27 de julho, de 2017 | 11:25

Estradas que elegem

MG-760: agora vai?

Divulgação
Durante os anos JK, a integração do país se dava através da construção de estradas e, sobretudo, na esteira da construção de Brasília. E a ditadura militar deu sequência à esta estratégia desenvolvimentista do mineiro de Diamantina.

O problema é que a abertura de estradas gera capital político para quem é tido como o responsável pela benesse, e a falta de consciência cidadã foi criando mitos eleitorais que acabaram se transformando em notáveis políticos populistas. Passadas mais de cinco décadas, a inovação não chegou à gestão dos governos, seja na esfera federal, estadual ou municipal. Sobretudo quanto aos instrumentos de domínio da sociedade para que esteja subjugada a receber como dádiva algo que por direito é seu.

A construção e melhorias da BR-381, ao longo de várias eleições, tirou figuras do anonimato político para o sucesso nas urnas. Nos últimos 20 anos, prometida por todos, a duplicação deu cargos públicos a forasteiros cujo passado pouco contribuiu efetivamente para o bem-estar da população. Vimos surgir benfeitores da “Rodovia da Morte” que pautaram seus discursos de campanha em cima da expectativa dessa duplicação.

A última a passar por aqui foi a ex-presidente Dilma, que veio assinar uma ordem de serviço para o que seria a duplicação, a ser finalizada, segundo o cronograma inicial, no fim de 2018. O que temos hoje?

Um empenho extraordinário do grupo da sociedade Civil “Agenda de Convergência” impulsionado pela FIEMG Regional Vale do Aço, que procura acompanhar, par e passo, os movimentos das obras de dois lotes de trechos próximos a Caeté e Barão de Cocais e os tramites burocráticos para que os editais dos demais lotes saiam e de fato sejam contemplados por propostas dentro de valores mais adequados a realidade atual dos cofres públicos.

Desvio
Só que o protagonismo da BR-381, nos últimos dois anos, sofreu um “desvio” para a MG 760, estrada que liga as regiões do Vale do Aço e Zona da Mata, cerca de 60 quilômetros entre o distrito de Cava Grande, em Marliéria e São José do Goiabal, e outros doze a serem melhorados entre Goiabal e a BR-262).

E a história remete a três ordens de serviço, que vão dos anos 80, no governo Newton Cardoso, passando pelo atabalhoado início das obras sem licenciamento ambiental efetuado pelo ex-governador Antônio Anastasia em 2013 e, por fim, a ordem de serviço assinada na quarta-feira (26) pelo governador Fernando Pimentel.

Um fato político, com participação de centenas de pessoas das cidades que serão diretamente beneficiadas pela pavimentação da MG-760, além dos respectivos prefeitos, vereadores, lideranças empresariais e comunitárias. E assim, com um público farto, Pimentel assinou a Ordem de Serviço para que as obras de pavimentação da rodovia estadual sejam retomadas.

A questão que se abre é que estamos em ano pré-eleitoral, e matar uma “galinha dos ovos de ouro” que pode ajudar na eleição de tantos deputados estaduais, federais, senadores e governador em 2018 e no futuro não me parece obedecer a lógica política. As estradas prometidas e não concluídas contribuem para a manutenção de um sistema político arcaico, que permite o entendimento de que o dinheiro utilizado para essas obras vem dos governantes, e não dos contribuintes.

É importante salientar que o impulso ao desenvolvimento da nossa região e a Zona da Mata mineira depende da pavimentação dessa via. Não quero me fazer passar por um “estraga prazeres”, mas a BR-381 deixou uma geração de céticos. E tenho trabalhado muito para acabar com isso. Fatos novos e positivos para a região, principalmente que sejam indutores de projetos de geração de emprego e renda, são muito esperados e saudados por todos nós.

Há investimentos nas cidades alcançadas pela pavimentação da via que esperam a concretização da MG-760 para que sejam injetados valores em sua conclusão. Porém, as práticas próprias do mundo político para a manutenção do poder me obrigam a ter uma postura mais cautelosa, e alertar aos meus leitores que tenham o mesmo cuidado. Que não trabalhem contra! Muito antes ao contrário, que apoiem essa iniciativa! Porém, que não se deixem levar nem sejam enganados pelo canto da sereia.

Parto
Na solenidade de assinatura da ordem de serviço no Parque Estadual do Rio Doce, o nascimento da “criança”, foi subliminarmente reivindicado e assumido por vários pais.

Quando as obras foram suspensas, em dezembro de 2013, por decisão da juíza Lilian Maciel Santos, da 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual e Autarquias da Comarca de Belo Horizonte, deferindo o pedido de liminar formulado pelo Ministério Público de Minas Gerais, ninguém se responsabilizou. Quem autorizou o início das obras sem submetê-las às condicionantes ambientais legais não se apresentou. E isso apenas comprovou que “filho feio não tem pai”.

Que a assinatura sob os olhos de farto público tenha sido, dessa vez, um gesto para calar definitivamente a todos que duvidam que os recursos necessários para a pavimentação estejam intactos esperando a retomada. Porque o que temos visto recentemente é uma crise financeira sem precedentes do governo estadual, obrigando-o a “passar o chapéu” até nos depósitos judiciais para poder ao menos parcelar o pagamento devido aos servidores. Que estejam lá, no Banco do Brasil, os mais de R$80 milhões necessários para as obras irem até o fim.
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