23 de março, de 2019 | 10:13

Desequilíbrio total

Fernando Rocha

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Fernando RochaFernando Rocha
Mostrando um desequilíbrio inédito a favor dos clubes da capital em relação aos do interior, o Campeonato Mineiro entrou na reta final. Ontem o Cruzeiro recebeu o Patrocinense, no Mineirão; o Atlético, primeiro colocado da fase classificatória, com 28 pontos somados, enfrenta hoje o Tupynambás, de Juiz de Fora, que fez apenas 11, mas poderá até se classificar caso vença ou empate no tempo normal e, na decisão por pênaltis, tirar da disputa um dos favoritos.

No interior haverá apenas uma partida hoje: Boa Esporte x Tombense, em Varginha, enquanto o América vai enfrentar a Caldense, amanhã, no Independência.

Uma matéria publicada no jornal ‘Hoje em Dia’, de circulação estadual, assinada pelo jornalista Alexandre Simões, revela a diferença técnica entre os times do interior e os da capital, que chegou ao topo este ano.

Em 14 confrontos realizados em Belo Horizonte, foram 13 vitórias dos times da casa, o que equivale a um aproveitamento de 95%, o maior desde 2005, ano em que o Ipatinga sagrou-se campeão estadual ao derrotar o Cruzeiro em pleno Mineirão, por 2 a 1, quebrando um tabu de 41 anos sem que uma equipe do interior conquistasse o título estadual.

De lá para cá não surgiu nenhum outro clube do interior com a mesma ousadia do Tigre, que depois disso, afundado em dívidas, entrou em decadência e hoje luta para não ser novamente rebaixado à 3ª Divisão estadual. Desde 2005, ano em que o campeonato passou a ser disputado com 12 clubes e fase de classificação em turno único, a melhor marca obtida nos confrontos a favor dos três grandes da capital havia sido 90% de aproveitamento, em 2009, com 11 vitórias e dois empates em 13 partidas.

Falta união
Este desequilíbrio total entre os times do interior e da capital deverá continuar, sobretudo pela falta de interesse dos três ‘grandes’ e da Federação Mineira, os únicos que se mostram satisfeitos com o quadro atual da principal receita gerada pela disputa, onde predomina a divisão irracional da verba da TV.

É inadmissível que Atlético e Cruzeiro recebam algo em torno de R$ 12 milhões e América R$ 3 milhões, sobrando não mãos do que R$ 600 mil para cada um dos nove clubes do interior.

O que não dá para entender é a passividade dos dirigentes interioranos diante dessa situação, pois o natural seria que eles se unissem para exigir uma divisão mais justa do bolo, algo que ao menos lhes desse a possibilidade de montar equipes mais competitivas, de forma a poder brigar com os times da capital em melhores condições.

FIM DE PAPO
Se é que devemos mesmo fazer do limão uma limonada, ao menos Atlético e Cruzeiro conseguiram tirar algum proveito desse estadual, usando as partidas contra os fracos times do interior como laboratório visando a disputa de competições mais importantes, como a Libertadores. O Galo usou um time reserva na maioria dos jogos, e mesmo assim, chegou em primeiro e revelou o jovem Alerrandro, 19 anos, artilheiro da competição à frente de veteranos consagrados como Ricardo Oliveira e Fred.

O Cruzeiro, com o calendário mais folgado por não ter disputado a pré-Libertadores, usou mais a sua equipe principal, para dar mais ritmo de jogo aos novos contratados, Rodriguinho e Marquinhos Gabriel, que se encaixaram bem no esquema adotado por Mano Menezes. Venceu com facilidade o Huracán, na Argentina, pela Libertadores, e também está conseguindo recuperar o futebol de David, que, apesar de ter sofrido uma nova contusão, tornou-se uma boa opção para o treinador.

Entre os clubes do interior eu destaco o Tupynambás, que irá completar 108 anos em agosto próximo e só havia disputado a 1ª Divisão em 1934/69. A equipe subiu ano passado e desbancou clubes de tradição, como o Villa Nova. Há quatro anos o ‘Baeta’ foi assumido por um grupo competente, que está sabendo administrar os poucos recursos disponíveis, abrindo boas perspectivas de futuro para o clube de Juiz de Fora. O futebol imita a vida, e por isso, nele também as escolhas certas são fundamentais para chegar ao sucesso.

Uma postagem feita pela diretoria botafoguense, que utilizou o seu Instagram para comemorar a convocação de Bruno Gallart, podólogo do clube, para a seleção brasileira Sub-17, se transformou em alvo de ‘memes’ e zoeiras dos adversários e até mesmo de torcedores do próprio Botafogo, que tiraram sarro da empolgação do clube com a convocação.

Nas décadas de 1960/70, Botafogo e Santos eram a base da Seleção Brasileira, quando se destacavam no ‘Fogão’ nomes de craques como Garrincha, Vavá, Nilton Santos, Manga, Jairzinho e outros craques, que levaram o escrete nacional à conquista de títulos mundiais em 1958/62/70.

Hoje, os tempos mudaram e se comemora a convocação de um podólogo para uma seleção de base, algo irrelevante no contexto do seu brilhante passado de glórias. “O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha? O Sr. sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal? O Sr. sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?”. Vinicius de Morais, poeta, compositor, torcedor ilustre do Botafogo. (Fecha o pano!)
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