02 de junho, de 2018 | 12:16

Outra realidade

Divulgação
A grande mídia, que investiu pesado na compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo, está preocupada com a frieza e o desinteresse da maioria da população em relação ao evento, algo jamais visto na história recente do maior torneio de seleções do planeta. Qual a explicação para este clima de “demora a pegar” que tomou conta desta Copa? Simples assim. O futebol deixou de ser uma bolha isolada dos problemas da sociedade, ou seja, uma ilha blindada da realidade que o cerca.

A recente greve dos caminhoneiros, que ainda provoca desabastecimento e transtornos à população e causou um prejuízo incalculável à nossa já debilitada economia, foi apenas um algo mais no rosário de dificuldades pelas quais passamos cotidianamente. Tudo isso forma um cenário que bloqueia qualquer tentativa de marketing para transformar o país numa grande festa.

Há muitos outros fatores que colocam mais lenha nessa fogueira, a começar pela corrupção endêmica em todos os setores da sociedade, crise política e econômica, desemprego e desabastecimento, que desestimulam o interesse pela Copa e criam um contexto muito pouco convidativo a sair pintando as ruas de verde e amarelo.
Paixão existe

Até então as Copas eram eventos inquestionáveis sob o ponto de vista do interesse coletivo, alterando a rotina do comércio, repartições públicas, serviços essenciais, todos submetidos nessa época de jogos a horários especiais de funcionamento.

Quer dizer então que na Copa que se aproxima será tudo diferente? O amor pelo futebol diminuiu ou acabou de vez? Claro que não é bem assim e não se pode confundir alhos com bugalhos, amor ao futebol com nacionalismo, pois são coisas totalmente distintas.

“Nós, o povo”, como dizia o saudoso jornalista Euclides Diogo Sabará, em suas crônicas aqui neste jornal nos anos 80, ainda gostamos da seleção, tanto é que nos dias de seus jogos pelo Mundial na Rússia, com certeza o país estará parado em frente à TV.

Só que agora a ficha da população caiu, enfim percebeu-se que há vida lá fora, que o mar não está pra peixe. A realidade é uma só: o momento atual é inadequado para grandes festas, para não dizer que há várias questões mais importantes na agenda, à frente do futebol e da seleção.

FIM DE PAPO
das melhores frases das muitas que li nas redes sociais, durante o movimento dos caminhoneiros, foi esta: “O brasileiro é o único povo no mundo que faz fila para ser roubado. Foi uma crítica à formação de enormes filas de carros para abastecer nos postos de combustíveis, com o preço absurdo da gasolina batendo nos R$5 o litro. Mas, não há mesmo outra alternativa no momento, para quem precisa do carro no dia a dia a fim de se locomover, trabalhar etc.

No âmbito do futebol também estamos submetidos a determinadas situações constrangedoras ou absurdas. Somos, por exemplo, o único país do mundo onde haverá jogos de competições nacionais até mesmo na véspera da abertura, bem como no dia seguinte à final do Mundial. Isto porque há uma dificuldade recorrente da CBF, a gestora do nosso futebol, em administrar seu calendário, que já é muito ruim, senão péssimo, em anos sem Mundial, e torna-se caótico como agora que teremos a Copa do Mundo na Rússia.

Seria tudo muito diferente e para melhor se a CBF não precisasse acomodar as intermináveis 18 datas de estaduais para atender as inócuas federações, responsáveis por garantir a perpetuação no poder da atual casta de dirigentes da entidade. Devido à essa irresponsabilidade, submete o futebol brasileiro ao atual calendário insano, que prevê até 80 jogos para alguns clubes no ano.

A consequência disso, conforme diz uma matéria do portal UOL, é que contabilizamos, na última rodada, 74 jogadores dos 20 clubes da Série A nacional fora das partidas por lesões diversas. Não se pode duvidar que, se a seleção conquistar o hexacampeonato mundial na Rússia, teremos jogos de algum campeonato promovido pela CBF, enquanto nossos heróis desfilam em carro aberto pelas ruas de alguma capital do país.

Hoje é um dia muito importante para a cidade de Ipatinga, que viveu nos últimos anos muitos problemas, devido à instabilidade política e administrativa. Que, desta vez, nós, ipatinguenses nativos, adotados e agregados, saibamos escolher bem o nosso governante. (Fecha o pano!)
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