os apocalípticos.

Deixamos de ficar preenchendo/datilografando formulários do imposto de renda, guias de impostos. Tudo ficou eletrônico, tudo ficou digital.

Ao auditar diversas organizações privadas e algumas públicas não precisamos mais acessar documentos impressos, quase tudo está digitalizado, quase tudo sendo acessado eletronicamente. Deixamos de manusear papeis, mas não deixamos de auditar os procedimentos contábeis, os lançamentos contábeis, só que agora de forma digital.
A disruptura não está na Contabilidade, que continua se valendo do Método das Partidas Dobradas, descrito pela primeira vez por Luca Paciolli no livro "Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalità" em 1494, é o sistema usado em empresas e outras organizações para registrar transações econômicas, financeiras e patrimoniais. A Ciência Contábil é a mesma.

A disruptura está no modus operandi de se registrar e de contabilizar a riqueza das organizações. Nós deixamos de ser Guarda-Livros e passamos a ser profissionais do século XXI que precisam sim, sofrer disrupturas do modo de fazer e executar, dando condições a mais setores utilizarem os nossos trabalhos de contadores, peritos e auditores, com custos mais baixos e de forma mais efetiva.

Clayton Christensen, autor do livro The Innovator’s Dilemma, afirma que “Inovações disruptivas não são avanços de tecnologias que fazem bons produtos melhores; ao contrário, são inovações que tornam os produtos e serviços mais acessíveis e baratos, tornando-os disponíveis a uma população muito maior. É importante lembrar que a ruptura é uma força positiva”. Sejamos bem-vindos ao Admirável Mundo Novo.

Novas formas de trabalhar para nós Contadores não significam o fim da profissão contábil, significam aprimoramento profissional, modernização das relações de trabalho e da prestação de serviços, significa inovação e, sobretudo, nos colocarmos como profissionais que se qualificam e se tornam agentes das mudanças de sua própria história e trajetória digna de Contadores. Que venham a modernidade e a disrupção. Escrevi o presente paper na 1ª pessoa, pois é assim que penso.

* Professor Universitário. Contador, Administrador, especialista em auditora, mestre em contabilidade e doutorando em administração.
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