16 de maio, de 2017 | 11:19

Brasil: o pais dos contrastes

Antônio Carlos da Silva Rezende

Divulgação
Teremos uma espetacular produção agrícola de grãos, de aproximadamente 228 milhões de toneladas para a safra 2016/2017, atualizada pela CONAB em abril (festejamos 50 milhões em 1998 e 100 milhões de toneladas em 2002, e o principal fator foi aumento de produtividade aproximada de 50% a 80% por tipo de grão), devendo injetar R$194 bilhões na economia no período.

Além do clima, o aumento de produtividade se deve ao suporte técnico dado pela Embrapa, aos financiamentos para o plantio e seguros pelos órgãos oficiais, e às cooperativas que dão suporte para a comercialização, além do apoio técnico e financeiro.

Em relação ao comércio exterior em 2016, os números também importam, pois do saldo da balança comercial de U$47,7 bilhões e U$185,2 bilhões de exportação, U$41,3 bilhões (22,30%) correspondem a produtos agrícolas, tendo no 1º lugar a soja em grão com 10,4% (em 2º vem o minério de ferro com 7,2%), seguidos por açúcar, farelo de soja, café e milho em grão (principais fontes são o IBGE e CONAB, utilizando diferentes métodos e períodos de análise).

Pois bem, com tantos números positivos, eis os contrastes: Muitos estudos já indicaram que o Brasil tem ótimos indicadores e custos em relação à produtividade agrícola (dentro da porteira), mas em contrapartida temos deficiência em armazenagem, que implica na falta de capacidade de estocar a safra para poder aguardar o melhor momento de comercialização, além dos piores custos de transporte (aproximadamente 25% a 30% do valor de venda do produto), comparados aos grandes “players” internacionais.

Em nossa matriz de transportes, o rodoviário de cargas – TRC - tem muita relevância (60%), agravado pelo fato de que, na origem (fazendas), é inevitável a utilização do TRC, mesmo que parte seja depois transferida para os modais ferroviário e hidroviário, com destino aos portos para exportação.

O Brasil é um país de dimensões continentais e os caminhões percorrem em média de 800 a 1.000 km (Ageitec/Embrapa) em 62% de estradas consideradas regulares, ruins ou péssimas, além das não pavimentadas, gerando perdas estimadas em R$ 3,8 bilhões por ano, segundo estudo encomendado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), situação agravada pelas filas de espera para descarga, principalmente nos portos.

O Brasil tem um triste histórico relacionado ao investimento em ferrovias (transporte mais barato que o rodoviário), para as quais existe um plano de implantação e privatizações que tem muitas dificuldades em sair do papel, além das dificuldades para utilização do transporte hidroviário (de menor custo em relação ao ferroviário), porém com dificuldades em relação ao calado (profundidade dos rios) e aos aspectos ambientais.

Quanto ao TRC, vamos fazer uma simples simulação: se o transporte de grãos utiliza normalmente carretas e bi-trens com capacidade média de 40t, serão feitas absurdas 5 milhões de viagens de média e longa distância, lembrando que uma composição com 60 vagões com capacidade de 40t transporta 2.400t por viagem. Além do grande número de caminhões, muitas vezes eles trafegam com excesso de carga, o que piora ainda mais o estado das estradas.

Além dos problemas relacionados aos transportes, existe a agravante da exportação de produtos primários de baixo valor agregado, que além de diminuir os valores exportados também reduzem o número de postos de trabalho no Brasil, apesar que temos que ser realistas em relação as dificuldades/concorrência para a comercialização de produtos de maior valor agregado no mercado internacional.

Concluindo, fica claro que temos um longo e árduo caminho a percorrer e que a melhoria da logística (armazenagem e transporte) é o ponto que podemos e devemos atuar em médio prazo, e que poderá gerar inclusive melhores margens de lucro e maior competitividade no mercado internacional.

* Engenheiro mecânico e de segurança no trabalho, gerente da divisão de logística do IMAM - treinamento, publicações e consultoria.
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