04 de junho, de 2019 | 16:15

Minha perplexidade

Amadeu Garrido de Paula *

Enfrentamos diariamente as ilusões e a demagogia, que nunca deixaram o campo político, nos diversos momentos da pedregosa estrada da história do mundo. Isso porque, invariavelmente, uma minoria guia a maioria, por vezes silenciosa, por vezes revolucionária.

Segue-se que as ilusões e a demagogia são o modo de conservação do poder. A espessa névoa de Platão vista da caverna ou os ídolos da tribo de Francis Bacon. Sempre estamos distanciados da realidade e, não obstante viver sem a verdade, evoluímos, para o bem ou para o mal.

O estamento da nobreza manifestou incessantemente sua rigidez, sua imperturbabilidade, seu desprezo às classes sociais. Sim, os príncipes não emolduraram uma classe social. Esta veio com a burguesia e o proletariado. A nobreza deplorava ambas. Vide os personagens de Machado de Assis, admiravelmente postos no plano sociológico pelo saudoso Raimundo Faoro.

As burguesias ascendentes eram tidas como os "noveaux riche". Confesso desassombradamente que prefiro ser um novo rico do que um velho pobre, simplesmente porque não me atrai o masoquismo.

O Brasil de hoje mostra um quadro singular. A única classe bem definida é o imenso e - pelo menos até esta data - proletariado, conjunto de trabalhadores em torno de 95% da população ativa. Ou desativa, na busca ansiosa e deplorável de uma atividade. No mais, é a classe considerada "média", atemorizada, porque desprovida de um eixo firme, uma gangorra trágica porque não é brinquedo, o homem ou a mulher que hoje têm uma pequena loja na rua principal, ou no shopping center cujo preço não se saberá se será suportável no fechamento das contas do mês.

O principado não é mais coberto de vestimentas multicoloridas, pedras preciosas, exalando aromas importados, a desfilar de carruagens imponentes, que exige as cerimônias de rapapés e de beija-mãos. Vivem enrustidos. E jamais sem dinheiro, com a qual a nobreza se importava pouco, ao pôr em seu lugar a força do poder incontrastável. Em geral, são mercadores de dinheiro, cujos lucros são juros, extorsivos no Brasil, aos quais dão nome estrangeiro: "spread". E políticos querem ganhar eleições discursando ao povão com o uso desse termo. Não aparecem nem querem aparecer. Não falam nem querem falar. Não dão entrevistas nem querem dar. Quando as dão e aparecem numa dessas revistas econômicas como um "self-made man", no dia seguinte bate-lhe às portas um auditor da Receita Federal. A discrição seria muito mais vantajosa.

E como tal "la nave vá". Domenico Di Masi, filósofo e sociólogo italiano, dos melhores do mundo, afirma que todo o orbe, no momento atual, é dominado por 8 famílias, muito bem estruturadas em suas formas sólidas e ramificadas de domínio econômico. São os atuais príncipes. Ocultos, não se sabe onde. O dinheiro é incomensurável. Ricos são os outros, que, como tal, creem-se. Pobrezinhos.

* Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados

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