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29 de agosto, de 2017 | 11:27

As Bahias e a Cozinha Mineira lançam “Bixa”

Banda homenageia Caetano Veloso com o nome de seu segundo disco

O novo trabalho da trupe liderada pelas vocalistas trans Raquel Virgínia, Assucena Assucena e pelo guitarrista Rafael Acerbi chega com uma linguagem pop que busca ir fundo na essência inventiva e autoral.

Do reggae em “Mix" ao bolero em “A isca”, a todo instante são exploradas diferentes construções musicais para dar conta do universo que se desenha a partir de motivos e temas do disco.

Nesse sentido, as contribuições do produtor Daniel Ganjaman e do baixista Marcelo Cabral, que têm atuado também ao lado de artistas como Criolo e Elza Soares, enriquecem e trazem uma estética nova ao refinamento musical que a banda busca mostrar desde o primeiro disco.

Divulgação
Assucena Assucena e Raquel Virgínia: As BahiasAssucena Assucena e Raquel Virgínia: As Bahias
A banda As Bahias e a Cozinha Mineira é composta ainda por Carlos Eduardo Samuel (teclado), Danilo Moura (percussão), Vitor Coimbra (bateria) e Rob Ashttonfen (baixo).

Embora se voltem ao agora, tempo lógico do pop, As Bahias e a Cozinha Mineira reverencia o passado sem saudosismo e dialoga com a herança da música brasileira.

Passeando por entre a leveza bossanovística, presente em “O pato” (Jaime Silva/Neuza Teixeira), eternizada por João Gilberto, e as áridas e felinas imagens de “Carcará” (José Cândido/João do Vale) e “Tigresa” (Caetano Veloso), as compositoras se embrenham na mata brasileira em canções como “Pica Pau”, “Urubu Coruja, Coruja Urubu" e “Dama da night”.

De Caetano Veloso, para quem, inclusive, o pop e o tropicalismo se confundem, vem uma das principais inspirações para o disco, inclusive cedendo-lhe o nome. Aos 40 anos do disco Bicho, de Caetano, é possível estabelecer um diálogo que vai muito além da similaridade entre os títulos (Bicho e BIXA).

Assim como o tropicalista que, ao se voltar à cultura iorubá, explorou uma cosmogonia onde os seres humanos e os animais comungam uma só energia, a banda percorre os dois lados de uma esfera, a humanização e animalização, para mostrar o que há de animalesco no humano e o que pode ser enxergado enquanto narrativa no animal.

De um lado, religam nossas raízes à natureza. Do outro, exercem o livre exercício da fabulação para metaforizar, dizer com outras palavras o que muitas vezes pode nos ser caro, como o amor, o desejo e o drama. Nos poucos momentos em que os bichos não entram em cena, há a contemplação da união entre todas as coisas.

Em “Universo” (Raquel Virgínia), a voz de Raquel Virgínia arranha os limites do infinito para estabelecer a fusão oceano-corpo, céu da boca-céu, Terra-eu.

Seguindo o mesmo movimento entre o todo e o detalhe, Assucena Assucena, em “Tendão de Aquiles” (Assucena Assucena), vai do vasto mundo ao calo particular e ao calcanhar individual para apontar os pontos fracos de uma paixão.

BIXA, ao surgir após Mulher, título do disco de estreia da banda, pode, à primeira vista, induzir à leitura de uma transgressão à binaridade de gênero (homem-mulher).

Contudo, a subversão, primeiramente, se encontra justamente no emprego do termo bixa como um termo universalizador do reino animal, que é, via de regra, escrito com a marcação do gênero masculino (bixa versus bicho).

Em segundo lugar, ao escrever o termo com x, em vez do usual ch, As Bahias e a Cozinha Mineira querem pichar o muro e deixar sua marca nas paredes dos códigos normalizantes e moralizadores que não somente estão inscritos nos corpos como também se impregnam nas convenções linguísticas.
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