03 de fevereiro, de 2018 | 11:45

Polônia e o holocausto, um debate atual

Luiz Sayão *

É lamentável que o governo nacionalista polonês tenha decidido criminalizar qualquer expressão que afirme alguma responsabilidade polonesa no holocausto, perpetrado pelos nazistas, na ocasião da Segunda Guerra Mundial. Não se pode negar a morte de quase dois milhões de poloneses na ocasião, mas isso não exime de culpa os que colaboraram com os nazistas, nem apaga a realidade dos conhecidos pogroms (extermínio de judeus) que marcou a história polonesa, inclusive nos anos de 1930-1950.

Tal afirmação é ainda mais chocante quando vemos que Mohammad Alissa, saudita chefe da Liga Mundial Islâmica, declarou que o holocausto foi uma das maiores atrocidades da história.
As estimativas da Segunda Guerra Mundial são de 70 milhões de mortos (aproximadamente, 45 milhões de civis), sendo cerca de 24 milhões de russos, 20 milhões de chineses, 7,5 milhões de alemães.

A Polônia, por exemplo, contava com a maior comunidade judaica antes da guerra, com 3,2 milhões de cidadãos. A ocupação nazista do território polonês em 1939 resultou, entre outras atrocidades, na construção de campos de extermínios como Auschwitz e Treblinka.

A solução final organizada e executada exterminou cerca de 6 milhões de judeus, mais de um terço da comunidade judaica de todo o mundo. A perseguição e os maus tratos atingiram diversas comunidades como ciganos, eslavos, homossexuais, judeus, evangélicos e comunistas. Um dos principais mártires evangélicos do período nazista foi Dietrich Bonhoeffer. Entre os teólogos renomados que perderam sua posição por causa da intolerância do Führer, destacam-se Karl Barth e Paul Tillich.

As terríveis decorrências do governo nazista de Hitler ainda hoje nos causam espanto e pavor. Além da perseguição direta aos judeus, bastante conhecida, e dos campos de concentração criados pelo regime nazista, Hitler foi o causador direto e indireto de atrocidades imensuráveis.

As propostas imperialistas e racistas do nacionalismo-socialista de Hitler chocaram o mundo por sua frieza no processo de condenação, prisão e assassinato dos “indesejados” para o sistema. O assassinato de milhares de pessoas calculado e premeditado associado às experiências genéticas e científicas cruéis e desumanas deixaram o mundo consternados. Estávamos diante de um império da morte.

No entanto, a percepção desta realidade está mudando. A consternação perdeu espaço nos últimos anos. Cresce a indiferença! Certa vez um amigo me comentou uma aula de filosofia. Nela a professora afirmava a lógica da sociedade relativista: “o que Hitler fez é errado para nós, mas para eles estava certo. Cada cultura e sociedade decide o que acha certo ou errado”.

Nossa sociedade está em crise. O fato é que, em muitos países, assassinos são hoje protegidos pela lei. O aborto tornou-se “direito” e sinal de “avanço”. O suicídio tornou-se “requinte” de sociedades sofisticadas. O nível de barbárie dos crimes está em sintonia com os carrascos de Auschwitz: “Há pedofilia seguida de morte, canibalismo, chacinas, crianças homicidas, suicídio coletivo, etc.” Onde vamos parar?

A sociedade secular, com seu humanismo, ateu e agnóstico, nunca foi coerente com seus pressupostos. Embora crítica do cristianismo, sempre viveu de seus valores. No secularismo ateu não há lugar para misericórdia, caridade, amor e esperança. Os ateus e agnósticos vivem, na prática, sob ideias bíblicas de amor, igualdade, perdão, etc.

A grande pergunta é: o que será de nós nas novas gerações criadas sem essa influência de valores bíblicos? Se Deus não existe e não há juízo final, e a vida é apenas agora, um mero acidente que deu certo, a decorrência é a selvageria: vale aproveitar ao máximo o pouco que temos neste mundo sem referência.

A questão se torna muito mais relevante quando vemos a barbárie crescente presente em nosso cotidiano e o surgimento de uma nova empreitada hostil de antirreligiosos, particularmente contra a tradição judaico-cristã. Se não considerarmos a história de nossa tradição ocidental, com sua herança histórica e suas decorrências, corremos o sério risco de ver uma versão piorada do que foi o nazismo: seria o “retorno de Hitler”.

* É pastor, teólogo e hebraísta da Igreja Batista Nações Unidas (São Paulo-SP)
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
MAK SOLUTIONS MAK 02 - 728-90

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário