25 de maio, de 2019 | 07:00

Cruzeiro: Virose azul

Fernando Rocha

Há exatos 12 dias, quando as críticas ao fraco futebol do Cruzeiro ainda eram tímidas, parodiei uma frase famosa do poeta e dramaturgo inglês, Shakespeare, em seu clássico ‘Hamlet’, trocando “há algo de podre no Reino da Dinamarca”, por “há algo de errado no Reino Azul do Cruzeiro”.

A crise aumentou após a goleada sofrida no Brasileirão, 4 x 1, para o Fluminense, o que aumentou o ‘achismo’ sobre as causas para esta tamanha queda de rendimento.

Claro que não existe um, mas vários motivos que podem ter feito o time celeste descarrilhar. E um eventual ‘racha’ interno entre os jogadores é só um deles.

Neste caso, diretoria e jogadores negam e não poderia ser diferente, pois imaginem se o diretor de futebol, Itair Machado, ou algum jogador do grupo, vão confirmar publicamente a sua existência? Atraso nos salários, premiações etc, coisa e tal, nem pensar.

Então, o que há de fato com o Cruzeiro? Na medicina, quando uma gripe, infecção, dor de barriga etc, não tem um diagnóstico definido, costumam dizer que é uma ‘virose’.

Então, transportando para o futebol, digamos que o time do Cruzeiro está acometido por uma ‘virose’, que só será curada com a volta das vitórias, a começar logo mais diante da Chapecoense, no Estádio Independência.
Somos escravos dos resultados, e o que menos interessa para o torcedor e uma grande parcela da imprensa, é se o time jogou mal, se o gol foi legal, o que importa é ver o seu time ganhar, como disse certa vez o grande líder chinês, Deng Xiao Ping: “Não importa a cor do gato, importante é que ele coma os ratos”.

Elefante no poste

O torcedor atleticano vive um momento inusitado, entre estar feliz com a campanha do time no Brasileirão - até o jogo de ontem com o Grêmio, no sul, era o vice-líder, 12 pontos em 15 disputados -, mas ainda desconfiado por saber das muitas deficiências da equipe.

Soma-se ainda a impressionante inércia da atual diretoria, que além de não contratar reforços, também não define quem será o treinador definitivo do time, o que acaba trazendo mais intranquilidade e desconfiança à sua torcida.
Por enquanto, os atleticanos aproveitam a boa fase do time para zoar os rivais cruzeirenses nas redes sociais, mas com a sensação de que tudo pode mudar de uma hora para outra, como na história do elefante visto no alto de um poste: ninguém sabe como chegou até lá, mas sabe que pode cair a qualquer momento.

FIM DE PAPO

Entre os supostos motivos para os recentes maus resultados do Cruzeiro, não se pode deixar de considerar que os adversários são agora bem mais fortes do que as ‘babas’ do interior que o time celeste vinha enfrentando no Campeonato Mineiro. Junte-se a isso a má fase técnica e física de alguns dos principais jogadores do elenco, além de desfalques por contusões que obrigam o treinador a mexer no time a cada jogo.

Se tiver um pouco de juízo, a diretoria do Galo vai aproveitar a parada da Copa América para se livrar de algumas ‘bombas’, cujos contratos estão vencendo agora ou no fim da temporada e que custam muito caro em razão daquilo que deram de retorno ao clube até agora. Puxam a lista do ‘já deu’ o volante Elias, Nathan, Carlos César, Leandrinho e o uruguaio Martin Rea. O ‘gênio’ Alexandre Gallo, ex-diretor de futebol do clube, deixou uma herança, o uruguaio David Terans, que tem contrato até 2023 e não pode entrar nessa lista do ‘já deu’. Apesar da idade, o capitão Leonardo Silva, com 39 anos, ainda tem mostrado serviço para permanecer até o fim da temporada.

Acabou na última quinta-feira o imblóglio entre o Palmeiras e a Globo, com o anúncio oficial do acordo entre as partes, que permitirá as transmissões dos jogos da equipe paulista a partir de agora. Simples assim: o Palmeiras só conseguiu peitar a Globo porque possui outras fontes de receita que lhe dão estabilidade financeira, como a venda de jogadores, patrocínio de camisa e bilheteria, através do sócio torcedor.

Somando todos os contratos, a receita do Palmeiras com transmissões de TV chega agora a R$ 192 milhões, abaixo do Flamengo com R$ 220 milhões e Corinthians, com algo próximo a R$ 200 milhões. Depois vem o São Paulo que recebe cerca de R$ 150 milhões e fecha o grupo dos quatro ‘ricos’ do futebol nacional. Na linha abaixo aparecem os ‘remediados’ Vasco, Santos, Internacional, Grêmio, Cruzeiro e Atlético-MG, que recebem cerca de R$ 100 milhões cada um.

A ‘espanholização’ do nosso futebol, devido à distância dos ‘ricos’ para os demais ser cada vez mais nítida, vai se tornando realidade. Já excluíram os pobres dos estádios, com as construções das novas ‘Arenas’, que aumentou significativamente o preço dos ingressos. Agora o poder econômico fecha mais o cerco, e restringe o sonho da conquista de títulos para apenas os torcedores dos quatro ou cinco clubes mais ‘ricos’. (Fecha o pano!)
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