07 de julho, de 2018 | 10:00
Sobre a PEC 95, a BR-381 e ferrovias
José Célio Alvarenga *
Falta-nos ainda, uma mobilização local. É daqui que deve partir a mais veemente negativa contra a suspensão das obras”No dia quinze de dezembro de 2016, o Congresso Nacional promulgou a Emenda Constitucional 95/2016 que congelou os investimentos públicos por vinte anos. A PEC atingiu em cheio os orçamentos fiscal e da seguridade social, os órgãos e os Poderes da República. Naquele momento, critiquei a aprovação da PEC porque ela impede os investimentos públicos, agrava os problemas econômicos e sociais, bloqueia a retomada do desenvolvimento e prejudica a população. A tentativa de retirar recursos das obras de duplicação da BR-381 e outras inciativas governamentais, como a antecipação do fim das concessões das ferroviárias, deixam claro o erro da aprovação desta PEC.
No dia 22 de junho, numa atitude insensata, o Governo Federal apresentou ao Congresso uma autorização para remanejar o orçamento. Entre as mudanças propostas pelo PLN 13/2018 está a retirada de aproximadamente R$ 51 milhões, destinados ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), para obras de duplicação da BR-381 no trecho Belo Oriente/Governador Valadares. Os recursos serão transferidos para os Ministérios da Educação, da Saúde, da Integração Nacional e do Desenvolvimento Social. Depois de estrangular o orçamento, o Palácio do Planalto preferiu despir um santo para vestir outro a equacionar o problema de forma definitiva, revogando a malfadada PEC.
Assim que tomei conhecimento do anúncio do corte, fui procurado e entrei em contato com entidades e movimentos da sociedade civil e com diversos atores políticos e institucionais para, juntos, barrarmos mais este ataque aos interesses da nossa população.
A resposta veio rápida: na Assembleia, encaminhei à Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas requerimentos contrários ao corte de verbas. A Agenda de Convergência para o Desenvolvimento do Vale do Aço e o Movimento Nova 381 se mobilizaram. Juntos prepararam uma carta aberta ao Presidente Temer, ao Ministro dos Transportes e aos deputados federais. No comunicado, elas destacam que: a duplicação da BR-381 Norte é obra de infraestrutura prioritária para o desenvolvimento de Minas Gerais”. Ao mesmo tempo, solicitaram a Manutenção dos 51 milhões no Orçamento de 2018”.
Em Brasília, me reuni com o vice-presidente da Câmara e líder da bancada mineira no Congresso, deputado federal Fabinho Ramalho, para organizarmos a luta contra o corte de verbas. Caso o PLN seja aprovado, junto com outros deputados federais e apoio de toda a bancada, Fabinho apresentará um destaque, retornando os 51 milhões para as obras da 381. Os encaminhamentos institucionais estão em andamento.
Contudo, falta-nos ainda, uma mobilização local. É daqui que deve partir a mais veemente negativa contra a suspensão das obras. Garantir a continuidade e a conclusão da duplicação da BR-381 é apostar no desenvolvimento econômico-social, na segurança e melhoria do tráfego e do trânsito, na geração de emprego e renda e na integração nacional.
Da mesma forma, a população do Vale do Aço não pode deixar que o Governo Federal dê bom dia para o setor ferroviário de outros estados com o chapéu dos mineiros. Explico a afirmação: diante das repercussões da paralisação dos caminhoneiros, o presidente Temer, em acordo com a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) e a Agência Nacional de Transporte Ferroviário (ANTF), anunciou que pretende investir no modal ferroviário.
Como a PEC 95 proíbe novos investimentos, o Governo precisa reforçar o caixa com novos recursos. O caminho proposto é a antecipação do fim das atuais concessões férreas e o consequente leilão de novas. Os recursos esperados para os cofres do Tesouro Nacional são da ordem de 25 bilhões de reais que serão investidos em 11 estados em troca de mais 40 anos de concessões. Até aí, pode-se discutir a eficácia da medida, mas sem grandes sustos. Mas sigamos.
Dos cinco trechos que poderão ter seus fins antecipados três estão em solo mineiro Vitória-Minas, Ferrovia Centro-Atlântica FCA e MRS. Ocorre que o Governo Federal vem anunciando que os recursos arrecadados aqui serviriam para investimentos férreos em outros estados.
Os projetos prioritários do Governo seriam o Ferroanel em São Paulo e a Ferrovia de Integração Leste-Oeste (Fico) no Mato Grosso do Sul. Nada contra a proposta SP, MT ou os demais estados. Mas venhamos e convenhamos, é muita discriminação contra Minas Gerais.
Também fui ao diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Mário Rodrigues Júnior, ao diretor Sérgio Lobo e membros da equipe técnica da agência. Na oportunidade manifestei minha indignação com o tratamento dado a Minas Gerais e cobrei a realização de Audiências Públicas para discutir o tema diretamente com a população afinal é ela sempre a mais atingida e os agentes públicos têm de responder pelo que fazem. O diretor-geral se comprometeu a realizar, ainda no mês de agosto, uma audiência no Vale do Aço.
Na ocasião, apresentei a ele dois pleitos e solicitei que na audiência a ANTT se posicionasse a respeito do transporte de passageiros, do transporte de cargas e da construção de um terminal de carga no Vale do Aço. À tarde, na Comissão de Viação e Transportes, denunciei na Câmara Federal o corte de verbas da BR-381 e o descaso com o modal ferroviário de Minas.
Para mim, o transporte de passageiros precisa ter seus horários ampliados, proporcionar uma maior integração entre cidades vizinhas e se constituir como um meio de transporte cotidiano para a população.
No que tange ao transporte de carga, a construção de um terminal, que atenda ao parque industrial regional é uma necessidade inarredável. Sua construção vai racionalizar a utilização de outros modais de transporte, evitar que a Região, e principalmente suas empresas âncoras, fiquem reféns de um único e proporcionar um equilíbrio entre eles.
Um terminal de carga abre a possibilidade de construção de polo logístico que integre a infraestrutura e a estrutura do Vale Aço rodovias, ferrovias, o aeroporto, o Parque do Rio Doce, escolas, serviços de saúde etc gerando riquezas, progresso e desenvolvimento social.
Por fim, reitero que sem uma mobilização efetiva da sociedade civil poderemos assistir ao trem levar nossas possibilidades para outros lugares. As empresas de todos os portes e ramos, os sindicatos de patrões e de empregados, as associações civis e religiosas, os meios de comunicação e todas as entidades devem se unir em defesa da Região. Só assim, o nosso Vale do Aço vai se reencontrar consigo mesmo, com sua vocação e com o seu futuro.
* Deputado estadual (PCdoB)
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]