11 de abril, de 2017 | 09:53

Os vizinhos inquietos

Stefan Salej

Divulgação
A América Latina estava, nos últimos tempos, com exceção da Venezuela, um pouco fora da atenção internacional. Os eventos no Brasil, em especial o desastre econômico que o país enfrenta, continuam exigindo muita atenção mundial por causa dos investimentos estrangeiros que temos.

A Carne Fraca, sim, foi uma publicidade da pior qualidade para o Brasil, inclusive ofuscando a inesperada redenção da seleção canarinho, que, com oito vitórias, voltou a jogar um futebol de boa qualidade. Mas os nossos vizinhos estão sendo um motivo de preocupação, inclusive para a própria estabilidade brasileira.

De um lado, o acordo de paz celebrado na Colômbia, entre o governo e os guerrilheiros da narco-marxista FARC, traz um pouco mais de tranquilidade, mas deixa no ar a pergunta: onde e quem vai produzir coca agora. Um negócio tão lucrativo e em crescimento constante não se deixa por amor à causa, mas muda de lugar.

E esperamos que, em uma fronteira frágil, os colombianos não façam no território brasileiro sua nova base de produção, porque de distribuição e logística já fizeram. Mas, a fronteira mais frágil nossa hoje em todos os sentidos é com a Venezuela. Não por invasão dos venezuelanos, procurando a comida que lá não tem mais, mas por todo um conjunto de medidas políticas que levaram aquele país a uma ruína democrática.

A última confusão com o fechamento de fato do Congresso eleito e substituído pela Corte de Justiça, depois revertida, mostra um país com uma liderança sem rumo e sem prumo. O governo Maduro é um governo que cria desgoverno e um símbolo de caos perigoso. O pior de tudo é que deve muitos bilhões ao Brasil, que ninguém sabe quando vai pagar. Aliás, uma das razões dessa situação venezuelana é que, nos governos Lula e Dilma, tinha amizade demais e agora tem indiferença demais. Essa situação, sem ajuda do Brasil, não vai se resolver nunca.

Se as eleições no Equador, outro irmão boliviariano da Venezuela, Cuba e Bolívia, mostram certa maturidade política e tranquilidade, as notícias sobre a saúde do Presidente da Bolívia, em tratamento em Cuba, não são exatamente algo que poderíamos chamar de boas. A Bolívia tem uma tendência histórica a criar, no vácuo de poder, soluções não muito democráticas.

E a lição de Morales, tentando um quarto mandato que teve rejeição total da população, de nada serviram ao Presidente Carteles, do vizinho do Sul, o Paraguai. A tentativa de mudar a constituição para permitir a reeleição teve forte reação da população, em um momento em que mais e mais indústrias brasileiras estão mudando para lá.

Em resumo, nossas fronteiras estão cheias de intranquilidade, ou seja, somos nós mesmos uma ilha sacudida por terremotos políticos num arquipélago que começa a dar sinais de erupções políticas que estão mudando o cenário democrático de alguns anos. E isso sem esquecer que a vizinha do Norte, a Guiana Francesa, nossa maior fronteira com a União Europeia, está em greve geral, parada, com seu aeroporto fechado há semanas. É a França revoltada na porta do Brasil. Haja calma nesta hora!

* Empresário, ex-presidente do SEBRAE Minas e da Federação das Indústrias de Minas Gerais.
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