15 de setembro, de 2017 | 17:54

Daniel Borges

Divulgação
Hoje entendi porque o destino marcou o nosso encontro naquela quarta-feira.

Foi a antecipação de um adeus, antes de sua dolorosa partida, e esta última foi naquela barbearia onde você deu um trato em seu cabelo, tirando onda com o meu, que não exige nenhum corte diferente, e depois atravessamos a 1º de Maio, e caminhamos pela avenida, jogando conversa fora por mais de duas horas, como sempre fazíamos, sem imaginar que aquele seria o nosso último encontro, a última oportunidade que tive na vida de ter a sua agradável companhia, onde sempre recordávamos dos tempos passados do esporte, principalmente para falar do time do José Manoel e de tantos talentos que a gente viu jogar.

A sua sabedoria sobre o nosso esporte era de dar inveja, uma memória fantástica, e sempre era um aprendizado, cada encontro que a gente tinha nestes quase cinquenta anos de amizade.

Nossos assuntos sempre giravam em torno da nossa infância, a família, os seus e os meus irmãos, das peladas ali na quadra do contingente e também no campo do Ipaminas, o famoso “esfria sol”, onde o saudoso José Manoel comandava o time, lembrávamos ainda do massagista Domingão e de tantos outros que fizeram parte da história no futebol de Ipatinga.

Aqueles jogos em Mesquita, Governador Valadares, Açucena, onde eles não acreditavam que um goleiro com apenas uma perna parava qualquer ataque, com defesas fantásticas, e todo mundo corria atrás do gol que você defendia, como que para se certificar que você não era um super-herói.

Um time com Nié, Glauciomar, Ranulfo, Rilson, eu, Adirce, Célio Esquerdinha, Abel, Herquinho, Egmar, Edmar, Elder, Joesmar, Cabeção, Serginho, Máximo e tantos outros cujos nomes se perdem na minha memória, principalmente pela tristeza do momento.

Uma passagem interessante, e não me lembro mais em que cidade, foi quando um time inteiro apanhou de uma senhora que não aceitava que o time dela fosse derrotado por um time que tinha um goleiro com apenas uma perna. E como foi divertida a nossa infância e juventude no centro da cidade, onde você era a sensação nas peladas e jogos.

Ninguém sentia ciúmes, e você também nunca se sentiu menor do que nenhum de nós por sua deficiência, sempre superou tudo com bom humor e tranquilidade, mesmo a gente brincando com a sua deficiência, coisa que hoje não é mais permitido.

No futebol de salão, no Contingente e em todas as quadras em que você atuou, foi um dos goleiros mais incríveis que eu vi jogar, era mestre em dar carrinhos, e ainda tinha a ousadia de bater tiros de meta, pulando com a muleta quando ainda a usava. Isso sem falar na sua incrível impulsão, que era invejável, e com um detalhe: naquela época a gente não treinava, apenas ia aos domingos para os jogos.

O tempo passou e você resolveu ser desportista. Por sinal, acabou se tornando um excelente dirigente, foi de tudo na Liga de Desportos de Ipatinga, secretário, diretor técnico, presidente, atuou em várias gestões, prestando sempre o melhor serviço aos dirigentes esportivos.

Estas nossas histórias me fazem lembrar do seus pais, Seu Daniel e Dona Nelcina, que moravam na rua 28 de Abril, com aquela varandinha famosa da sua casa, de onde saímos para jogar bola. Daniel Borges também tinha um gosto refinado para a música, era eclético, MPB, rock pauleira, clássico, gostava de Led Zeppelin, Pink Floyd, Peter Frampton, Chicago, Bee Gees e tantos outros que também fizeram parte da nossa juventude.

Hoje não sei mais o que vou dizer. Com lágrimas nos olhos e uma dor muito grande no coração, percebo que perdi um dos meus melhores amigos, um quase irmão, cidadão de caráter, que deixa um legado importante para a cidade, para sua família, seus filhos. A morte às vezes nos manda recado, mas a gente não percebe, e ela chega trazendo muita tristeza. Como eu queria que ela errasse o seu endereço e passasse adiante, para a gente ter um pouco mais de tempo.

