
01 de março, de 2019 | 14:15
Vereador Wanderson Gandra e mais dois são denunciados
Investigação aponta que gabinete mantinha dois fundos abastecidos com vencimentos pagos a assessores com o dinheiro público
Wôlmer Ezequiel
Sede do MP, onde também funciona o Gaeco, no Centro de Ipatinga, esteve movimentada essa semana, com depoimentos
Atualização às 16h13 
O Ministério Público ofereceu, nessa sexta-feira (1), denúncia contra o vereador Wanderson da Silva Gandra (PSC), de 40 anos, e mais duas pessoas, investigadas no âmbito da Operação Dolos, que apura o mau uso do dinheiro público nos gabinetes de vereadores da Câmara de Ipatinga. Além de Gandra, foram denunciados um motorista e uma advogada, ambos de 45 anos e ligados ao vereador.
Outros três vereadores estão sendo investigados pela mesma prática ilícita. Todos são acusados de crimes como peculato, falsidade e lavagem de dinheiro, delitos esses decorrentes da exigência de devolução de parcela dos vencimentos pagos a servidores da Câmara Municipal e assessores comissionados.
Conforme o relatório do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), na ação penal proposta, a Justiça da Comarca decretou a prisão preventiva e expediu mandados de busca e apreensão em desfavor dos vereadores investigados, Rogério Antônio Bento (PSL), Luiz Márcio Rocha Martins (PTC) e Paulo Cézar dos Reis (Pros), quando foi denunciado que o vereador Wanderson Gandra também praticava as mesmas ações ilícitas em seu gabinete. Foi pedida então a ordem para busca e apreensão também contra o denunciado Wanderson Gandra, o que foi acatado pela Justiça.
Logo após a operação em busca de provas, os investigadores apuraram que o vereador articulou reuniões com assessores para alinhar depoimentos que seriam prestados no âmbito das investigações. Uma das reuniões com assessores e ex-assessores foi registrada em imagens pelos investigadores, realizada na residência de uma ex-assessora do parlamentar, dia 17 de fevereiro, no bairro Forquilha. A ex-assessora é uma das denunciadas pelo Ministério Público. Relata o Gaeco que, ao fim da reunião, um primo do vereador descobriu a presença dos investigadores e os cercou alegando que era polícia. Os policiais se identificaram e prenderam o homem. O vereador, que saía do local em um veículo confirmou que se tratava de um parente seu.
Várias das pessoas ouvidas na sede do Gaeco, no Centro de Ipatinga, confirmaram que devolviam partes de seus vencimentos ao gabinete do vereador, diz o relatório. "Ficou demonstrado que o vereador denunciado, Wanderson Gandra, estabeleceu em seu gabinete, na Câmara de Ipatinga, um sistema de exigência de vantagens indevidas de seus assessores e também de pessoas que laboravam para o município, cujos cargos foram obtidos por indicação do parlamentar", afirma o Gaeco.
Dos quatro vereadores investigados, Luiz Márcio, Gandra e Rogério estão presos preventivamente na Penitenciária Dênio Moreira de Carvalho, em Ipaba. Paulo Reis está foragido desde o dia 14 de fevereiro, quando foi decretada sua prisão. Um de seus assessores também está preso.
Fundos
As investigações apontam que Gandra criou dois fundos em seu gabinete, um de campanha e outro de gabinete, os quais eram abastecidos com o recolhimento de parcelas dos vencimentos pagos aos assessores. "O dinheiro era utilizado, tanto para pagar despesas de gabinete, como também para adimplemento de obrigações particulares do vereador Wanderson Gandra, seja para o pagamento de funcionários e manutenção de veículos de sua empresa, ou mesmo para utilização em campanhas eleitorais", observa o relatório.
As testemunhas relataram que havia um motorista da empresa, A.J.S., que prestava serviços para o gabinete diariamente, mesmo não possuindo vínculo com a Câmara Municipal. O salário dele era pago com os recursos do "fundo de gabinete".
Os gastos com manutenção de um ônibus e uma van também eram arcados com os recursos constantes nesses fundos. "Em outras vezes, como asseverado pelas testemunhas, o dinheiro simplesmente desaparecia de suas respectivas "caixinhas", sem nenhum registro de destino, ficando claro que o vereador se apropriava dos valores", diz o texto.
Entre outros aspectos, a investigação concluiu que as práticas eram mantidas desde o início do exercício do mantado do vereador e repetia-se mensalmente. Nesse sentido, os assessores já eram contratados com a condição de que devolveriam parte dos seus salários ao vereador, sob pena de demissão do cargo, caso não o fizessem. Cada vereador em Ipatinga pode nomear até oito assessores por gabinete.
O documento cita que 12 assessores, que se revezaram nas vagas do gabinete de Wanderson Gandra, ao longo dos anos, foram obrigados a devolver mensalmente, ao gabinete, entre R$ 500 e R$ 1.000 de seus vencimentos.
"Importante registrar que há áudio divulgado no grupo de WhatsApp dos assessores parlamentares, no qual o denunciado, Wanderson Gandra, informa que quem não cumprisse o que ele mandava, seria exonerado", informa o relatório.
Anotações
Conforme a investigação, o registro dos repasses era feito pela chefia de gabinete que tinha a atribuição de anotar em um caderno e também em uma planilha eletrônica de notebook, as movimentações ocorridas mês a mês. Tanto o caderno quanto o notebook foram retirados da câmara no começo de 2019, mas encontrados no cumprimento dos mandados de busca e apreensão, cumpridos na residência do vereador, em 15 de fevereiro. O caderno teve páginas arrancadas e o computador foi formatado.
Os investigados também foram denunciados por coação e "grave ameaça" contra ex-assessores que prestaram depoimento na investigação feita pelo Gaeco. As ameaças eram feitas sempre pelo motorista do vereador, também denunciado na ação.
No fim do relatório, Wanderson Gandra foi denunciado por 97 vezes no artigo 316 do Código Penal (Exigir, para si ou para outrem, vantagem indevida, delito com pena de reclusão, de dois a oito anos); doze vezes no artigo 344 (Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, testemunha de processo judicial, policial ou administrativo, delito que tem pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa) e artigo 347 (Inovar artificiosamente, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito, cuja pena é detenção, de três meses a dois anos, e multa).
Mais:
Vereador Wanderson Gandra presta depoimento ao MP
Câmara de Ipatinga busca experiências para Comissão Processante
Justiça nega liminar de Habeas Corpus do vereador Luiz Márcio
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
Marcelo
02 de março, 2019 | 15:32É impressão de todo mundo ou o Paulo Reis está sendo protegido? Ele estar foragido até hoje já virou piada. O que diz a deputada e esposa Rosângela Reis? Tem que apertar esse povo. Tem que prender, perder o cargo e devolver o dinheiro ROUBADO.”
Leoncio Simoes
02 de março, 2019 | 04:53Este e o retrato da political brasileira,35 partidos
Cada um mais corrupto que o outro.”