24 de março, de 2019 | 07:18

Empreendedorismo eco-responsável no Vale do Aço

Estilista Vanuza Bárbara lança o projeto "Uma linha para contar história", com a proposta de redução nos impactos ambientais da moda

Na semana que se encerra foi lembrado o Dia Mundial da Água (sexta-feira, 22). O bem indispensável à vida de qualquer ser vivo é tema frequente de ações entre poder público, ONG’s e ativistas do mundo inteiro. Nos últimos cinco anos, o assunto tornou-se mais amplo e profundo em Minas Gerais devido aos impactos ambientais provocados por acidentes das barragens das mineradoras. Na esteira das discussões pela preservação ambiental, a estilista ipatinguense, Vanuza Bárbara, faz da retórica da sustentabilidade ambiental uma prática. E isso já soma alguns anos.

"Engana-se quem pensa que nada pode fazer para minimizar os problemas ambientais e reduzir o impacto da poluição dos nossos rios e afluentes. Aliás, existe hoje uma nova e forte tendência de comportamentos, para um mundo melhor com iniciativas que começam em casa. Da hora em que acordamos até a hora em que dormimos geramos impactos ambientais. A nossa preocupação deve ser a de como reduzir esse impacto. Por isso, as ações precisam começar com os pequenos gestos, diários", observa Vanuza Bárbara.

E quem vê a estilista Vanuza, sempre bem vestida, pode até pensar que se trata de uma consumista de primeira. Mas aí mora o engano. A infância modesta da família de Bárbara exigiu criatividade da adolescente que queria diversificar o guarda-roupas.

Ela aprendeu que a troca de peças entre as irmãs era uma alternativa, e que suas próprias roupas eram base de customização para repaginar o visual. Ali "brotavam" ideias e desejos, que fariam dos desafios frente à escassez sua profissão.

Desde os 18 anos, Vanuza trabalha com moda e resolveu seguir nesta carreira um caminho de responsabilidade em duas esferas importantes: ambiental e social.
E os números impressionam: 90% das roupas das coleções da estilista são feitas com tecidos de refugo da indústria local do vestuário, ou seja, de restos de tecidos de fábricas que iriam para o aterro sanitário são reaproveitados por Bárbara.

Em 2015, cerca de 650 quilos de retalhos foram utilizados por Vanuza Bárbara. No ano passado o reaproveitamento chegou a 1.425 quilos. Considerando o aumento de 30%, em média, na reutilização destes refugos nas coleções da estilista, a expectativa é que até o fim deste ano Bárbara colabore com o meio ambiente evitando que 1.800 quilos de tecido parem no aterro sanitário, ou seja, uma contribuição de quase duas toneladas a menos de resíduos industriais no meio ambiente.

Para ela qualquer pedaço de tecido vira arte. Os retalhos ganham formas, cores, ora são tingidos, ora bordados. Um remendo aqui, outro ali e uma linda roupa se faz com reaproveitamento e respeito pelo ambiente onde vivemos.

Prática

A sustentabilidade não é apenas um discurso da estilista. Dentro da bolsa de Bárbara sempre tem um copo sanfonado e um canudo de vidro que leva para onde vai. Tudo para evitar o consumo de descartáveis que poluem a natureza.
Outra coisa importante em sua rotina é sobre o critério de lavagem das roupas. Antes de colocar a roupa na máquina de lavar ela usa a peça ao máximo, para evitar o uso desnecessário da água. "É preciso entender que a preservação começa com pequenos gestos", diz à reportagem durante visita à redação do Diário do Aço.

Estilista propõe nova coleção com menos impacto ambiental

Um dos trabalhos da estilista Vanuza Bárbara, na quinta-feira (21), que antecedeu o Dia Mundial da Água, foi com o time de bordadeiras do bairro Bom Jardim, em Ipatinga, que recebeu as informações do novo projeto da estilista. O grupo de mulheres, que participa de um trabalho social reconhecido no município, está inserido nos projetos de Vanuza.

O encontro teve o propósito de informar e reforçar a importância de cada um na engrenagem que representa o setor fashion da região.

"Divulgamos o projeto ''Uma linha para contar história''. A proposta está pautada na minimização dos impactos ambientais. A ideia da nova coleção é pesquisar o trem de ferro, este importante personagem da construção da região do Vale do Aço e de Minas Gerais. O trem que traz muitas histórias no nosso imaginário, que traz notícias, traz encomendas, nos leva para os sonhos de recomeçar, de encontrar, além é claro, de trazer a construção de belas e sofisticadas estações pelas Minas Gerais. Tudo isso expresso em cores, tecidos, linhas e texturas", detalha a estilista.
Vanuza explica que a linha será a forma de expressão nos bordados, na costura, no traço das fotografias, dos desenhos, das esculturas. "Ela nos levará a este contar de histórias", observa.

O projeto "Uma linha para contar história" prevê, entre outras ações, a pesquisa e investigação das estações de trem mineiras, sua arquitetura, histórias, encontros, despedidas e sua importância na construção da cidade de Ipatinga, exposição de uma mostra com 40 looks, além de cenários, fotografias, textos e vídeo, circulação da exposição nas cidades e estações de Ipatinga (Galeria do Centro Cultural Usiminas e Estação Memória), Timóteo (Aperam) e Belo Horizonte - Museu da Moda. (Colaborou a jornalista Sílvia Lima).