30 de março, de 2017 | 10:15

O pão de queijo francês

Stefab Salej

Divulgação
Impossível! Pão de queijo é algo tão peculiar, tão mineiro, ligado às montanhas e ao povo mineiro, que francês, que faz maravilhas com pães (que o digam os padeiros mineiros que foram lá aprender em um programa chamado Companheiros do Dever, organizado pela FIEMG, em parceria com a Embaixada do Brasil em Paris, nos anos 2000), não deve fazer pão de queijo.

Mas hoje, nos supermercados dos franceses no Brasil, como o Pão de Açúcar, você acha maravilhas das padarias francesas, como croissants fresquinhos. Eles vêm congelados de avião e, esquentados na hora, nada perdem em gosto para os que são servidas na França.

Você também tem os queijos mineiros, que francês não faz. Ou os vinhos franceses, que mineiro não faz. E vinhos, como o Malbec, o mais famoso vinho argentino, que os franceses já fazem. Malbec francês, tão bom como o argentino e, nas lojas em São Paulo, mais barato. E a cachaça mineira, hoje em média mais cara do que uísque escocês?

Na verdade, a melhoria significativa de qualidade, e que abriu os caminhos do mundo, foi feita com os franceses. Mas a história não acaba aí: daqui a alguns anos você vai comprar automóvel fabricado na Europa sem pagar taxa de importação, e, portanto, terá na mesa e na estrada produtos europeus da melhor qualidade por preços bem menores.

E o verso da medalha também é verdade: os europeus poderão comprar os nossos produtos lá, sem pagar taxas de importação, que, segundo eles, oneram os produtos deles nos mercados do Mercosul, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, em quase 24 bilhões de reais por ano. E tudo isso será possível se for assinado até o fim do ano um acordo de livre comércio, cooperação e político, entre o Mercosul e a União Europeia.

Na semana passada, os negociadores se reuniram e discutiram vários itens do acordo. De fato, nas regras de origem geográfica que protegem nossos produtos, como o pão de queijo e a cachaça, além dos queijos mineiros, como exemplo, faltam aos nossos negociadores dados, informações e indicação do interesse dos exportadores brasileiros.

Na reunião, que foi acompanhada por um grande número de empresários de São Paulo, só tinha de Minas o lendário representante da Magnesita, o engenheiro Renato Tavares, que sempre foi globalizada e sabe o que é mercado internacional.

O acordo deverá ser concluído até o fim do ano e anda muito bem, segundo os negociadores brasileiros. Mas as empresas e a economia como um todo precisam se preparar para uma nova fase, mais competitiva, com novas oportunidades de mercado, mas também novos desafios. O acordo deve criar mais empregos, melhores empregos, mas tudo será diferente.

E agora temos que ficar bem atentos às negociações e às mudanças que elas vão trazer. Senão, os franceses vão nos mandar queijos, vinhos, máquinas, e pão de queijo. E nós só vamos mandar o que mesmo para a Europa?

* Empresário. Ex-presidente do Sebrae Minas e da Federação das Indústrias de Minas Gerais.
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