16 de março, de 2019 | 11:00

Cumpre repensar a educação e a segurança

Margarida Drumond de Assis *

Muitas das experiências exitosas na Educação, hoje, pautam-se no desejo que o estudante tem de aprender e no seu contato amigo e franco com os docentes e outros do ambiente escolar e, claro, associando também a participação da família. A formação não é uma via de mão única e sim a junção desses três atores aos quais ainda importa juntar-se a presença do Estado, oferecendo condições mínimas de respeito aos profissionais da Educação, justos salários e segurança no trabalho, e, aos alunos, uma boa aprendizagem e um tranquilo engajamento social. Somente assim, o ambiente será inspirador e seguro para que os estudantes desenvolvam competências e habilidades, pondo em prática seu poder criativo. Caso contrário, como podem os pais ir com tranquilidade para o trabalho se não veem segurança quanto ao local onde ficou o filho, se há o risco, ali, de ele ser morto? É o que nos indagamos quando vemos a nova barbárie que deixou perplexo o Brasil, na manhã de quarta-feira (13), na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), por parte de dois de seus ex-alunos.

A tragédia no interior da "Raul Brasil", conforme outras que se deram em Realengo (RJ) e em Goiânia (GO), para citar algumas, é sinal de que algo muito errado ocorre na sociedade e no seio das famílias. Educação e segurança devem estar entre as prioridades do governo, e as famílias devem harmonizar-se mais. Precisamos de mais diálogo e afeto, diante das dificuldades a serem superadas no dia a dia. Inenarrável o pânico que decerto atingiu a todos naquele momento, quando, em pleno intervalo das aulas, alunos e funcionários se viram alvo de tiros e ataques, até mesmo por machadinha, arco e flecha, e eles compondo aquele cenário de horror. Ninguém imaginava aquilo, mas era fato: por volta de 9h30, após entrarem livremente pelo portão, Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25, estavam, lá, encapuzados e atacando, aleatoriamente. Primeiro, um deles chega e faz a primeira vítima, a coordenadora pedagógica, Marilena Umezo, também a orientadora, Eliana Regina; segundos após, entra o comparsa que também atira naquelas vítimas. E os dois prosseguem o insano ataque. Alguns alunos correm aos gritos pelo portão, buscando abrigo, e vizinhos os acolhem; outros se escondem na cozinha; e há os que, no desespero, pulam o muro de três metros da escola, tudo para escapar à morte que rondava suas vidas. Não adiantou o tio de Guilherme, Jorge Antônio de Moraes, proprietário de uma loja de veículos, perto da escola, interferir; foi ele a primeira vítima minutos antes de os dois invadirem a Raul Brasil. Jorge foi baleado pelo sobrinho, vindo a óbito mais tarde no Hospital das Clínicas, na capital paulista.

Fatos tais e outros que temos visto frequentemente, neste início de 2019, na sequência dos de anos anteriores, parecem mostrar mesmo que a violência tem se apresentado como algo normal. Porém, não pode ser assim, devemos encontrar meios que tragam de volta a harmonia entre as pessoas, a segurança nas ruas, o gosto de trabalhar sem o risco de estar num palco de tragédia. Não podemos aceitar que, em plena manhã, em uma escola, alunos e funcionários tenham subitamente suas vidas ceifadas. Além das duas funcionárias, faleceram cinco alunos, Caio Oliveira e Caio Lucas, de 15 anos, Douglas Celestino e Samuel Melquíades, de 16, e Claiton Ribeiro, de 17; ainda o tio de Guilherme e os próprios assassinos. Conforme planejado por ambos, amigos desde a infância, após cometerem o ataque, um mataria o outro, vindo a seguir um suicídio. Ao verem o contingente policial que para lá se dirigira rapidamente, praticam o bestial propósito de pôr um fim à vida de si mesmos: Guilherme mata Luiz Henrique, e, em seguida, comete suicídio.

Em consequência de mais este trágico episódio em nosso país, vai se solidificando a certeza de que educação e segurança têm de andar juntas, e a primeira deve constar não apenas do ensino de regras gramaticais, a tabela periódica e tantos outros ensinamentos, deve, sim, ser integral, promovendo a formação do humano, da solidariedade. Seria como que estarmos atentos às teorias das Pulsões do psicanalista austríaco, Sigmund Freud, segundo quem, em cada ser há eros e thanatos; Eros, com propulsão pela vida, o amor; já, thamatos, leva à destruição do que é bom, do que é vivo. Portanto, só a partir de uma formação completa, tais elementos seriam percebidos, advindo uma harmoniosa sobrevivência.

* Jornalista, professora e autora de diversos livros, dentre eles Além dos versos e Padre Antônio de Urucânia, a sua bênção. [email protected] / www.margaridadrumond.com
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