21 de dezembro, de 2018 | 17:00
O álcool nas comemorações familiares
Glaucilene Campos Godinho *
A dependência é uma doença de escolha progressiva”O álcool compromete a qualidade das relações, pois rouba a consciência e sensatez da pessoa”
Fazemos parte de uma cultura na qual o álcool é componente fundamental de celebrações. As pessoas iniciam o uso de álcool por causa de um costume social liberado, em festas e reuniões de família. A sociedade, de uma forma geral, banaliza o uso das drogas lícitas como o tabaco e o álcool. Percebese que a família, para comemorar a passagem da fase de seus filhos da infância para a juventude incentiva o uso de álcool nos festejos.
Dessa forma iniciase o uso esporádico, que ao passar do tempo, pode se tornar um uso regular. Esses jovens convivem com outros, que estão passando pela mesma fase da vida e reproduzem o comportamento de fazer uso das drogas lícitas, para socializar com seus grupos de amigos, iniciando um uso regular que desencadeia a dependência. O uso inicia-se para comemorar, socializar, relaxar, descontrair de forma social e eventual que vai se intensificando e se tornando diário, desencadeando uma dependência, que está relacionada a fatores como idade, sexo, história de vida e representação do álcool.
Com o aumento do uso de álcool aparecem sintomas de embriaguez que comprometem a qualidade das comemorações. Para diminuir esses sintomas, pode-se iniciar o uso de outras drogas como a cocaína que de certa forma aumenta a tolerância do organismo ao álcool, minimizando os seus efeitos depressores. Dessa forma, inicia-se o uso das drogas ilícitas. É possível perceber que uma droga puxa a outra e os motivos são diversos, de pessoa para pessoa. A dependência é uma doença de escolha (pode ser inconsciente, impensada) progressiva.
Estamos em uma época festiva, de comemorações, ocasião ideal para encontrar, rever amigos e familiares. Vale a pena analisar a forma como estamos nos preparando para essas datas festivas de final de ano. Temos no núcleo familiar crianças e adolescentes em desenvolvimento, absorvendo os conceitos, valores e modo de ser do seu principal grupo de convívio e referência a família.
Trabalhar de forma preventiva ao uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas ainda é a forma mais efetiva. Somos condicionados a falsa ideia de que festa sem álcool não tem graça”.
O álcool compromete a qualidade das relações, pois rouba a consciência e sensatez da pessoa, alterando o humor e emoções que podem provocar situações indesejadas. Vale a pena refletirmos sobre o sentido do natal, da família, do ano novo que se inicia, rever projetos de vida esquecidos dentro da gaveta e retomar planos que foram abandonados pelo caminho. E só damos conta de fazer isso quando estamos sóbrios e conscientes.
Nosso meio é influenciado diretamente pelo nosso modo de ser, nossos filhos aprendem mais com nosso comportamento do que com nosso falar. Qual o exemplo temos vivido? O quanto temos investido para proteger nossos familiares das drogas?
De acordo com pesquisas, a dependência de drogas ilícitas começa com uso de drogas lícitas dentro de casa com a aprovação da família. O uso principalmente de álcool gera uma sensação de prazer devido as alterações orgânicas que causa no organismo do indivíduo. Essa sensação fica registrada no cérebro. Toda situação de frustração que esse sujeito passa a viver após esse contato primário com as drogas, produz no organismo a vontade de usar, e em alguns casos, principalmente o álcool, e posteriormente outras drogas para aliviar e/ou minimizar o sentimento depressivo causado pela frustração.
Logo percebe-se que amplia o motivo do uso de álcool, ora para comemorar, festejar e socializar, ora para fugir de uma sensação de depressão. O uso de álcool pode abrir a porta de um caminho cheio de dor e sofrimento. Somos livres para fazer nossas escolhas, mas uma vez sacramentadas essas escolhas, estamos passivos às consequências. De acordo com Sartre "viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências". Que sejamos maduros para escolhermos a forma que iremos festejar esse fim de ano, conscientes que toda escolha tem uma consequência e que nossa escolha influencia diretamente as pessoas que nos cercam e amamos.
* Psicóloga e palestrante da Comunidade Terapêutica Fazenda Água Viva
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]











