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02 de junho, de 2017 | 10:13

Do dia e do futuro da indústria mineira

Stefan Salej

Divulgação
Que indústria? A que, nos últimos 15 anos, dominada pela liderança de um grupo empresarial só, perdeu 30% (dado da própria entidade da indústria, mas, na realidade, foi muito mais) em faturamento e em empregos. Minguou. E perdeu o controle e o comando para fora do estado e do país. Perdeu competitividade, e o que sobrou foi sustentado pelos incentivos fiscais para grandes empresas vindas de fora, ou pela teimosia e falta de opção de milhares de pequenos e médios empresários de origem mineira que persistem, apesar de tudo.

É o caso da briga pelo controle e destruição da Usiminas, além da instalação da fábrica mais moderna da Fiat em Pernambuco, como o do endividamento brutal da Cemig (para pagar os dividendos aos sócios privados e ao estado falido), além do desastre ecológico da Samarco (uma das centenas, em área tão sensível para a economia do estado), que só reforçam a tese da crise que existe na indústria mineira.

Não no final, pode ser dizer que os campeões na área de engenharia, como a AG, foram também campeões da Lava-Jato, filhote do Mensalão, começado por agentes publicitários mineiros.

Pode-se a tudo isso juntar a falta de mão de obra qualificada no estado para a indústria do século 21, ao mesmo tempo em que se excedem projetos megalomaníacos na área de pseudo tecnologia e testes, que beneficiam os que detêm o poder nas entidades, e não a maioria empresarial que está entregue ao seu próprio destino.

E também não se pode esquecer uma massa trabalhadora abandonada no desemprego e desespero pelas circunstancias, que não têm oportunidade de requalificação, enquanto a indústria se gaba de sua contribuição social através de projetos de marketing.

Em resumo, a situação atual em que se encontra indústria mineira é dramática, e a história, como o cumprimento das leis, vai fazer seu julgamento, pela falta de projeto de desenvolvimento em troca de benesses empresariais e pessoais, em estreita colaboração com políticos hoje na berlinda judiciaria.

Agora, não é da condenação dos atores desta façanha, conhecidos por todos, que se vai construir uma nova indústria de Minas. Esse é papel da justiça. Mas o que se precisa urgentemente é, além de um diagnóstico nos moldes que foram feitos por Fernando Reis e, posteriormente, por Carlos Alberto Teixeira, no BDMG, ou por Clélio Campolina, na UFMG, que a nova geração de empresários industriais assuma a estratégia de desenvolvimento industrial de Minas.

Não há a mínima possibilidade de desenvolvimento do estado sem essa mudança de paradigma de liderança e de visão realista. Sem indústria competitiva, baseada em valores éticos, começando pelas lideranças (e vamos lembrar as lições de Nansen Araújo, José Alencar, José da Costa, entre outros), mas com atualização tecnológica e inserção internacional, reforçando o capitalismo mineiro e o empresário local, não há nenhum futuro.

Deixar como está e continuar com o modelo que empurrou a indústria mineira nos últimos 15 anos para o desastre que estamos presenciando é conscientemente insistir para que alguns maiorais, usando o espaço de liderança, se beneficiem, em prejuízo de milhares de empresas corretas, batalhadoras, e que querem crescer junto com a sociedade. O to be or not to be. Hamlet, no podre reino da Dinamarca.

* Empresário. Ex-presidente do Sebrae Minas e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais.
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