Daniel Borges, ou simplesmente Nié: onde for que você estiver agora, pode ter certeza que você foi uma pessoa fantástica, e precisamos sempre contar a sua história para esta nova geração. Você nos deixou sem palavras para expressar o carinho que todos nós tínhamos por você. Partir assim tão de repente não estava combinado.

Lembra que a gente prometeu chegar aos 100 anos? Você não cumpriu o combinado e partiu sem se despedir, mas tenho a certeza de que você não queria deixar ninguém triste, por isto ficou caladinho e caminhou mansamente para os braços de Deus.

Este 11 de setembro vai ficar marcado em nossas vidas. Muitos daqueles muitos que estiveram na sua despedida foram unânimes em destacar a sua bondade, seu bom humor, sua tranquilidade, sua simplicidade e capacidade de sempre agregar bons amigos.

Daniel Borges, a gente gostaria tanto que você tivesse mais um tempinho para trocarmos algumas ideias. Mas a vida é engraçada, ela não nos deu este tempo. Eu só lamento a sua partida de forma tão repentina, como sempre foram as defesas fantásticas que fazia em nosso time. Tenho certeza que, mesmo com pouco tempo, você cumpriu o seu papel. Agora sem você aqui, a vida continua, precisa continuar, pois este é o fluxo da existência.

Posso te garantir que você já está fazendo falta, não vai mais ter graça ir ao centro da cidade e não te encontrar, o telefone com sua chamada não vai mais tocar aqui em casa, como sempre fazia quase todos os dias. Mas vou compreender que a roda da vida não pode parar. Vá com Deus, muita paz no seu coração e que você tenha o merecido descanso nos braços do Senhor. Só posso dizer que valeu muito, mas muito mesmo, ter feito parte de sua vida, como amigo, como um irmão, como um admirador.

“AMIGO É COISA PRA SE GUARDAR, DEBAIXO DE SETE CHAVES, DENTRO DO CORAÇÃO, ASSIM FALAVA A CANÇÃO”.

LEMBRANÇAS
Do dia 11 de setembro de 2017, uma lenda do esporte regional foi ter um derradeiro encontro com Deus, Daniel Borges Pereira.

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Comentários

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Daniel Cristiano Souza

11 de novembro, 2017 | 10:28

“Hoje lembramos do Nié de uma forma especial... Nié completaria mais uma primavera neste dia... Saudades NIE!!!”

Paulo Roberto Malta

11 de outubro, 2017 | 09:09

“na realidade , eu que é agradeço suas palavras, realmente Daniel Borges, foi o meu melhor amigo, uma pessoa extraordinária, de uma simplicidade sem limites, que Deus o tenho e que possa confortar sempre a sua família.”

Belini

18 de setembro, 2017 | 07:33

“Paulo, obrigado por tudo. Suas palavras, seu apoio, sua amizade. Meu irmão foi e será sempre um exemplo de generosidade e, porque não dizer, pureza. Um coração enorme que valorizava, sempre, o bom relacionamento com todos. Respeito, presteza, atenção e uma capacidade incrível de buscar soluções para acabar com os problemas de quem o cercava. Como ele sempre dizia, a oportunidade de tê-lo como irmão, amigo foi um "prazer inenarrável"!”

Gil Marcelo Santos

16 de setembro, 2017 | 15:56

“Bela homenagem e belas palavras ! Obrigado por retratar com tanta precisão o sentimento que nos norteia nesse momento Paulo Roberto . Meu tio-padrinho foi realmente um cara sensacional . Obrigado pelo carinho tanto com ele quanto com toda nossa família . Um abraço do Gil .”

Wiliam Fernandes (genro)

16 de setembro, 2017 | 11:21

“Linda homenagem! Minhas palavras sao as mesmas de tantas pessoas que tiveram a sorte de conhecer sr; Daniel ; assim eu o chamava , agradeco a Deus a oportunidade de conhecer e conviver em familia com essa pessoa tao incrivel . Obrigado sr; Daniel aprendi muito com o sr e pode ter certeza que vou colocar em pratica todos os conselhos. Descanse em paz!”

Felipe Borges

16 de setembro, 2017 | 09:40

“q homenagem SENSACIONAL, ele foi td isso e muito mais”

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