
18 de junho, de 2018 | 12:12
Violas são patrimônio cultural
Instrumento musical é o quinto bem registrado pelo Iepha em Minas Gerais
O Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) aprovou o Registro dos Saberes, Linguagens e Expressões Musicais da Viola como sendo patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais. A preservação desses elementos tem grande importância pelos valores históricos, socioculturais e identitário para o estado. O reconhecimento permite preservar, valorizar e compreender o universo das violas.A importância do registro foi destacada por Angelo Oswaldo, secretário de Estado de Cultura, que vê no trabalho das equipes do Iepha-MG uma grande contribuição para o reconhecimento e salvaguarda do patrimônio imaterial mineiro. O número de músicos e luthiers envolvidos é empolgante, cada um revela detalhes distintos de um criativo universo”, diz o secretário.
Para a presidente do Iepha-MG, Michele Arroyo, os toques da viola ajudam a conhecer e reconhecer as diferentes Minas Gerais, com suas várias regiões, crenças e valores, além de sintetizar a essência cultural do estado ao se fazer presente em contextos os mais diversos.
Agora devemos construir políticas públicas de salvaguarda e valorização do saberes e expressões culturais relacionadas à tradição deste instrumento tão ligado às tradições mineiras”, enfatiza Michele Arroyo.
A diretora de Proteção e Memória do Instituto, Françoise Jean, diz que a música da viola mobiliza sentimentos, ativa memórias, cria uma conexão entre o mundo rural e a moderna metrópole, entre tempos passados e o presente, pais e filhos, a cultura profana e as expressões do sagrado”.
A gerente de Patrimônio Imaterial do Iepha-MG, Debora Raiza, diz que o som da viola compõe a paisagem sonora de Minas Gerais, seus sotaques e sons característicos. A viola aparece no Brasil todo, mas em cada lugar tem um espaço de reprodução próprio daquele contexto”, ressalta.
Para Debora, é hora de valorizar uma cultura tão importante para o estado. Em Minas Gerais, ela surge em expressões artísticas como o congado, folia, catira, roda de viola, dança de São Gonçalo e o batuque. Raramente essas expressões ocorrem sem a presença da viola”, afirma Debora.
O Registro dos Saberes, Linguagens e Expressões Musicais da Viola em Minas Gerais passa a integrar o conjunto dos bens culturais reconhecidos como patrimônio de natureza imaterial do estado: o Modo de Fazer o Queijo Artesanal da Região do Serro (2002), Comunidade dos Arturos, de Contagem (2013), Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte (2014) e as Folias de Minas (2017).
Celebração
Para festejar o reconhecimento do instrumento como patrimônio cultural mineiro, violeiros e violeiras se reuniram na Praça da Liberdade. O show Violas de Minas” teve participação de Pereira da Viola, Chico Lobo e Wilson Dias, Letícia Leal, dentre outros nomes que mostraram folias, catiras, modas e outros ritmos da viola.
Por ser mulher neste cenário, foi um privilégio representar tantas pessoas no palco. Foi um dia mágico. Todos os que participaram deste processo, direta ou indiretamente, ajudaram a contar essa história”, falou Letícia Leal, representando as violeiras do estado.
Para Chico Lobo, o registro das violas é motivo de orgulho para todos. Para mim, que há 40 anos abraço a viola e a cultura de Minas Gerais, é uma forte emoção ver a viola e seus saberes reconhecidos como Patrimônio Imaterial. É entender a alma de Minas, sua riqueza e a pureza nos braços da viola, instrumento que se conecta com vigor à atualidade”, enfatizou.
Para Chico, o violeiro, quem vive da viola ou com a viola, ficará mais motivado. Um reconhecimento que vai gerar infinitos benefícios a todos”, completou. A apresentação do show Violas de Minas” celebrou a conclusão dos estudos sobre as violas e seu reconhecimento como patrimônio cultural.
Seminário
Em maio de 2017, como parte do inventário, o Iepha-MG realizou o seminário Violas: modos de fazer e o tocar em Minas”, reunindo para um debate, no auditório do BDMG Cultural, pesquisadores, violeiros tradicionais e pessoas que trabalham o tema.
O seminário definiu que o registro seria sobre os modos de fazer do universo das violas, suas linguagens e expressões musicais. Dos saberes, foram considerados tanto a preservação do conhecimento de tocar como o de fabricar a viola. Das linguagens, o código compartilhado das afinações e ritmos. E das expressões musicais, todas aquelas onde a viola aparece.
Uma plataforma de cadastro foi aberta no site do Iepha-MG, na qual foram cadastrados mais de 1.350 violeiros e 90 fazedores de viola. Para fins de análise foram considerados os cadastros realizados até janeiro de 2018, e novos cadastros continuam sendo recebidos. A proposta é que a plataforma permaneça aberta continuamente.
O formulário de cadastro foi gerado pela equipe da Diretoria de Proteção e Memória do Instituto, com o auxílio de violeiros e construtores de viola a partir de suas percepções e vivências. O mapeamento foi lançado em março do ano passado no site do Iepha-MG e permanece disponível no endereço eletrônico www.iepha.mg.gov.br.
A partir das respostas do cadastro e de pesquisas de campo em várias regiões de Minas, foi feito um mapeamento dos fazedores e violeiros, identificando os muitos aspectos relativos às suas formas de tocar e de fazer a viola, além de um inventário das expressões e celebrações culturais que tem a viola como um dos elementos estruturantes.
Após a análise, identificou-se em Minas Gerais a existência de mais de 30 ritmos diferentes, a maioria pertencente ao universo de ritmos da chamada música caipira”, com destaque para o pagode.
Alguns violeiros e violeiras também apontaram como ritmos o congado, folia, batuque, catira, cururu, lundu e chula, que se referem às bases rítmicas das expressões culturais correspondentes. Os tocadores também apontaram ritmos mais comuns no Norte de Minas, mais conhecidos como toques, tais como a inhuma, ludovina, lundu e onça.
Quanto à distribuição dos violeiros no território mineiro, a primeira posição em que se concentra a maioria dos violeiros é ocupada pelas regiões do Sul/Sudoeste de Minas e do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, ambos com 21%.
Em seguida tem-se a Região Metropolitana de Belo Horizonte - RMBH (19%), a Zona da Mata (8%) e o Norte de Minas, a Central Mineira e o Campo das Vertentes, cada uma com 6%. As demais mesorregiões apresentaram um número menor de cadastros: Oeste de Minas e Jequitinhonha (4%), Vale do Rio Doce (3%), Noroeste de Minas (2%) e Vale do Mucuri (1%).
O resultado do mapeamento contribuiu para a instrução do processo de Registro dos Saberes, Linguagens e Expressões Musicais da Viola em Minas Gerais. Esse estudo demonstra a presença significativa das violas nas principais expressões culturais de Minas Gerais, dentre elas a Folia de Reis, bem cultural imaterial também registrado pelo Iepha-MG.
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