18 de setembro, de 2018 | 16:04

Muito mais do que construir cadeias e aumentar efetivo

Marco Antônio Barbosa*

“Aumentar efetivo policial ou presídios remendam, mas não estancam o problema”

Os candidatos à presidência começaram a trazer suas propostas sobre segurança pública para a mesa em debates e programas eleitorais. Mesmo sendo um ponto de extrema relevância para o futuro do país e de interesse do eleitorado, o assunto é tratado mais uma vez de forma superficial e com propostas vazias. As principais são mais policiais nas ruas, mais cadeias e porte de arma. Nada de pensar em longo prazo, como deveria ser.

Focamos nas propostas de mais investimentos. O governo federal já aumentou em 6,9% os gastos em segurança pública, chegando a R$ 9,7 bilhões, em 2017, segundo dados do 12º Anuário de Segurança Pública, que reúne informações sobre segurança e violência em todo o Brasil. Fica bonito para dizer na campanha, mas se já foi feito, qual realmente foi o diferencial, se as estatísticas apontam para um recorde nos números de assassinatos no país?
Aumentar efetivo policial ou presídios remendam, mas não estancam o problema.

O buraco é bem mais fundo. Agilizar a justiça, investir em infraestrutura e integrar as informações por todo o Brasil deveriam ser os principais pontos. Mas por que, então, apenas um ou até mesmo nenhum dos pontos está nas plataformas de governo dos nossos candidatos?

A resposta é simples: eles não trazem resultados em curto prazo e ainda implicam mudanças profundas nos complexos, arcaicos e aparelhados sistemas judiciário e policial.

Como mostra o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), a população carcerária do Brasil passou de 720 mil pessoas, com crescimento de mais de 180% entre 2006 e 2016. Os bandidos estão sendo presos. Entretanto, mais de 40% deste número aguarda julgamento. Nosso judiciário não dá conta da demanda. Enquanto isso, suspeitos aguardam em cadeias superlotadas, com criminosos já julgados, alguns deles de alta periculosidade ou envolvidos com o tráfico. O Estado mune o crime organizado com novos recrutas todos os dias. Aumentar cadeias sem um plano para mudar essa situação é como criar mais universidades para o crime. Antes de focarmos em mais presídios, é necessária uma reforma no sistema prisional brasileiro.

Outro ponto muito importante é o investimento em educação, saúde, transporte, moradia, saneamento básico. Dar infraestrutura para que todos possam ter alternativas de crescimento pessoal e profissional. Isso influi, e muito, na segurança. O seu candidato tem propostas para isso? Ele faz a conexão da segurança com estes setores? É na falta de oportunidades e na lacuna deixada pelo Estado que o crime organizado aparece como opção.

A questão de integrar as informações e políticas vem sendo abordada nas campanhas, mas muitas vezes de forma superficial. É necessário integrar muito mais do que a inteligência para prender bandidos. O sistema judiciário, por exemplo, também precisa de integração. Isso ajuda a desburocratizar e agilizar os julgamentos.

Resumindo: tudo é um ciclo. A roda precisa girar para o lado certo para que as coisas comecem a mudar. Demanda tempo, muito mais do que dinheiro. Inaugurar presídios, dar novas viaturas e armas fica bonito para palanques e horários eleitorais, mas não resolvem o problema. É preciso mais do que marketing. O problema é grave e precisa ser tratado como tal.

Até o momento, o apresentado pelos candidatos, infelizmente, não passa de combater a fumaça e não o foco do incêndio. Ou aprofundamos o debate, ou passaremos mais quatro anos enterrando entes queridos assassinados.

* Especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil. Possui mestrado em administração de empresas, MBA em finanças e diversas pós-graduações nas áreas de marketing e negócios.

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