19 de novembro, de 2018 | 00:02
Nada fácil
Fernando Rocha
O futebol - como dizia na década de 1960 o ex-técnico Gentil Cardoso -, é uma caixinha de surpresas”. Sem dúvida, é. Muito pela quantidade de fatores que envolvem o jogo, dando-lhe uma complexidade bem maior quando se trata de prognósticos em relação aos outros esportes.O que ocorreu com o América no último fim de semana é um bom exemplo disso, pois conseguiu o improvável, até mesmo para o que imaginaria o seu torcedor mais apaixonado, ao derrotar o Santos, mesmo que tenha sido em casa, por 2 x 1, uma equipe tecnicamente superior, reacendendo assim as esperanças de escapar novamente do rebaixamento à Série B.
Coisas do futebol, mas, sobretudo, de times considerados pequenos”, mas de muita tradição. Duas vezes neste ano o América derrotou o Peixe, time onde jogaram Pelé e Neymar, mas deixou no caminho pontos irrecuperáveis, como na última derrota em pleno Independência, para o lanterna e rebaixado Paraná.
E podem ter certeza que os colegas da imprensa paulista já dão o Palmeiras como vitorioso, antes do confronto de amanhã diante do Coelho, em São Paulo, que pode definir antecipadamente o título nacional.
Não vai ser nada fácil a vida dos palmeirenses, se quer mesmo dar a volta olímpica e comemorar o merecido título nacional diante da sua torcida. ”De todos os jogos da próxima rodada do Brasileirão, a 36ª, o líder Palmeiras é quem tem a tarefa mais fácil, em casa, contra o América, o primeiro dos últimos”. Juca Kfouri.
Recorde à vista
Pela primeira vez desde que se iniciou a era dos pontos corridos, em 2003, a Série A nacional pode ter o recorde de cinco clubes nordestinos na disputa do próximo ano.
Além do Bahia, já garantido, Sport e Ceará estão próximos de também escaparem do rebaixamento, cabendo ao Vitória o vexame da vez, com a queda quase consumada, que seria compensada pelo acesso já garantido do Fortaleza, mais o CSA de Alagoas, também com boas chances de subir.
Na penúltima rodada, o CSA do gordinho Walter e do ponta Neto Berola (ex-Galo) deixou escapar em casa o acesso antecipado, ao perder de 1 a 0 para o Avaí, frustrando a sua torcida.
Mas o clube alagoano depende só de si mesmo, pois na última rodada, que será disputada neste sábado, vai a Caxias do Sul enfrentar o já rebaixado Juventude, enquanto a Ponte Preta encara outro concorrente direto, o Avaí, em Florianópolis, escapando apenas um deste confronto.
Os dirigentes são unânimes em apontar a Copa do Nordeste como o fator mais importante para o crescimento do futebol na região, cujas equipes são as que menos ou nada recebem de patrocínio da televisão, que privilegia os times do Sul e Sudeste do país.
É muito boa, para o futebol brasileiro, a chegada em maior número dos clubes do Nordeste. Ao menos vamos ver estádios lotados, e muita festa de um povo sofrido que ama o futebol. Afinal de contas, a vida depende não é só trabalho, precisa do circo, e quanto mais lotado ele estiver, melhor.
FIM DE PAPO
No caso do Fortaleza, que obteve o acesso e o título antecipado da Série B há algumas rodadas, o que fez a diferença mesmo foi a carta branca da diretoria dada ao detalhista Rogério Ceni. O técnico chegou a interferir até mesmo na cozinha, onde a disposição das saladas no bufê de refeições que eram servidas aos jogadores não lhe agradava.
Ceni mandou separar cenoura em um pote e beterraba em outro, e assim sucessivamente, para que os jogadores tivessem a liberdade de escolha. E nem o azeite escapou da sua lupa, deixando de ser colocado antecipadamente nos pratos.
Baseado em sua experiência de ex-jogador num grande clube como o São Paulo, deu pitacos também em questões logísticas, incluindo o gramado do Centro de Treinamentos do tricolor cearense e a montagem do time, cuja folha salarial é baixa, se comparada com os de clubes Série A, girando em torno de R$ 1,2 milhão mensais.
Ainda na Série B, quem também deu a volta por cima na carreira, que andava em baixa, foi o técnico Ney Franco, cujos laços familiares na região são enormes, por ser natural de Vargem Alegre, campeão mineiro de 2005 pelo Ipatinga, de onde saiu para dirigir alguns dos principais clubes do país, chegando à seleção brasileira Sub-20.
Morando nos Estados Unidos, onde tem negócios, Ney Franco atendeu um chamado do Goiás, que há três anos lutava para retornar à Série A, conseguindo alcançar este objetivo na última rodada, ao derrotar o Oeste, fora de casa, por 3 x 1.
Ney Franco, 52 anos, pessoalmente é uma pessoa muito educada e inteligente. Chegou ao Goiás na nona rodada, quando o time tinha dois pontos ganhos e estava na zona de rebaixamento. Ele mesmo disse ao Sportv: Este foi um dos trabalhos mais difíceis da minha carreira”.
No próximo sábado, com todo direito, a torcida esmeraldina vai lotar o Serra Dourada para o jogo contra o Brasil de Pelotas, e fazer a festa do acesso à elite do futebol nacional. Assim é o futebol: nada como um dia depois do outro. (Fecha o pano!)
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