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10 de maio, de 2018 | 15:05

Se está na internet, questione!

Rodrigo Cristiano Alves *

“As mídias digitais se tornaram um celeiro de produção de mentiras”

“Se está na internet então é verdade”, talvez este seja o jargão mais ouvido nos últimos anos, principalmente depois que inventaram as mídias sociais (porque rede social já existia desde que o mundo é mundo e, o melhor, ela não passa de uma rede de conhecidos e amigos), só que poderíamos dizer que temos uma rede social digital. E as mídias digitais se tornaram um celeiro de produção de mentiras.

Convenhamos, gostamos sim de uma mentira e, muitas vezes, contamos uma. Faço das palavras de Joseph Goebbels, o assessor de comunicação de Hitler, segundo o qual uma mentira contada mais de mil vezes se torna uma verdade. Não se trata de um incentivo à mentira, mas uma constatação de que somos tendenciosos a acreditar no que se repete à exaustão. O dito popular diz que “a mentira tem perna curta”, mas na internet as mentiras costumam ter pernas bem longas e andam numa rapidez impressionante, na verdade, na velocidade de um clique.

Sabemos que desde os primórdios da civilização a mentira foi utilizada sozinha ou com a força para a manutenção e/ou conquista do poder. E sobre as mídias, essas sempre tiveram papel preponderante também para ajudar a proliferar notícias falsas, seja por meio digital ou impresso. O jornalismo sensacionalista ou os “tabloides”, que em determinado momento já assumiram noticiar mentiras, maquiou verdades ou proferiram pós-verdades por motivos econômicos e/ou políticos. Ganharam anabolizantes e estão cada vez maiores e mais fortes.

A Fake News, que deixou de ser exclusividade das mídias sensacionalistas, agora pode ser feita por qualquer pessoa com um computador ou celular na mão e uma ideia na cabeça. A facilidade de criação de sites e o fenômeno de propagação das notícias por qualquer pessoa além da disseminação instantânea das notícias alimentou de forma assustadora este fato. Mas como nasce uma Fake News? A receita é simples, apresente um título sensacionalista, termos técnicos que transmitam minimamente veracidade, palavras de ordem, como cientistas britânicos afirmam, a NASA noticiou, ou frases imperativas iniciadas com: cuidado, fiquem atentos, é preciso proteger (...).

Ainda é interessante salientar que, no caso das Fake News, o poder do anonimato é utilizado para divulgar notícias negativas, degradantes, difamadoras e, como às vezes se tratam de equipes profissionais armadas de técnicas e de softwares, elas conseguem “gritar” mais alto na Internet, criando um verdadeiro desequilíbrio. Ou seja, a proteção de uma tela pode suprimir o medo de ser descoberto como autor da notícia falsa.

WhatsApp, Facebook, Instagram, Twitter, Blogs, sites, Youtube, não importa a mídia, a Fake News estará lá e de forma onipresente e podemos atribuir este fenômeno à tão recente e desejada inclusão digital. Quase todos agora têm acesso à internet e, consequentemente, podem cair nas mentiras, ou criá-las. Grupos de Whatsapp e Facebook lideram o ranking das notícias falsas, principalmente pelo fato do poder de compartilhamento. Às vezes, não é preciso compartilhar, o próprio algoritmo da internet se encarrega de lhe apresentar algum post publicado por seus amigos ou conhecidos, que contenham informações mentirosas. O que ocorre é que o sistema não reconhece se é verdade ou não, apenas lhe apresenta o conteúdo com base nos seus interesses, curtidas em publicações, pesquisas na internet, quem você segue ou o que você comenta.

Agora, com a polarização política, não só no Brasil, mas em todo o mundo, e com as vozes polifônicas da internet, as Fake News têm criado um novo profissional, o que se especializou em produzir notícias falsas para determinados grupos partidários, confundindo o eleitorado e quase obrigando (ou não) à escolha de um lado. Podemos, inclusive, citar a comissão especial criada nos Estados Unidos que investiga o fenômeno da interferência da internet nas últimas eleições presidenciais estadunidenses, que levaram para o poder Donald Trump. Agora imagina o que a pós-verdade e a Fake News farão no Brasil, nas eleições deste ano?. Cuidado com os bots, fakes, trolls e haters.

Essa bolha na qual as redes sociais nos colocam, mostra a interferência direta no nosso comportamento social: de dar voz aos que encontram seus pares na internet e compartilham do seu ódio e preconceito de forma coletiva, que dá voz às minorias (que é um fenômeno positivo), que reforça crenças mesmo que equivocadas.

Estamos sendo acalentados pelo algoritmo que nos apresenta novos mundos, que pode nos dar mais conhecimento e talvez menos sabedoria e que nos deixam menos humanos. Isso tem mudado o mundo, não sei se para melhor ou pior. De qualquer forma, sempre que estiver navegando na internet e uma “bruxa malvada” ou uma “serpente” lhe oferecer uma suculenta maçã faça três perguntas básicas: quem produziu esta maçã? Ela vem de plantações confiáveis? O que querem me oferecer por meio desta maçã? Na dúvida, não aceite, ou melhor, questione! Não é só porque está na internet que a informação é verdadeira.

* Professor de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste)
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