23 de novembro, de 2018 | 10:01

Entidades lutam para implantar trens turísticos em Minas

Criação de linhas para transporte de passageiros, no entanto, depende da divisão de espaço com transporte de cargas.

Ricardo Barbosa - ALMG
Um dos projetos debatidos é para implantação de linha turística ligando o bairro Belvedere, em Belo Horizonte, ao complexo de InhotimUm dos projetos debatidos é para implantação de linha turística ligando o bairro Belvedere, em Belo Horizonte, ao complexo de Inhotim

Já existem formatados pelo menos três projetos para implantação de circuitos turísticos de trens de passageiros no Estado, mas a viabilidade de criação dessas linhas ainda está sendo discutida com as concessionárias dos trechos e com a própria Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

O assunto foi debatido durante audiência da Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quinta-feira (22/11/18).

A considerar o que foi dito durante a reunião, o principal entrave para o projeto dos trens turísticos é convencer as concessionárias de que é possível dividir as linhas, hoje praticamente tomadas pelo transporte de carga, com o transporte de passageiros.

Um dos projetos, desenvolvido pela Oscip Apito em parceria com a ONG Cidades, é para implantação de linha ligando o bairro Belvedere, em Belo Horizonte, ao complexo de Inhotim, local muito visitado por turistas do mundo todo.

De acordo com o presidente da Apito, Sérgio Motta de Melo, seria uma linha de 51 quilômetros de extensão, que utilizaria vagões abandonados do antigo trem de passageiros Vera Cruz, que ligava Minas ao Rio de Janeiro. O trem começaria a operar progressivamente até atingir um total de 10 vagões de luxo, com capacidade para 780 passageiros.

Alta densidade de cargas dificultaria transporte de passageiros

Na opinião de Sérgio Motta de Melo, trata-se de um projeto viável, que já tem inclusive investidores dispostos a bancar. Mas o diretor de Relações Institucionais da MRS Logística, empresa concessionária do trecho, Luiz Gustavo Bambini de Assis, diz que a implantação é extremamente complexa, pois se trata de um trecho de alta densidade de carga, que escoa grande parte da produção brasileira de minério.

Para defender sua posição, Luiz Gustavo fez um histórico da atuação da empresa em Minas, Rio e São Paulo, destacando o transporte de mais de 170 milhões de toneladas úteis de minério por dia.

Ele lembrou que no contrato de concessão da MRS há a previsão do transporte de passageiros nessas ferrovias, "desde que não inviabilize o transporte de cargas", conforme argumentou. Na opinião do diretor, quando se trata de um trecho abandonado ou em locais com menor densidade de cargas é muito mais fácil.

Sérgio Motta de Mello questionou a densidade de cargas mostrada pelo diretor da MRS. Segundo ele, nesse trecho até Inhotim há vários intervalos entre um trem de carga e outro, quando então poderia circular o trem de passageiros.

Passageiros - O presidente da Comissão Pró-Ferrovias Mineiras, deputado João Leite (PSDB), disse que entende a preocupação da concessionária, mas reafirmou que não vai abrir mão da luta para recuperar o modal ferroviário em Minas como opção para o transporte de passageiros.

O deputado lembrou que, em dezembro, será concluído o relatório final da comissão extraordinária e que, em 2019, a Comissão de Transportes da ALMG deve passar a cuidar dos assuntos relacionados à questão ferroviária. "Mas estaremos sempre vigilantes e podemos, no futuro, retomar a comissão extraordinária, se não houver avanços", disse João Leite.

Projetos também esbarram em exigências da ANTT

Durante a audiência, também foram discutidos projetos para implantação do chamado Trem Rio Minas, na rota Cataguases - Além Paraíba - Três Rios (na Zona da Mata); e do Expresso do Rei, circuito turístico que sairia de Lavras, passando por Três Corações até Varginha (Sul de Minas), com vários trechos controlados pela empresa VLI Logística.

O diretor de Relações Institucionais da VLI, Flávio Henrique Rodrigues Pereira, destacou que qualquer projeto para trens de passageiros deve ser autorizado pela ANTT.

No caso do trem que iria de Cataguases (MG) a Três Rios (RJ), ele afirmou que já foram empenhados vários itens como locomotivas e vagões e que outras demandas para viabilizar o projeto serão estudadas. Sobre o trem que partiria de Lavras, o diretor da VLI afirmou que a empresa tem interesse em devolver o trecho para a União.

O diretor da ONG Trem, André Tenuta, confirmou que a empresa tem colaborado com os projetos. Mas afirmou que a manutenção das linhas deixa muito a desejar. Para ele, o estado precário das linhas férreas cria um impasse com a própria ANTT, que passaria a fazer exigências enormes para liberar o transporte de passageiros.

"No trecho Cataguases - Três Rios, por exemplo, a ANTT exige que sejam substituídos 90% de todos os dormentes dos 150 quilômetros da linha", lamentou. Na sua opinião, se fosse realmente necessária essa troca, a linha já não deveria estar sendo usada para transporte de cargas há muito tempo. De acordo com André, essa era a linha por onde a VLI transportava bauxita até 2015.

O diretor da ONG Trem lembrou que as empresas deveriam manter as linhas em condições operacionais, até que sejam devolvidas, mas, na prática, segundo ele, isso não ocorre.

Mediador - O deputado João Leite destacou que toda a questão envolvendo as concessões ferroviárias está sendo acompanhada de perto pela Justiça, por vários órgãos. O assessor da Procuradoria da República, Luiz Eduardo Pereira de Oliveira, disse que o Ministério Público Federal é um mediador, que leva em consideração a posição das empresas, mas também a necessidade da população.

"Mas ter hoje 2/3 da malha ferroviária, no Brasil, abandonada, é um crime", ponderou.

Requerimentos - Ao final da reunião, foram aprovados requerimentos com pedidos de informações e providências às duas empresas, MRS Logísitica e VLI, e a vários outros órgãos envolvidos com a questão da implantação dos trens de passageiros em Minas.

(ALMG)
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