02 de fevereiro, de 2018 | 16:15
A REELEIÇÃO DE MIRANDA E SEUS PROGNÓSTICOS
Ronaldo Soares*
A vitória esmagadora da chapa liderada pelo ex-sindicalista e ex-deputado estadual Luiz Carlos Miranda nas eleições para representante dos trabalhadores, aposentados e pensionistas no Conselho de Administração da Usiminas é cercada de significados e prognósticos sobre os quais lançaremos luz em diversos aspectos e contribuiremos no sentido de avaliar as possibilidades que cercam o futuro próximo da siderúrgica, assim como se comportarão os atores mais expressivos da recente história da empresa.
Para o pleito de 2018, quatro chapas concorreram o que, de cara, pode se atribuir o quanto se tornou importante a participação da classe operária nos destinos da empresa assim como de seus ex-empregados. Fontes dão conta que uma quinta chapa não conseguiu registro devido a perda de prazo para apresentação de documentação exigida.
Nesse contexto, o que motivou essas pessoas a colocarem seus respectivos nomes à disposição para o exercício de mandato de dois anos poderá ser atribuído a necessidade de continuidade do processo de recuperação iniciado após o aporte de mais de 1 bilhão de reais realizado pelos seus acionistas em março de 2016, o que impediu a recuperação judicial da empresa.
Ao longo dos quatro anos passados a siderúrgica convive com a contenda entre seus dois principais acionistas do bloco de controle, os japoneses da Nippon Steel/Sumitomo Metals e os italianos da Ternium/Techint. Os fatos mais recentes nos mostram que as disputas de bastidores e nos tribunais agora envolvem a Nippon e a atual gestão. Para que o leitor tenha uma ideia, são cinco ações impetradas pela Nippon Steel contra o Conselho Administrativo, o presidente Sérgio Leite e o presidente do Conselho de Administração, Elias Brito.
A reeleição de Luiz Carlos Miranda acena com a reeleição de Sérgio Leite na próxima Assembleia de Acionistas a ser realizada no mês de abril quando haverá nova disputa com o lançamento de candidaturas representando desejos opostos desses acionistas. É, da mesma forma, aceitável que uma das chapas concorrentes a eleição do representante dos trabalhadores e aposentados na segunda-feira se alinhasse com as aspirações da Nippon Steel no intuito de oferecer alternativa de oposição ao atual status quo diretivo.
No entanto, ao contrário do que há décadas se repetia, o grupo se encontrava sem a máquina” (como atribuímos aos prefeitos, governadores e presidentes em processo de reeleição no qual tem toda a estrutura da gestão a seu favor obtendo, assim, vantagem competitiva em detrimento aos concorrentes). As eleições na Usiminas, historicamente, sempre tiveram a tendência de os votantes acompanharem o voto do relator (alusão aos julgamentos nos tribunais nas decisões colegiadas).
O ambiente dessa disputa ganhou, recentemente, um ingrediente a mais com a demissão de um dirigente ligado a Nippon Steel devido ao fato de se apresentar ao mercado com cartão corporativo e contatos tanto da Usiminas quanto da Nippon Steel. Pouco depois, uma nova disputa (mais precisamente dia 26) colocariam frente a frente os dois lados em uma ação a ser julgada no TJMG em Belo Horizonte cujas atenções foram divididas com o midiático julgamento do ex-presidente Lula no TRF- 4ª região em Porto Alegre.
Cheguei a pensar que pela concorrência desleal” com as atenções todas voltadas para Porto Alegre, os desembargadores se sentiram desprestigiados” transferindo a audiência para 28 de fevereiro, mas a alegação foi a falta de urgência e complexidade do processo que exigiu mais tempo para análise.
É nesse ambiente que alguém sem o lastro e os cuidados necessários adentraria. A eleição de um novato” para o conselho de administração acrescentaria mais incertezas ao imprevisível desfecho dessa disputa. Das alternativas propostas no pleito, o momento indicava a permanência da experiência de alguém que pudesse transitar nesse meio e priorizar a Usiminas, seus trabalhadores, a comunidade e o Vale do Aço em detrimento aos interesses individuais de grupos empresariais cuja atuação é mundial e motivada única e exclusivamente pelo capital.
Luiz Carlos Miranda empenhou-se muito para que a direção da empresa se reconciliasse com a sociedade promovendo encontros periódicos, inserindo demandas de toda a sorte na agenda da Usiminas e dos seus acionistas. Além disso, foi árduo defensor da religação do alto-forno 1, que hoje encontra-se em obras de melhorias (em abril deve começar a operar) e, conseguiu a antecipação do pagamento da participação nos lucros e resultados entre outras conquistas não menos importantes.
Nada contra os demais que pleitearam a vaga de conselheiro que, diga-se de passagem, o que ouvi a respeito fez ter a certeza de que um bom nível ali se elevava para essas eleições.
É nesse contexto que um novo conselho se formará para tentar dar condições à diretoria a ser eleita, em abril, blindar” a empresa e seguir seu processo de recuperação, tornando o futuro menos imprevisível e mais próspero para todos. Mais uma vez, o que nós enquanto impactados pela perpetuidade da Usiminas temos que defender a soberania da empresa.
* Consultor
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