26 de janeiro, de 2018 | 14:00

A mudança de paradigma do setor metalomecânico no Vale do Aço

Fabricar ou reformar? Não é pergunta absurda, mas a resposta dos grandes clientes que sempre demandavam serviços de fabricação para substituição de equipamentos e sobressalentes, hoje, é REFORMAR!

Durante muitos anos as “paradas” de áreas no setor siderúrgico eram sinônimo de um “plus” para a maioria das indústrias médias e pequenas de nossa região que guardada as devidas proporções significava o mesmo que as olimpíadas e Copa do Mundo para os canais de TV. Paradas de alto-fornos, por exemplo, eram sinônimo de geração de grande volume de empregos por um prazo curto. Todavia, os salários e as horas extras eram extremamente animadores para a classe trabalhadora. Os empresários, esses riam até o canto da boca pela possibilidade de ganhar um “extra”. O mercado interno do aço e, sobretudo, de reserva que a Usiminas sempre gozou, possibilitava, sobretudo, a fabricação de peças e equipamentos de pequeno e médio porte para substituir os já, então, muito desgastados. Não valia a pena reformar, pois o tempo que se gastasse para isso, poderia prejudicar, sobremaneira, a retomada das atividades das áreas paralisadas e o custo de oportunidade era maior.

Hoje, com menos pressão sobre os prazos, as reformas ganharam força sejam para as paralisações planejadas das atividades de grandes áreas como o alto-forno acima exemplificado, sejam para as longas paralisações ou para o dia-a-dia das manutenções corretivas. E eu disse corretivas, pois as preventivas e preditivas se tornaram um luxo para a maioria das organizações industriais. Procurar uma sobrevida a equipamentos antes alienados (muitos virando sucatas) hoje se tornou estratégia empresarial de sobrevivência e, principalmente, pelo ganho de competitividade. O aço perdeu muito das suas aplicações, foi gradual e silenciosamente substituído por outros materiais mais baratos, uma situação agravada, também, pela ausência de investimentos, sejam na Europa, sejam nas Américas, um cenário relacionado à crise macroeconômica que se iniciou em 2008. Soma-se a isso a crise brasileira explicada pela queda abrupta das commodities no mercado internacional e pela má gestão dos recursos públicos que, agravada pelo nosso problema local (a crise da Usiminas) colocou à prova todo um setor, culminando com o enfraquecimento de indústrias decanas e desaparecimento de tantas outras emergentes.

Sindimiva - Desde a gestão do ex-presidente Jéferson Bachour Coelho intensificada ainda mais pela gestão Carlos Afonso (Carlinhos) a busca por agregação de valor aos produtos das indústrias do Vale do Aço foi uma preocupação e alvo de diversas inciativas do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Vale do Aço, o Sindimiva. Intercâmbios com empresas internacionais, parcerias com o Sebrae para a capacitação/qualificação de linhas de produção e seus operadores, convênios com governos por meio da Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial – ABDI e Agência de promoção de Investimento e Comércio Exterior de Minas Gerais - INDI entre outros, demonstraram que mesmo durante a crise era necessária a correção de rota e conversão das indústrias cujos produtos eram fabricados sob projeto (demanda do cliente) por produtos seriados (produtos de prateleiras) para que, com isso, o aperfeiçoamento desses para aumento do market share e possibilitasse, assim, competitividade nacional e não mais local como se observa predominar até hoje.

Mas, o que vai precisar mudar (e muito) é o foco no desenvolvimento dos recursos humanos. O setor, tradicionalmente, investia em aquisição de equipamentos, aumento da infraestrutura de fabricação para elevar a capacidade de tonelagem/mês e treinamento dos operários. No entanto, o investimento em gestão e capacitação empresarial era quase inexistente. Muitos empresários do setor são egressos do chão de fábrica com vasta experiência no “Core Business” e baixa nas demais áreas de apoio como finanças, RH, suprimentos, logística, contabilidade, marketing e vendas. Esse desequilíbrio forçava crescimento rápido do volume de negócios em prazos muito curtos levando à insolvência na mesma velocidade, deixando um custo social em sua maioria dos casos (advindos pela falta de pagamentos a empregados, fornecedores e fisco).

É por isso que a reflexão e o debate dos rumos do setor metalomecânico no Vale do Aço têm que estar na prioridade da agenda empresarial desse ano. A conquista do Centro de Excelência em Engenharia pela Fiemg Regional Vale do Aço e parceiros é apenas o primeiro passo de uma caminhada que exigirá mais quedas de paradigmas e, pela relevância no PIB regional que representam (além de grandes empregadoras), as indústrias deverão fazer a leitura adequada das mudanças na forma de aquisição de bens e serviços que os grandes clientes estarão impondo. Além de novas exigências!

* Consultor.

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