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26 de maio, de 2019 | 10:00

Geógrafo aponta Vale do Aço como uma das mais importantes metropolizações do interior

O doutorando aponta o Vale do Aço como única e mais importante metropolização do interior, na região Sudeste, fora do estado de São Paulo

Reprodução
Conforme estudos do geógrafo, ele sugere a inclusão de Belo Oriente na RMVA, por sediar um dos braços do parque industrial da região, a CenibraConforme estudos do geógrafo, ele sugere a inclusão de Belo Oriente na RMVA, por sediar um dos braços do parque industrial da região, a Cenibra

Em um estudo sobre a metropolização do interior no Brasil, o geógrafo e doutorando em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), William Souza Passos, tem identificado tais processos, especialmente aqueles ligados ao que ele classifica como “minerodependência”. O termo é explicado por ele como dependência das atividades de extração e de transformação mineral, como é o caso da siderurgia, que transforma carvão mineral e minério de ferro, entre outros produtos, em aço.

O doutorando aponta o Vale do Aço como única e mais importante metropolização do interior, na região Sudeste, fora do estado de São Paulo. Em um artigo escrito por ele, apresenta uma comparação entre os mercados de trabalho do Vale do Aço e da Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, que identifica como a segunda principal metropolização de interior, não paulista, do Sudeste. Sua decisão por estudar o tema partiu da constatação de que, essas duas regiões, são as únicas, fora de São Paulo. “Percebi que o Vale do Aço e a Bacia de Campos são contrapontos em tornos econômicos, urbanos, históricos, geográficos e territoriais. A produção econômica nessa região de Minas, é dentro do território. Já na Bacia é em alto-mar”, revela.

Divulgação
William tem identificado processos, especialmente aqueles ligados ao que ele classifica como ?minerodependência?William tem identificado processos, especialmente aqueles ligados ao que ele classifica como ?minerodependência?

O geógrafo acrescenta que o Vale, especialmente Ipatinga, foi planejado e ordenado. A Bacia de Campos cresceu de forma espontânea e desordenada. Uma vez identificada uma metropolização no interior de um estado, ele levanta as características territoriais, a começar pelos municípios e pela divisão regional na qual estão inseridos, que algumas vezes é mais de uma, e prosseguindo pelas principais forças econômicas, mercado de trabalho, tamanho e deslocamento da população, geometria urbana, geografia natural e a história regional. “Ao fim, essas metropolizações são cartografadas, isto é, transformadas em mapas, e, quando possível, também acompanhadas de uma observação visual de campo, que serve para captar os pequenos detalhes que as estatísticas e a literatura científica não conseguem ou não se preocupam em apresentar”, esclarece.

Em sua pesquisa, William Passos buscou construir um indicador para identificar processos de metropolização, principalmente, no interior do Brasil. Ele tem mapeado potencialidades e deficiências de cada região estudada, que precisam ser trabalhadas para impulsionar um maior desenvolvimento regional. A solução para o desenvolvimento regional dos municípios do interior, estejam inseridos ou não em processos de metropolização, passa pela união e o trabalho coletivo entre os atores de uma dada região, não apenas prefeituras, mas também empresários, elite intelectual, ONGs, universidades, movimentos sociais e religiosos e qualquer outro tipo de ator ou associação civil que consiga se organizar coletivamente.

“É muito comum, no interior, que a sociedade regional considere a instalação de uma grande indústria como a solução para o desenvolvimento. Os estudos científicos mostram que nem sempre isso é verdade, embora, em muitos casos, grandes projetos de investimento tragam sim muito desenvolvimento. Entretanto, salvo exceções, é sempre importante destacar que a instalação de grandes investimentos costuma vir acompanhada da criação ou atração de grandes problemas, como o inchaço urbano, favelização, problemas de trânsito, colapso da segurança pública e da infraestrutura, além de uma piora muito grande do quadro ambiental”, alerta.

Solução
Alex Ferreira/Arquivo DA
Estudo mostra Ipatinga como exceção em planejamento urbano em cidades que receberam grandes indústrias Estudo mostra Ipatinga como exceção em planejamento urbano em cidades que receberam grandes indústrias

Para o pesquisador, a solução, nesses casos, passa pelo planejamento urbano e regional, como ocorreu com Ipatinga, que começou a se preparar antes mesmo de receber a Usiminas. O primeiro plano urbanístico de Ipatinga, projetado pelo arquiteto Raphael Hardy Filho, data de 1958. A Usiminas é inaugurada em 1962. Em 1965, o arquiteto cria um plano habitacional para controlar a especulação imobiliária e evitar a descaracterização do projeto urbanístico de 1958.

