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17 de maio, de 2017 | 08:48

Da vergonha, revolta e tristeza

Stefan Salej

Divulgação
Neste momento, não há programa mais excitante do que os depoimentos dos executivos e donos da Construtora Odebrecht, de Salvador, a maior empreiteira do Brasil, sobre como eles agiram nos últimos anos. Aliás, construtora que tinha, tempos atrás, o nome do seu fundador Norberto, e que editou um livro pesado sobre o seu modelo de negócios, que seria um exemplo para a gestão de empresas no Brasil. Da Bahia para o mundo. Um mundo subterrâneo e de subterfúgios, de compra do Congresso Nacional, do governo e dos seus lacaios políticos. 

Para quem atua na área empresarial, nada de novo. E tem mais: nada de novo desde que tínhamos, nos anos 60, a idade de colegiais. Já em 1960, Jânio Quadros exibia uma vassoura para banir a corrupção deixada pelo saudoso JK. Os militares do golpe de 1964 exibiam a luta contra a corrupção, junto com o anticomunismo, como trunfo para se manter no poder. Quem não lembra dos Inquérito policial Militar (IPM) e dos tribunais de exceção?

A Odebrecht foi exposta e todo mundo ficou chocado. Mas as delações dessa empresa são histórias da carochinha, se colocadas junto às delações já julgadas das outras empreiteiras, inclusive da nossa querida Andrade Gutierrez, parceira da Odebrecht em aventuras incríveis, e se examinarmos outras redes de corrupção como os setores elétrico, de saneamento, telecomunicações, privatizações e créditos nos bancos oficiais. E mais, se o sistema funcionou na escala federal, imagina o que acontece nos estados e municípios. 

Uma aliança político-empresarial sofisticada, que corroeu a democracia e a economia de mercado e destruiu todo e qualquer valor moral da sociedade brasileira. De qual sociedade? Dos desempregados, dos pobres, dos desesperados, que hoje estão à mercê dos criminosos do narcotráfico, ou da sociedade de elite que aplaudia o sucesso dos Odebrecht (descendente de alemães que teoricamente deveriam ter algum valor moral) que tomaram conta do nosso Brasil.

Os valores que implementaram no nosso nariz com aplauso de toda a sociedade (nos últimos anos, dos industriais do ano de Minas, vários estão presos) e em especial o empresarial, destruíram qualquer base de sustentabilidade.

É uma vergonha da qual participamos como eleitores. É uma vergonha da qual participamos como cidadãos. A Odebrecht continua como todos eles, rica, poderosa, rindo de todos nós, como todos os seus colegas empresários e políticos. Ninguém se abala (com raras exceções que confirmam a regra), ninguém fica mais pobre, e todos eles com tornozeleira frouxa continuam fazendo o que sempre fizeram: negócios escusos.

Nenhuma entidade empresarial nesse processo todo da Lava Jato emitiu uma nota de repulsa, fez um novo código de conduta, expulsou seus sócios corruptos. Nada. Porque no fundo acreditam que esse é o modelo de negócios que predomina no país e com o qual você pode ficar rico.

É uma tristeza que a nossa geração de jovens da década de 60 deixe como herança este Brasil tão apodrecido e empobrecido. Tudo isso para dizer que, com o ganho à custa de miséria e desemprego, é mais seguro viver em Miami. Erramos, mas ainda há tempo de corrigir, de mudar o rumo. Não com a hipocrisia dos Odebrecht que salta aos olhos, mas com mudança de atitude para valer, com mudança do modelo de valores deste país, onde tem sim, gente honesta e trabalhadora, que foi enganada. Onde sim, há empresários sérios e honestos que podem mudar o rumo.

* Empresário. Ex-presidente do Sebrae Minas e da Federação de Indústrias do Estado de Minas Gerais.
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