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23 de maio, de 2019 | 15:30

O país de ponta-cabeça

Margarida Drumond de Assis *

“Não podemos viver como se em meio a um furacão, inseguros, parecendo o país estar de ponta-cabeça”

O que temos visto no país, nos últimos dias, é preocupante: espanta-nos, por exemplo, que haja 13 milhões de desempregados; o dito contingenciamento a denunciar os cofres vazios, originando cortes onde jamais se poderia imaginar, e a Educação é atingida; área de humanas, depreciada; decreto do governo pode levar a um maior risco a segurança, com armamento, nas mãos de pessoas comuns, sem preparo; posicionamentos atrapalhados de chefes do poder emperram medidas e votações que merecem ir adiante; nota do Ministério da Saúde afronta a Lei da Reforma Psiquiátrica, abrindo novamente o debate do desrespeito para com aqueles que vivenciam o transtorno mental. Em meio a tudo isso e dentre outras coisas, percebe-se a estagnação econômica e o desvario no mercado financeiro, apontando alta do dólar e queda na bolsa de valores. Quer dizer, reina a instabilidade e não se vê mais a euforia como a existente no início do governo Bolsonaro, pela confiança em possíveis mudanças para um Brasil melhor.

Perante tantas questões e ainda recordando o que analistas de mercado frisavam, não faz muito tempo, o Produto Interno Bruto – PIB cresceria 1% neste ano, a exemplo dos dois últimos, a perspectiva não é nada boa, principalmente para quem precisa de um emprego. Reformas econômicas precisam ocorrer logo, mas elas não virão se a questão política não se resolver, com os nossos representantes se entendendo e se respeitando melhor, também respeitando cada ser humano, atuando com ética e honestidade, deixando harmônicos o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Sem isso, só virá o caos, sendo frequentes manifestações como a de outro dia, com estudantes e professores fazendo ecoar nas ruas o grito de protesto. A insatisfação que se vai criando traz de volta lembranças quanto a impeachments de Fernando Collor e Dilma Roussef, sem nos esquecermos que faltou pouco para o mesmo se dar em relação ao ex-presidente Michel Temmer.

O Brasil não pode ter grande expectativa de desenvolvimento, quando tem como ministro da Educação alguém que, por suas ações, mais parece atuar na pasta da economia, conforme alegação recente de diminuir despesas com as universidades, à revelia do crescimento educacional dos estudantes e da pesquisa. E o senhor Abraham Weintraub recebeu apoio do Jair Bolsonaro pela iniciativa tomada com a diminuição de investimentos nos cursos da área de Humanas, como Filosofia e Sociologia, priorizando faculdades que, conforme expressou, “geram retorno de fato”, citando as de enfermagem, veterinária, engenharia e medicina. Conforme destacado pelo presidente nas redes sociais, “a função do governo é respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta, e depois um oficio que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade em sua volta”. Também, quem foi mesmo que disse serem os estudantes uns “idiotas úteis”?

Fato é que devemos estar atentos a ações diversas de nossos governantes, estar atentos e reagir, como fizeram os representantes da Sociedade Brasileira de Sociologia ao ver depreciados os estudos nas áreas de humanas. Eles reconhecem o valor dos estudos nas áreas de veterinária, engenharia e medicina, porém enfatizaram quanto é importante a área de humanas: “ Há uma longa trajetória na história do conhecimento, elaborada em várias universidades espalhadas em diferentes partes do mundo e são igualmente importantes para a construção de um pais moderno, desenvolvido e mais solidário”, frisaram. E mais: “(...) A Sociologia é uma ciência como as demais que integram esta modalidade especifica de conhecimento, apartada de noções do senso comum (...)”.

Por tais fatos que vão se descortinando, urge que deputados e senadores aprovem logo projetos que ajudem na estabilidade econômica, favorecendo empregos, saúde, educação, segurança. Não podemos viver como se em meio a um furacão, inseguros, parecendo o país estar de ponta-cabeça. Nefastos pontos de vista por parte de nossas autoridades devem ser sanados, em prol da harmonia entre os governantes e o povo para, assim, o país se firmar novamente como, há muito, esperamos.

* Escritora, jornalista e professora. São de sua autoria obras em gêneros literais diversos, dentre as quais o mais recente romance, Doce complicação, no qual ela trabalha a saúde mental; o livro de poesias Além dos versos e a biografia sobre o padre Abdala Jorge, “Eu já nasci padre!”. [email protected] / www.margaridadrumond.com
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