14 de junho, de 2017 | 13:10
Gestão Lean: uma necessidade para todos os negócios
Sidney Rago
No final da década de 80 e início da década de 1990, quando estávamos em plena implementação das técnicas de qualidade & produtividade, ouvíamos uma desculpa padrão: Isso é coisa de japonês”. Com os primeiros cases de sucesso no Brasil, começamos a ouvir isso é coisa de indústria automobilística”, depois isso é coisa de indústria”, E hoje, após seguidos cases de sucesso nos segmentos de serviço, operadores logísticos, hospitais, construção civil e outros, todos esses tabus caíram por terra.Qual foi o segredo do sucesso? É bem simples: lá atrás começamos essas implementações pelas ferramentas operacionais, que sem dúvida têm mais aderência a determinados tipos de operação, por exemplo: células de manufatura, kanban para processos de manufatura discreta, Manutenção Produtiva Total (MPT), OEE - Overall Equipment Effectiveness - Eficiência Global do Equipamento, para processos contínuos de produção com alto investimento em ativos.
Mas o que todos estes negócios têm em comum? A gestão. Ou seja, quando incluímos os conceitos de qualidade e produtividade na gestão de qualquer negócio, conseguimos inserir a competitividade diretamente no DNA das organizações. Porém, quando começamos a trilhar esse caminho, detectamos a primeira oportunidade: as organizações têm muita dificuldade em fazer gestão, em todos os níveis: estratégica, tática e operacional.
As poucas que se atrevem a desenvolver seus planejamentos estratégicos” concentram seus esforços nas estratégias e param por aí. E as estratégias acabam não tendo nenhuma conexão com o mundo real, ou seja, com o curto prazo da operação.
Essas informações muitas vezes mal formatadas vão parar nas mãos de gerentes sobrecarregados e despreparados que também acabam por engavetar seus planos em função dos incêndios do dia a dia. Ou seja, a prioridade que se dá às estratégias é zero. Principalmente por não termos claro o que fazer com elas. Ou seja, cada departamento irá se virar do seu jeito, para no final do ano começarmos tudo de novo, investindo cada vez menos tempo no planejamento e no controle do plano. Sem nenhuma sistematização.
Portanto, temos que começar pelo começo: definindo primeiramente o que é gestão e ajudando os executivos a praticarem no seu dia a dia em todos os níveis: estratégico, tático e operacional. Aliás essa é outra grande dificuldade: muita gente pensa que quem deve fazer gestão são os diretores e gerentes, quando hoje em dia, nos ambientes mais avançados, todos fazem gestão: do P ao P, do Presidente ao Porteiro” da empresa”. O que difere é o horizonte e a abrangência de cada um de maneira sistemática. Sem ter disciplina, não há gestão.
Diretores deveriam investir seu tempo na Gestão Estratégica, ou seja, rodar seu PDCA Plan, Do, Check, Action anualmente. Gerentes mensalmente, e supervisores e encarregados diariamente. E esses planos deveriam ter uma forte conexão, chamada de desdobramento, iniciando-se com os objetivos estratégicos, para o ano seguinte, depois com a definição das estratégias que garantirão o atingimento desses objetivos, indicadores táticos a serem acompanhados mensalmente e operacionais, diária e as vezes a cada hora.
De preferência com todas as informações relevantes em quadros de Gestão à Vista, que são monitorados sistematicamente em cada um desses níveis da organização. Gestão significa manter em nosso radar aquilo que é importante e relevante nas nossas organizações, em todos os níveis, estratégico, tático e operacional.
Esse modelo, conhecido como Hoshin Kanri, garante o foco e atenção necessários a tudo o que é importante para a empresa, garantindo que as ferramentas mencionadas no início do artigo sejam devidamente implementadas, mantidas e melhoradas continuamente, e mais do que isso, que estas ferramentas garantam a melhoria do resultado das organizações.
Nosso desafio está muito além da implementação de ferramentas, mas é fazer com que a implementação gere resultados tangíveis e consistentes para nossas organizações, diga-se de passagem, qualquer tipo de organização.
A Gestão com Ênfase na Melhoria Contínua da Organização é muito mais que uma moda, mas um meio de garantir o aumento contínuo da competitividade, ou a luta constante pela sobrevivência, hoje e no futuro, em qualquer tipo de negócio.
* Formado em Engenharia Mecânica pela FEI, MBA em Gestão Empresarial na FGV e extensão na Universidade da Califórnia (EUA). Gerente da Divisão de Estratégias e Performance da IMAM Consultoria, instrutor da IMAM em cursos de aperfeiçoamento em Logística, Produtividade, Custos Industriais e Liderança.
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