08 de maio, de 2019 | 09:09
Pulmonar X Arterial: entender a diferença entre essas hipertensões ajuda no diagnóstico precoce
Em 2019, o Dia Mundial da Hipertensão Pulmonar quer alertar as pessoas sobre os sintomas dessa doença que é confundida facilmente com outros problemas pulmonares
A hipertensão acontece quando a pressão nos vasos sanguíneos é maior do que deveria ser, fazendo com que o sangue se force contra a parede dos vasos ou artérias com muita força. Essa condição é popularmente conhecida como pressão alta”, mas o que muita gente não sabe é que ela não se limita apenas à pressão arterial (HA), podendo acometer diretamente os vasos sanguíneos do pulmão e gerar uma condição conhecida como Hipertensão Pulmonar (HP).Por ser menos popular e discutida que a HA, o dia 5 de maio foi escolhido como o Dia Mundial da Hipertensão Pulmonar, justamente para conscientizar a população dos sinais e sintomas que essa doença pode provocar, uma vez que seu diagnóstico é demorado e confundido com outras condições pulmonares. Mesmo conhecida em menor escala, a HP atinge mais de 26 milhões de crianças e adultos no mundo todo, de acordo com a Associação Americana de Hipertensão Pulmonar (PHA). Mas no que, exatamente, essas hipertensões se diferem?
Onde acontece
A primeira diferença é que na hipertensão comumente conhecida (também denominada como hipertensão arterial ou "hipertensão sistêmica"), a pressão nos vasos sanguíneos arteriais em todo o corpo está elevada para além do recomendado. Na HP, os vasos sanguíneos especificamente nos pulmões são afetados e podem se tornar rígidos, danificados, estreitos ou bloqueados. Como resultado, o lado direito do coração deve trabalhar mais para bombear o sangue, o que pode levar à insuficiência cardíaca e até à morte” esclarece Dr. Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes, do Grupo de Circulação Pulmonar do INCOR Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Sintomas
Mesmo com o nome parecido, os sintomas dessas doenças se diferem entre si. Enquanto a hipertensão arterial pode causar dores de cabeça, no peito, tonturas, zumbido no ouvido e até sangramento nasal, a hipertensão pulmonar causa fadiga extrema e dificuldade para respirar, podendo causar desmaios. Por se tratar de sintomas comuns a outras doenças pulmonares como a asma, o diagnóstico da HP demora a ser feito e muitas vezes também é confundido com a falta de preparo do indivíduo para realizar exercício físico.
Casos raros
Tanto a HP como a HA são condições que podem atingir adultos ou crianças, homens ou mulheres, de qualquer idade ou raça. Mesmo assim, existe um tipo de hipertensão pulmonar que é mais rara e de difícil diagnostico: hipertensão tromboembólica crônica, a HPTEC. No total, existem cinco tipos de HP e segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a classificação funcional do paciente com a hipertensão pulmonar, incluindo a hipertensão pulmonar tromboembólica crônica, varia numa escala de 1 a 4. Tais indicadores representam desde a ausência de limitação para atividades habituais, até a incapacidade de realizar qualquer tipo de esforço físico e a presença de fadiga mesmo em repouso.
A HPTEC é rara, mas é a única das hipertensões pulmonares que pode ser curada por meio de cirurgia. O seu surgimento pode ocorrer quando o corpo não consegue dissolver um coágulo de sangue nos pulmões. Isso pode levar ao surgimento de tecido cicatricial (fibrose) nos vasos sanguíneos dos pulmões, bloqueando o fluxo normal” diz dr. Caio.
Diagnóstico e tratamento
Talvez a maior diferença esteja no diagnóstico, uma vez que a hipertensão arterial é facilmente diagnosticada, enquanto a pulmonar pode levar muito mais tempo. Em países desenvolvidos, o diagnóstico da hipertensão pulmonar pode levar de 2 a 3 anos para ser feito. Em muitos casos, após o diagnóstico, 75% dos pacientes já apresentam um quadro de HP grave”, diz dr. Caio.
O tratamento, entretanto, tem uma característica em comum: é necessário analisar o quadro individual de cada paciente antes de iniciar qualquer intervenção. Na HA, é possível mudar a alimentação e implementar exercícios físicos para baixar a pressão arterial, mas há casos que o uso de medicamentos é necessário. Já nas HP, os tratamentos podem variar desde tratamento medicamentoso, exercícios físicos supervisionados, até cirurgia e transplante de pulmão.
Desde 2017, os pacientes mais graves da HPTEC inoperável lutam para ter seu medicamento incorporado ao SUS. De acordo com Paula Menezes, Presidente da ABRAF Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas, a incorporação do medicamento significa uma nova esperança e a chance de viver dignamente com uma doença que, em muitos casos, impossibilita seus pacientes até mesmo de pentear os cabelos e fazer outras tarefas simples do dia-a-dia.
Entender que a hipertensão pulmonar existe e que seu diagnóstico precoce pode trazer diversos benefícios para a vida do paciente é o mote para o ano de 2019. Precisamos conhecer os sintomas e lutar pelo diagnóstico precoce e pelo tratamento adequado para cada um”, finaliza Paula.
( Burson Cohn & Wolfe)
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]