30 de outubro, de 2018 | 14:30

Mastigação e nutrição

Nayara Santos Zímer *

“Quanto mais o alimento é mastigado, naturalmente aumenta-se a concentração no ato de comer e a duração é prolongada”

Acredita-se que a corrida contra o tempo, na qual se encontra grande parte da população, contribua para o surgimento de indivíduos tensos, ansiosos, competitivos, robotizados, ao mesmo tempo em que não permite que vivam no contexto da realidade. Diante do cenário atual, no qual a alimentação guarda estreita relação com a pandemia da obesidade e não muito menos com a ansiedade, é de se refletir não somente o “quanto”, mas o “como” se come a fim de se buscar melhor saúde e qualidade de vida.

No que diz respeito à nutrição, no Brasil, o quarto capítulo da segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira tendo como título “O ato de comer e a comensalidade” traz três recomendações acerca do tema que implicam em condições que favorecem o comer devagar, a mastigação eficiente, a apreciação dos sabores e texturas dos alimentos bem como estimulam um resgate às preparações culinárias feitas em casa, trazendo à tona, de uma forma ou de outra, o tema da mastigação.

Não somente a alimentação está relacionada ao prazer, mas a própria mastigação em si. Quanto mais o alimento é mastigado, naturalmente aumenta-se a concentração no ato de comer e a duração é prolongada. Assim, é usufruído todo o prazer proporcionado pelos diferentes sabores e texturas dos alimentos. A combinação de odores e gostos percebidos por nossos narizes e papilas gustativas, com as contribuições adicionais da temperatura, da ardência (o “picante” dos temperos) e da textura (a estrutura e a sensação da comida na boca) resulta no que denominamos sabor, experimentado por meio da mastigação. Mas será que com uma mastigação rápida ou quase ausente dos alimentos, é possível saboreá-los?

Estudos científicos realizados no ano de 2017 mostram que a baixa mastigação está associada à deficiência da memória e da função de aprendizagem. Inicialmente e anterior ao ato mastigatório, são utilizados os sentidos da gustação e olfação, ambos fortemente ligados às funções emocionais e comportamentais do sistema nervoso.

Muito além de perder o sabor na rápida mastigação, estão perdas da saúde esofágica, surgimento de hérnias, refluxo, obesidade, redução na qualidade da absorção dos alimentos, maior esforço gástrico, maiores perdas intestinais e consequentemente menor nutrição. Mastigando devagar e mais vezes os alimentos, facilita o processo de absorção dos nutrientes, saboreamos e lubrificamos os alimentos para chegarem ao estômago, gerando assim um esvaziamento mais lento do estômago, facilitando a digestão, controla a quantidade de alimentos ingeridos na refeição.

A ansiedade é uma das maiores vilãs da alimentação mecanizada e acelerada. Alimentar-se vai muito além de matar a fome, é um momento seu, usufrua dele com qualidade, tanto no prato, quanto no tempo.

* Nutricionista (CRN9:19002). Graduada em nutrição pela faculdade Pitágoras de Ipatinga. Pós-graduanda em Nutrição Oncológica - Hospital Israelita Albert Einstein. Pós-graduanda em Nutrição Materno infantil.

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