31 de janeiro, de 2019 | 14:00

Mineiros e minérios

Edmar de Souza Moreira *

Solo abençoado este de Minas Gerais que, além de fértil, carrega em suas entranhas metais preciosos e importantes para o desenvolvimento das tecnologias que hoje impulsionam a humanidade. Justamente essas minas gerais é que atraem os investidores ambiciosos que desejam explorar nossa imensa riqueza natural obtendo o maior lucro possível, mesmo que para isso importe em agredir a natureza, desprezar vidas humanas e menosprezar os seus trabalhadores.

O Vale do Aço está inserido no quadrilátero ferrífero de Minas Gerais e nele existem duas indústrias siderúrgicas importantes nas cidades de Timóteo e Ipatinga que, com Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso, formam o coração do Vale do Aço. Ao redor delas, nas zonas rurais dos municípios que compõem a nossa microrregião, desenvolve-se uma forte indústria extrativista, desde o minério de ferro até das pedras preciosas ou semipreciosas, que abundam por aqui.

Há muitos anos nosso meio ambiente é agredido. Mas enquanto a lama escorre lá em Brumadinho assistimos as frotas das modernas locomotivas que passam por aqui diuturnamente arrastando milhões e milhões de vagões entulhados de minério em forma de um pó que desprende uma poeira preta que escurece tudo em volta. É esse o mesmo pó que abarrota os pátios das usinas siderúrgicas de nossa região onde é parte primordial na fabricação de aço. O que sobra vira escória siderúrgica ou se espalha sobre as nossas cidades em forma de nuvens poluídas e ácidas que evaporam das enormes chaminés das usinas que as expelem continuamente. Esse é o pó que tinge os nossos telhados, escurece o chão de nossas casas e penetra por nossas fossas nasais indo direto para os pulmões.
Respiramos sem saber o mal que esse ar está nos causando. Ele já foi pior, melhorou, mas ainda não é puro como necessitamos.

Coronel Fabriciano, Timóteo, Ipatinga e Santana do Paraíso deveriam contar com equipamentos modernos de medição da qualidade do ar e os resultados deveriam ser diariamente exibidos junto aos semáforos das ruas dessas cidades e pela imprensa local. A população deveria ser permanentemente informada das consequências dos índices da poluição do ar e as medidas a serem tomadas para que sejam minimizadas ou evitadas. Deveriam soar sirenes quando atingissem picos elevados. Exagero? A lama que nos atinge é volátil. Não mata sufocando ou esmagando. Não mata rápido como uma avalanche de lama. Mata enquanto respiramos e adoecemos. Isso, mais devagar ou mais rapidamente conforme a qualidade tóxica do ar que nos rodeia.

A coisa mais abençoada que existe nessa terra de Minas Gerais é o seu povo trabalhador e hospitaleiro, que adora a vida saudável. Os governantes deveriam zelar mais pelos interesses de seus habitantes. Depois da terrível catástrofe a companhia Vale está anunciando que vai acabar com as suas barragens criminosas e reduzir sua produção. Entramos numa nova era desse setor. Então que as nossas indústrias siderúrgicas cessem a poluição do nosso ar e respeitem e protejam o nosso meio ambiente que é tão maravilhoso. Os interesses pelos lucros não devem estar acima dos interesses sociais e ambientais.

* Radialista aposentado. Comunicador social.