10 de novembro, de 2018 | 10:42

Ficam os dedos

Fernando Rocha

Divulgação
O assunto mais comentado da semana no âmbito do futebol estadual foi a declaração de um diretor da área financeira do Atlético, que, ao detalhar as dificuldades que o clube enfrenta no momento atual, com salários dos jogadores atrasados há dois meses, sugeriu a venda do percentual que sobrou de participação acionária do clube em um shopping da capital mineira, visando o equacionamento de dívidas urgentes.

O Atlético teria hoje um passivo de aproximadamente R$ 600 milhões, embora tenha renegociado com o governo federal a maior parte desse valor, que é referente a dívidas fiscais consolidadas.

Mas existem pendências com fornecedores e dívidas trabalhistas em fase final de execução, além de vários milhões já pendurados no prego mais alto da FIFA, que pode lhe render pesadas punições a qualquer momento.

Restam-lhe 49% do shopping, avaliados em R$ 300 milhões – os outros 51% foram vendidos para custear parte da construção do seu futuro estádio -, mas para torrar tudo a diretoria atual vai precisar obter uma nova autorização do Conselho Deliberativo do clube, o que não vai ser nada fácil, embora, em tese, tenha o apoio da maioria dos conselheiros.

Diz o ditado popular que “vão-se os anéis, ficam os dedos”. Este é um dos argumentos usados por aqueles que defendem a medida sugerida pelo diretor alvinegro, mas há uma clara divisão da torcida a este respeito.

Fim da mamata
No cenário nacional, o tema mais comentado foi a declaração do polêmico cartola Mário Celso Petraglia, o mandachuva do Atlético-PR, de que a Rede Globo não mais estaria disposta, a partir de 2020, a patrocinar os campeonatos estaduais.

A se confirmar, a notícia poderá significar no futuro próximo o fim da mamata que dá sustentação às obsoletas e arcaicas federações estaduais, e ganhou mais repercussão ainda pelo fato do cartola paranaense ser um inimigo declarado da atual direção da CBF, além de viver às turras com a TV Globo, posicionando-se contrário ao monopólio da emissora no tocante aos direitos de transmissão de TV.

Petraglia apoiou abertamente o presidente eleito, Jair Bolsonaro, de quem seria um dos principais interlocutores na área do futebol, e poderia, no futuro, liderar um movimento para a formação de uma liga independente, pondo fim à dinastia da CBF, que ficaria confinada a administrar apenas a Seleção Brasileira, como acontece nos principais países da Europa.

FIM DE PAPO
O fim dos campeonatos estaduais poderá ser um golpe de morte para as federações estaduais, sustentadas com parte do dinheiro advindo da venda dos direitos de TV. E abriria mais datas para as competições nacionais e internacionais, desafogando o calendário.

Mas isso não será feito da noite para o dia, já que há contratos em vigor para cumprir, como, por exemplo, os do nosso estadual, além do Gaúcho e o Paulista, que só terminam em 2021. No Rio de Janeiro, a Globo e a Federação local têm contrato até 2024. O acordo feito em separado com o Flamengo termina em 2019.

A direção da TV Globo não mencionou o nome de Mário Celso Petraglia em sua nota explicativa sobre o assunto, mas não desmentiu a afirmação dele sobre o fim dos estaduais. Disse apenas que é preciso haver mudanças no atual formato de competições nacionais, e que vai discutir o assunto no momento oportuno com as entidades e demais atores envolvidos.

• Uma ideia comentada nos bastidores seria diminuir aos poucos as competições regionais, no famoso “jeitinho” brasileiro. Uma data a menos em um ano, outra no seguinte, até acabar de vez com este monstrengo que ocupa um terço das datas disponíveis do atual calendário de competições do futebol brasileiro. Mas essa ideia esbarra nos interesses do grupo Globo, que não estaria disposto a assinar novos contratos.

A direção da CBF depende do voto das federações para manter o poder e o domínio sobre o futebol nacional. As pressões dos cartolas que comandam essas entidades, verdadeiros cabides de emprego que só existem aqui no Brasil, certamente já estão vindo de todos os lados, a fim de que não se concretize qualquer tipo de mudança. Aqui nos nossos grotões banhados pelo Rio Doce, é comum ouvir alguém dizer que “se o capim é bom e a moita verdinha, a vaca não sai do lugar de jeito nenhum”. (Fecha o pano!)
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