01 de abril, de 2017 | 11:18

Só picuinhas

Divulgação
Chamou a atenção na última semana, entre as várias discussões crônicas do futebol brasileiro, duas que tiveram e continuam tendo repercussão na imprensa. A primeira é o nosso malfadado calendário, que tem uma quantidade insana de jogos, alguns sem nenhum propósito, ou seja, que não decidem nem valem nada, além de competições saturadas como os estaduais, com seus estádios vazios e prejuízo na certa para os clubes.

A outra é a violência dentro e fora dos estádios, onde pelo menos nós, da imprensa, sempre fizemos a nossa parte, apregoando aos quatro ventos que a rivalidade entre clubes deve se restringir às quatro linhas do campo, ou ainda que, fora delas, os clubes devem ser parceiros, aliados, para o bem deles próprios, das suas competições e, é claro, do futebol.

Mas aqui nos nossos grotões parece que pouquíssima gente dos clubes, ou ninguém mesmo, sobretudo os dois chamados “grandes”, se mostra sensível a essa teoria, que, aliás, já devia estar em prática há muito tempo.

Chega a ser ridícula essa picuinha entre as diretorias de Cruzeiro e Atlético, onde seus principais dirigentes, às vésperas de clássicos como este de ontem, fazem de tudo para prejudicar uns aos outros, e obviamente desmoralizam o espetáculo.

Para definir essas desavenças entre os dirigentes, usei aqui o termo “picuinha”, que segundo o “pai dos burros” do Aurélio Buarque de Holanda quer dizer “implicância, aborrecimento a terceiros, pentelhação, fofoca, insignificância”, pois a meu juízo, eles carregam uma natureza até de infantilidade.

Por outro lado, é inegável que este tom bélico das discussões acaba por incitar a violência entre grupos de torcedores das tais “organizadas”, sempre prontos a matar-se uns aos outros, como se o futebol fosse uma guerra ou algo de vida ou morte.

Mas os nossos cartolas são mestres mesmo em fomentar tais picuinhas no futebol, a começar pelo acesso e quantidade dos torcedores nos estádios, implicando com bandeiras, instrumentos musicais, mascotes e até com as crianças que entram em campo de mãos dadas com os jogadores, mal sabendo eles que serão estes pequenos que, no futuro, manterão - ou não - o futebol vivo.

Essa conta eu debito à política moribunda e rasteira que envolve hoje o nosso futebol, gerido de forma arcaica e cabulosa pela CBF e federações, fazendo com que dirigentes de todo o país, e não só de Cruzeiro e Atlético, ao invés de cultivarem a rivalidade apenas no campo esportivo e competitivo, ajam infantilmente fomentando picuinhas que só servem para afastar ainda mais os torcedores dos estádios.

Alguns pequenos detalhes na redação e divulgação das notícias envolvendo os clubes poderiam ser evitados, o que certamente daria uma contribuição enorme para a diminuição da violência. Nas matérias de jornais e sites, nas falas dos repórteres e narradores, ao invés de definir o jogo de futebol como um “duelo”, nós poderíamos usar outros termos, como “confronto”, “disputa”, “partida” etc. Soa bem melhor, ao invés dessa aparência de “guerra”, de “vida” ou “morte”, que se dá hoje ao jogo de futebol.

Fora das quatro linhas é preciso que os dirigentes ajam de forma madura e inteligente, o que não se vê hoje. Ao invés de lutarem juntos em prol da organização do futebol brasileiro, do seu planejamento, da sua força financeira e outros benefícios, inclusive para as torcidas que sustentam os espetáculos, o que de fato se se vê são acontecimentos lamentáveis como estes antecedendo o nosso maior clássico, envolvendo Raposa, Galo e até a Federação Mineira, com troca de farpas e disparo de acusações de todos os lados.

Enquanto os cartolas se preocupam em brigar entre si por picuinhas insignificantes, a atual direção da CBF praticou na última semana uma manobra visando se perpetuar no poder, ao aumentar o poder das federações, que passam agora a ter peso 3 na votação para eleição na entidade. E nem convidou os clubes das séries A e B para participar da assembleia.

A rasteira foi criticada pela mídia, não com a repercussão merecida, mas entre os clubes foi ainda pior. Apenas o presidente do Flamengo veio a público criticar a manobra, além de um único profissional do futebol, o técnico Paulo Autuori, do Atlético-PR. Ainda há tempo de reagir, mas sinceramente não vejo disposição e muito menos força dos nossos cartolas para isso.

Tirando o narrador, que tem voz de peixe, além do áudio muito ruim e o excesso de barulho da torcida, vale a pena conferir hoje, às 15h45, a transmissão do canal “Esporte Interativo” de Sport/PE x Campinense/PB, que vão jogar em Recife decidindo quem passa à semifinal da Copa do Nordeste. De um lado estará Ney Franco, que depois de um ano se reciclando nos Estados Unidos, assumiu o rubro-negro pernambucano.

E no comando do Campinense estará outro treinador da região que tenta deslanchar na carreira, Ney da Mata, que se deu melhor no primeiro confronto, em casa, vencido por 3 x 1 pelos paraibanos, que hoje podem até perder por um gol de diferença que se classificam. “O passado, alguém já escreveu, é o nosso maior tesouro. Às vezes, diz o que fazer. Às vezes, aponta o que evitar”. Carlos Chagas, comentarista político. (Fecha o pano!)
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