“Isso ajuda a explicar por que Ipatinga, apesar de ter se desenvolvido em torno de uma grande indústria, foi preservada de quase todos os grandes problemas, dos quais os municípios de interior que recebem grandes projetos são vítimas. O planejamento inibiu a implosão urbana de Ipatinga e a tornou uma exceção dentro do conjunto de municípios brasileiros, que passaram por situações semelhantes. O desenvolvimento da cidade tem limitações, mas o planejamento impediu que elas fossem maiores”, avalia.

A maioria das áreas geográficas identificadas não foram percebidas ainda como metropolizações de interior. Conforme William, ele é o primeiro a tratar desse assunto no Brasil, no âmbito da pesquisa de doutorado desenvolvida no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Não havendo publicação científica, essa informação não se dissemina pelas regiões sob metropolização, restando apenas a possibilidade de intuição dos atores e da população regional, que, em muitos desses casos, ainda não existe, de que a região está crescendo e de que algo deveria ser feito. Sem um diagnóstico técnico, porém, eles não conseguem identificar a dimensão exata dessas transformações, nem como agir diante delas”, lamenta.

Pesquisador destaca impacto territorial na região

Questionado sobre quais pontos chamaram mais a sua atenção no estudo do Vale do Aço, William Passos cita o enorme impacto territorial do parque industrial, montado em torno da antiga Acesita, da Usiminas e da Cenibra. Em cerca de 60 anos, transformou uma área isolada e pouco habitada, numa metropolização de interior, com características típicas de metropolização tradicional, com núcleo metropolitano conurbado (quando uma área urbana de uma cidade torna-se limítrofe a outra). O geógrafo inclui a esse contexto também o município de Belo Oriente e a área de expansão do Colar Metropolitano.

“Também me chamou a atenção a preocupação com o planejamento urbano e regional, antes e depois da instalação da Usiminas, algo atípico não apenas no Brasil, mas em todos os países subdesenvolvidos. Normalmente, os planos urbanísticos são elaborados apenas para cumprirem uma exigência burocrática da instalação de uma grande siderúrgica, ou seja, são feitos, mas não executados. Por isso, Ipatinga e o Vale do Aço são uma exceção”, pontua.
William Souza faz um apelo e destaca a necessidade de se lutar pela diversificação econômica e por uma universidade pública para o Vale do Aço. Para ele, região é altamente dependente da indústria do aço. Diante disso é necessário o fortalecimento de alternativas econômicas para toda a região. Essas alternativas passam tanto pela atração de novos investimentos, quanto pelo reforço das atividades locais.

“Paralelamente, é preciso aproveitar o potencial já existente, fortalecendo o comércio e o setor de serviços, qualificando empreendedores e mão de obra local, e estimulando a abertura de novos negócios, desde o microempreendedorismo”, enfatiza.

Em sua pesquisa de campo, William Souza diz ter visto a imprensa repercutir a fala de um ator que defendia a exploração do potencial turístico do Vale do Aço. Entretanto, sua observação é de um potencial muito maior para desenvolver alimentação, entretenimento e cultura no Vale do Aço.

Para o pesquisador, há demanda não atendida e renda que não é gerada, por falta de inciativas. William observa que muitas vezes as pessoas não saem de casa por falta de opção. Quando se trata de alguém que esteja visitando a região, é pior ainda. “Visitantes costumam consumir muito mais. Muitos moradores do Vale do Aço recebem visitas de familiares de outras cidades. Empresas também recebem pessoas de fora que vêm a trabalho e à noite fins de semana não saem. Quando elas não consomem, a economia regional perde muito. É menos lucro, menos emprego, menos renda, menos impostos, menos crescimento. Fica aí o apelo para as prefeituras, iniciativa privada, imprensa e toda a sociedade regional”, conclui o geógrafo.

(Bruna Lage)
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Comentários

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Jean Leal

31 de maio, 2019 | 12:16

“Penso que a mobilidade urbana também deve ser levada em consideração, no sentido de desenvolver a região. Terminais urbanos para baldeação, como acontece nas grandes regiões metropolitanas, poderiam melhorar o transporte publico e tornar menos onerosas as viagens entre as cidades e o entorno. Haveria mais possibilidades de moradia em locais um pouco mais afastados dos centros, consequentemente a preços mais acessíveis e com o devido planejamento não haveria crescimento de loteamentos irregulares e desordenados.”

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