16 de novembro, de 2017 | 16:38

XENOFOBIA, PODE ARNALDO?

Ronaldo Soares *

Essa semana eclodiu uma polêmica em Timóteo pelo suposto ingresso de mais de três mil trabalhadores vindos do Rio de Janeiro, por meio de empresa contratada pela Aperam para realização de intervenções específicas em sua planta. Vídeos tem circulado pelo WhatsApp com depoimentos de profissionais do Vale do Aço reclamando de serem preteridos aos “estrangeiros”. Também, no início da semana, diversos trabalhadores recorreram ao Metasita (sindicato dos metalúrgicos) e este levou o pleito à Câmara de Vereadores para que o presidente da casa fosse o porta-voz da reivindicação junto a área de Recursos humanos da Aperam, no intuito de que algo fosse feito para incluir profissionais locais, uma vez que entendem que há competência disponível e o déficit de empregos na região é alto.

No entanto, caro leitor, é importante levar ao conhecimento de que muitas empresas prestadoras de serviços na área de montagem industrial e até na construção civil, em conversas com fontes do setor, deixam claro que foram criando resistência em relação a contratação de profissionais do Vale do Aço, em função do alto número de demandas trabalhistas por eles impetradas durante o período auspicioso que o país atravessou de 2002 a 2013. Relatam casos de muitos trabalhadores que entravam na empresa e pouco depois recorreram a atestados. Uma prática comum era a permanência até a obtenção dos requisitos para requerer o seguro desemprego que, até então, tinha uma legislação frouxa e permissiva. Obviamente, não se referem a todos, mas a parte significativa, tornando a máxima que os justos acabam pagando pelos pecadores.

Quando militei na indústria naval, chegamos a ter o inverso. Empresas do Rio de Janeiro solicitavam o envio de, até, mão de obra não especializada como ajudantes e serventes, uma vez que na cidade maravilhosa, alegavam que “todo mundo queria ser artista” e poucos se interessavam pelo trabalho formal e de perfil industrial. Enviávamos centenas de trabalhadores para ratificar a boa fama de profissionais comprometidos que a nossa região sempre teve. Comprometidos e competentes. No entanto, a expectativa foi revertida (pelo menos no segmento de montagens industriais).

Observando a postura dos trabalhadores que buscaram apoio no legislativo timoteense para que fossem incluídos nesse processo, vejo como legítimo. Ao mesmo tempo, proponho a reflexão que, em outros momentos, fomos “invasores” do mercado de trabalho alheio e não nos importávamos se ocuparíamos o espaço de quem necessitava trabalhar também. O ditado que minha mãe sempre repete “farinha pouca, meu pirão primeiro” torna o outro alguém que possa ficar ao relento, sem o mesmo direito que eu tenho. Aí pergunto: Somos todos brasileiros? Somos todos seres humanos?

O caminho não deve ser por aí. É claro que a siderúrgica em Timóteo tem responsabilidade social. Paga seus impostos e esses recursos são destinados a serviços à população (ou pelo menos deveria). Impor condicionantes para a gestão dos seus negócios, sobretudo, cláusulas de barreira não me parece justo. Concordo que, em condições iguais, opte-se por quem está próximo e impactado pelas atividades da siderúrgica. Mas, o critério técnico deve estar em primeiro lugar.

Agora, precisamos lutar contra o inimigo comum e não uns contra os outros. Quem colocou o país na situação que está foram (são) os governantes. Precisamos de postura cidadã como esta, apresentada pelos trabalhadores timoteenses, para defender seu mercado de trabalho no dia a dia, mas também para as outras questões nacionais. Afinal, somos todos impactados pelas decisões acertadas ou erradas dos governos e, principalmente pela corrupção.

* Consultor
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