18 de maio, de 2017 | 09:43
O que é, o que não é, e o que pode ser no atual cenário político do país
Beto Oliveira
Os vazamentos divulgados sobre Temer e Aécio nesta quarta-feira (17/5) fazem a Operação Lava Jato alcançar, de forma mais explícita, o PMDB e o PSDB, que, juntos com o PT, também enrolado na operação, protagonizaram a vida política do país nas últimas eleições.Com isso surge o grito fácil de que tudo é a mesma coisa”, político é tudo ladrão”, vamos tirar todo mundo” e outros gritos roucos que por aí ecoam. Ora, esses são gritos de desabafos que servem para uma descarga catártica, mais do que para reflexão.
A reflexão que podemos extrair desses comentários, embora poucos a contemplem de fato, é que realmente o sistema político do nosso país está falido e, mais do que urgente, é necessária uma reforma política séria, com ampla participação da população e que deixe de fora as forças econômicas, corruptoras históricas desses esquemas, como revelam novamente JBS, OAS e Odebrecht.
Afinal, ainda que tirássemos todos os políticos, assim como reivindicam alguns, com o sistema que temos é enorme a possibilidade de uma turma semelhante, patrocinada pelas mesmas forças, alcançar o poder.
No entanto, é preciso ir além dos gritos que tentam dizimar as diferenças, afirmando que tudo é igual nesse cenário, e fazer também algumas distinções, rever vários conceitos e repensar a forma de fazer política no país, para que então alcancemos uma possibilidade de reforma. Comecemos por algumas distinções.
Primeiro é preciso reconhecer que existem nesse jogo projetos distintos para o país. Mesmo que o espectro direita/esquerda seja um pouco confuso no Brasil (com o Partido Progressista sendo um dos mais reacionários e tendo já abrigado Maluf e Bolsonaro, e com o Partido Social Democrata Brasileiro apoiando medidas que tiram direitos sociais democratas como bolsa família e uma previdência minimamente justa, ou ainda com o Partido dos Trabalhadores colocando Joaquim Levi na Fazenda), é preciso distinguir que há projetos diferentes.
Portanto, não se trata apenas de descobrir quem é o menos corrupto, como sugerem alguns. As gravações contra Aécio ou Temer não farão seus apoiadores defenderem bandeiras da esquerda, nem o surgimento de provas contra Lula, caso advenham, fará seus eleitores apoiarem a Ponte para o Futuro.
Isso exige debate, pois é no campo das ideias que os projetos precisam ser discutidos. Senão resgataremos o mesmo baixo nível dos debates das últimas eleições, onde a questão moral dominava a discussão escamoteando os distintos programas dos candidatos (alguns nem apresentaram projetos). Claro que a questão moral é muito relevante e tem que ser discutida, mas quando ela se torna a única pauta, as eleições viram um mero ataque pessoal que ofusca uma discussão séria sobre o futuro do país.
Outra distinção necessária é entre a gravação que revela o acerto do silêncio de um réu (como ocorreu com Temer) e as chamadas Pedaladas Fiscais, até o momento única ilegalidade que provaram contra Dilma. Não podemos pensar que as duas denúncias têm o mesmo peso quando se discute a viabilidade de um processo de impeachment.
Da mesma forma que não é equivalente uma delação com provas e gravações e uma delação sem provas. Ou uma ameaça de matar uma pessoa antes que ela delate e a suposta busca por um foro privilegiado. Ou então reduzir todo o processo da Lava Jato à figura de Moro.
Os áudios de Temer e Aécio, por exemplo, estão mais ligados ao ministro Fachin, relator da Lava Jato, do que a Moro, que negou a delação de Cunha. Nada disso traz uma conclusão definitiva, e mesmo com gravações, todos devem ter direito a uma ampla defesa. Os culpados e inocentes são dados somente após julgamento, mas é preciso, desde já, ficar atento às distinções.
* Psicólogo. Mestre em Estudos Psicanalíticos pela UFMG. Coordenador do Centro de Estudos e Pesquisa em Psicanálise do Vale do Aço. Autor do romance O dia em que conheci Sophia” e da peça teatral A família de Arthur”.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
Gildázio Garcia Vitor
18 de maio, 2017 | 10:57Excelente artigo! Muito bem escrito e racionalmente inteligente.”