22 de outubro, de 2017 | 09:00
Relações humanas são modificadas pelas redes sociais, aponta psicólogo
Marcelo Camargo/Agência Brasil
A tecnologia passou a ser uma ferramenta de relacionamento, mas o seu uso requer cuidados, alerta especialista
As mídias sociais são um fenômeno que se expande de modo intenso e impacta cada vez mais a vida das pessoas, de diversas maneiras. Em entrevista ao Diário do Aço, o psicólogo clínico, Ricardo Mégre, avaliou como as relações interpessoais são atingidas pelas redes virtuais de relacionamento. As pessoas se conectam e se desconectam atualmente, então é possível estabelecer um tipo de relação com alguém durante dias, meses e anos, sem ter um laço mais firme. E se um dia esse indivíduo se desconectar, eu me perco dessa pessoa”, afirma. 
Segundo o psicólogo, a internet hoje é a maior rede de relação que existe, em que tudo está conectado ao mesmo tempo. Ela não tem centro, nem periferia. Não tem também aquele olho no olho ou aquela proximidade. Então, vamos nos distanciando e, ao mesmo tempo, os laços vão se afrouxando”, conta.
Máscara
Ricardo Mégre avalia que, a partir do momento em que é possível criar um avatar ou um personagem no campo virtual, é preciso saber quem é o verdadeiro sujeito com o qual estou me relacionando. Quem é que se apresenta? É aquele cara que no dia a dia é tímido, educado ou é aquele que entra na internet com outro nome, sendo violento e grosseiro?”, questiona.
Para o psicólogo, as pessoas têm dificuldade de se apresentar para alguém, por simplesmente pensar que não irão satisfazer as expectativas do próximo. Dizer quem somos é algo muito difícil. E o grande problema é a gente utilizar as redes sociais como uma máscara”, destaca.
Discussões sem fundamentos
Ricardo Mégre também acredita que tudo isso que a internet trouxe é algo que nos faz pensar se está ocorrendo uma mudança inédita nas relações humanas, e as discussões entre os indivíduos são baseadas em informações vazias. Agora essa novidade de um sujeito entrar em uma rede social, com um espaço para liberdade, estamos criando ao mesmo tempo um sujeito mais raso, baseado em achismo, que discute sem determinado conhecimento, onde as pessoas querem impor suas opiniões. Um discurso que não tem um fundamento na razão, e sim, na força. Temos informações cada vez mais rasas e com um julgamento mais rápido ainda”, critica.
De acordo com o psicólogo, a partir do momento que não têm legitimidade, essas discussões sem conhecimento na internet vão se tornando comum, em que todos querem impor seu argumento. Nesses discursos das redes sociais, acontece que a opinião de todo mundo conta. Isso cria um falso paradigma, porque não posso dizer que a opinião de um garoto de 12 anos sobre pena de morte é a mesma que a de um sujeito que está em um grupo de pesquisa durante anos sobre o mesmo tema”, pontua.
Agressividade
Para o psicólogo, o homem tem uma tendência de explorar o mais fraco e de ser agressivo. Por isso, quando se cria um campo virtual onde isso é possível de se praticar, aumenta o número de casos que envolvem esse tipo de comportamento. Quando tiro algo da ordem do social e falo que é um espaço livre, onde cada um fala o que quer, há essa mudança. Essa liberdade pode ser usada pelo homem para colocar toda sua agressividade, porque o ser humano tem como instinto de ser cruel. Nós somos violentos. Tanto que, nas redes sociais, tem regras para não colocar imagens fortes de acidentes, porque, no fundo, as pessoas gostam de ver isso. Quando estamos na internet, em que eu estou protegido por um apelido ou por uma foto qualquer, é a violência que vai surgir”, salienta.
Aparências
Ricardo Mégre também observa que, atualmente, os pais criam os filhos ensinando que, quando alguém está sujo e mal vestido é um indivíduo perigoso e isso comprova que as pessoas vivem em um mundo de aparências, imposto pelas redes sociais. Há uma questão de pouco entendimento com o próximo, nós não reconhecemos o outro pelo o ele de fato é. Além disso, nós agimos e nos protegemos de acordo com o que passa na nossa cabeça, mesmo que a gente não assuma isso”, conta.
Distanciamento
Por fim, o profissional afirma que é possível encontrar, às vezes, em locais de lazer, grupos de pessoas em que cada uma está mexendo no celular, ou seja, mesmo estando próximas fisicamente, na verdade elas não estão juntas. Então, nesse sentido, o laço fica frouxo, falta nós compreendermos o peso da nossa existência. Por mais que as redes sociais nos aproximem de alguma forma, nós temos que tomar cuidado, porque elas nos dão uma sensação de proteção. Então, temos que fazer um bom uso da coisa e acredito que humanidade irá fazer isso um dia. A rede está aí para ser usada, mas ela não está aí para eu esconder”, conclui Ricardo Mégre.
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