19 de setembro, de 2018 | 15:50

Valorização da vida

Aline Lemos *

O Setembro Amarelo nos convida a refletir sobre um fenômeno que muitas vezes se mostra à margem das discussões, pois o suicídio é um dos “temas proibidos”, já que as pessoas temem falar sobre o assunto ou não sabem o que dizer diante dele ou de sua ameaça. Entretanto, mesmo que tentemos fortemente negá-lo, o autoextermínio já ganha contornos de uma epidemia, com números que exigem políticas públicas e a implicação de cada um de nós.

O que explica alguém chegar ao ponto de enxergar como única saída acabar com a própria vida? Essa alternativa se mostra assim tão distante de nós? Em algum momento da vida isso já lhe ocorreu como alternativa? Em todo o mundo ocorre um suicídio a cada 40 segundos. No Brasil, não é diferente, 11 mil pessoas tiram a própria vida, por ano, o que significa que 1 pessoa morre vítima de autoextermínio a cada 45 minutos, e ao menos outras 60 tentam por dia. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 9 em cada 10 casos poderiam ser evitados. De cada suicídio, de seis a dez outras pessoas são diretamente impactadas, com consequências difíceis de serem reparadas.

Tendemos a encarar o suicídio como uma “escolha individual”, como se o sujeito estivesse doente ou não suportasse as dificuldades da vida. Mas Durkheim nos convida à uma análise social da problemática. Assim, o suicídio seria um fato social, ou seja, teria sempre uma causa social, em que o indivíduo faz essa escolha devido à falta de sentido no social e coletivo, há nesse sujeito um sentimento de desamparo social, isolamento e falta de pertencimento. Assim, é simplista demais atribuirmos causas exclusivamente internas ou externas a esta “escolha”.

É claro que temos fatores predisponentes, como tentativas anteriores de acabar com a própria vida, doenças mentais, histórico de abuso sexual, e fatores precipitantes, como desemprego, desilusão amorosa, entre outros. Mas estes devem ser entendidos numa conjuntura social e nenhum deles isoladamente dá conta de explicar um fenômeno tão complexo. Estão envolvidas questões de religião, aspectos culturais, emocionais e de saúde do indivíduo.

O convite aqui é à reflexão de como cada um de nós pode ser agente de prevenção ao suicídio, observando as pessoas à nossa volta, nos colocando receptivos para uma escuta sem julgamentos e preconceitos. A máxima cristã vale nesse caso: acolha o outro como gostaria de ser acolhido num momento difícil. E lembre-se o desejo é acabar com a dor, não com vida! Para quem está vivendo este momento agora, procure ajuda! Sua condição atual não te permite ter esperanças, mas isso também é um sintoma!

*Professora do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste), mestre em Psicologia e Terapeuta cognitivo-comportamental.
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