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19 de junho, de 2019 | 14:30

O que está por trás do feriado de Corpus Christi

Jack Brandão *

“A festa de Corpus Christi começou no século XIII, na diocese de Liège, na Bélgica”

“Muitos católicos sequer se lembram do milagre, nem conseguem associá-lo à Festividade de Corpus Christi”

Neste ano de 2019, o dia de Corpus Christi é celebrado neste dia 20 de junho. É um dos feriados religiosos no Brasil. Enquanto para alguns, trata-se de uma data para descanso e lazer, para os católicos trata-se de uma importante data de seu calendário litúrgico. Neste dia, a Igreja celebra a instituição da Eucaristia com a exposição do Santíssimo Sacramento pelas ruas, em procissão, juntamente com os fiéis. Para os católicos, a Eucaristia significa a essência da vida cristã, pois nela está contido o verdadeiro Corpo de Cristo que se sacrificou na maior demonstração de amor já realizada pela humanidade.

A festa de Corpus Christi começou no século XIII, na diocese de Liège, na Bélgica, graças à freira Juliana de Mont Cornillon. Ela teria tido visões nas quais o próprio Cristo lhe aparecera pedindo que realizasse uma festa anual em honra da Eucaristia. A solenidade, porém, só foi instituída, oficialmente, pelo papa Urbano IV em 1264, ao publicar uma bula sobre o tema, prescrevendo a celebração oficial em honra do Corpo do Senhor sempre nas quintas-feiras após a oitava de Pentecostes. Segundo a tradição, a oficialização da data ocorreu depois que o Papa, que morava em Orvieto, na Itália, pronunciou as palavras Corpus Christi diante de uma relíquia eucarística, que lhe fora trazida de uma cidade próxima, chamada Bolsena. Trata-se de uma hóstia consagrada que teria sangrado durante uma celebração eucarística realizada na cripta de Santa Cristina, naquela cidade.

Tal acontecimento, considerado pelos católicos como um milagre eucarístico, foi quase imprescindível para a repercussão desta solenidade cristã. Atualmente, por exemplo, muitos católicos sequer se lembram de tal milagre, nem conseguem associá-lo à Festividade de Corpus Christi. No entanto, essa imagem demonstrou sua eficácia, pois ainda hoje vemos a devoção popular espalhada nas ruas em forma de tapetes, por exemplo, no dia da festividade. Assim, a associação desvinculou-se do miraculoso e ganhou contornos próprios.

Nós somos seres iconotrópicos, ou seja, consumidores imagéticos vorazes e por isso necessitamos, a todo o momento, de mais e mais imagens que possam saciar nossa sede por elas. O que ocorre é que essa sede é inesgotável e, quanto mais consumimos, mais desejamos consumir, pois nunca nos contentamos com o que temos.

A existência de uma relíquia, como a hóstia com gotas de sangue ou o milagre de Lanciano, cuja origem remonta ao século VIII, significa, para muitos católicos, a materialização do sacrifício de Cristo. Nós somos seres visuais. Na sociedade contemporânea há o predomínio da percepção visual. Dessa maneira, o fiel católico, ao ter a oportunidade de visualizar aquilo que pertence ao mundo material em consonância com o espiritual, vê fortalecida sua fé. Não que ele necessite, de maneira clara, dessa materialização, é evidente.

O professor ainda destaca que tais sinais externos não desmerecem a fé cristã, pelo contrário, ele ressalta que tais imagens apenas contribuem para reforçar a fé. Se eu já acredito, intensificarei ainda mais a minha crença e, se eu tenho algumas dúvidas, passo então saná-las perante a imagem que surge diante de mim. Ele também chama a atenção para o surgimento de outros milagres semelhantes que atraem milhares de fiéis para verem a relíquia exposta.

As pessoas querem ver e contemplar, pois se trata, digamos, de uma prova da origem divina da Eucaristia. No caso da instituição da festividade de Corpus Christi, por exemplo, os milagres repercutem mais que a própria visão da freira Juliana. Não desmerecendo a mística, mas nesse caso o que se busca é a materialidade do sobrenatural, fato que corresponde ao suporte imagético. Por fim é preciso lembrar que o apóstolo Tomé que, apesar de ser taxado como homem de pouca fé ou até mesmo incrédulo, recorre à materialidade imagética para fortalecer sua crença: Ele não deixa de acreditar, pelo contrário, ele apenas recorre às imagens para impulsionar a sua fé. Todos, afinal, temos um pouco de Tomé em nós.

* Doutor em Literatura pela Universidade de São Paulo (USP). Diretor do Centro de Estudos Imagéticos Condes-Fotós Imago Lab. Docente do Mestrado da Universidade Santo Amaro, Unisa/SP. condesfotosimagolab.com.br. Youtube: Jack Brandão
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