25 de abril, de 2017 | 15:44

Mulher é agredida e tem turbante jogado no chão em festa de formatura, em Uberlândia

Caso ocorrido no fim de semana é investigado pela Polícia Civil como agressão física motivada por preconceito racial

Reprodução: Facebook
O caso foi registrado na Polícia Civil como agressão física motivada por preconceito racialO caso foi registrado na Polícia Civil como agressão física motivada por preconceito racial
No último sábado (22), a pedagoga e conselheira do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), Dandara Tonantzin Castro, 23, foi agredida durante um baile de formatura de engenharia civil, do qual era convidada de um amigo de infância em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Para completar a produção para a festa, ela escolheu um turbante dourado e o acessório – símbolo da cultura negra – parece ter incomodado a alguns presentes a ponto de a mulher ter sido agredida por causa dele. "Quando eu cheguei, já percebi olhares estranhos, mas acabei relaxando e aproveitando a festa”, conta.

No fim da festa, já na manhã de domingo (23), o grupo foi para uma arena no mesmo espaço, onde a comemoração continuaria. Ali, um homem puxou o turbante de Dandara pela primeira vez. "Eu falei para ele tirar a mão da minha cabeça", diz. Depois, ao passar novamente pelo mesmo homem, ele voltou a puxar o turbante. Ela reagiu e ele, segundo conta, chamou alguns amigos. "Veio outro e jogou meu turbante no chão. Depois, eles começaram a jogar cerveja na minha cabeça e a rir de mim", lembra. Os amigos de Dandara acionaram a segurança da festa e dois deles foram retirados do local.

O caso foi registrado na Polícia Civil como agressão física motivada por preconceito racial. O órgão afirmou que apura o ocorrido e que não divulgará detalhes para não atrapalhar as investigações. De acordo com Dandara, a delegada não quis registrar o ato como racismo. A Polícia Civil não informou o motivo da recusa. O (CNPIR) acompanha o caso e prepara uma nota em solidariedade a Dandara.

Dandara conta ainda que foi agredida verbalmente e ameaçada pelas namoradas dos rapazes, que a acusaram de ser a responsável pela expulsão deles da festa e queriam que ela também fosse retirada do local.

"Presença que incomoda"

Dandara contou a história em seu Facebook na manhã de domingo e, até as 18h30 desta segunda-feira (24), o post tinha mais de 46 mil curtidas e quase 12 mil compartilhamentos, além de cerca de 8.000 comentários. A maioria das opiniões era de apoio a Dandara, mas também houve quem a acusasse de se fazer de vítima ou querer aparecer. O título da publicação é "A nossa presença incomoda", porque é exatamente assim que Dandara diz ter se sentido no ambiente.

O conselheiro representante da Sociedade Civil no CNPIR, Rodger Richer de Santana Rocha, diz que esse tipo de agressão - motivada pelo uso do turbante ou de outro elemento da cultura negra - é comum e que, em muitos casos, não há denúncias. "As pessoas têm medo de denunciar e serem agredidas físicas ou verbalmente e nas redes sociais, acusadas de vitimismo", diz.

O caso de Dandara quase foi mais um sem registro. "Quando eu saí de lá, eu só queria esquecer. Mas, quando fui contar para a minha mãe, fiquei muito mal e percebi que não podia naturalizar esse caso, agir como se nada tivesse acontecido", afirma. Ela conta que usa turbantes no cotidiano e já foi alvo de olhares e comentários desrespeitosos, mas nunca tinha sido agredida antes.

Em Minas Gerais, a Secretaria de Segurança Pública informa que foram registrados 298 casos de injúria racial entre janeiro e novembro de 2016. O número é 4% menor do que no mesmo período do ano anterior.

A Universidade Federal de Uberlândia (UFU), onde os formandos estudaram, e o Palácio de Cristal, onde a festa ocorreu, divulgaram notas de repúdio a casos de violência e discriminação. O Palácio de Cristal afirma que seus seguranças conduziram o caso com "todo profissionalismo" e lamentou o ocorrido em suas dependências.

(Com informações: O Tempo)
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