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25 de fevereiro, de 2017 | 09:36

O mundo à beira de uma crise de nervos

Amadeu Garrido

Divulgação
Um imenso e complexo planeta? Ou apenas uma tribo de primatas, dos chefes inerentes? Donald Trump escancara nossas instituições precárias. Um único homem. Um único anelo. O povo discorda, manifesta-se. A aranha de Nova York persiste. Até quando?

A consciência humana foge dos extremos. Sua maturidade está mais do que escrutinada. Grupos radicais cometem suicídio político. Esquerda e direita podem sobreviver, sustenta Bobbio. A outros, foram-se no pó do século passado. As pontas extremas, porém, se partiram. Enquanto as primeiras resgatam pouco mais de 20% dos eleitorados mundiais, os extremismos não passam, em grau máximo, de 10%. Ou partem para o inominável terrorismo.

O predador Trump não é exceção. Um homem degradado nos meandros escusos de suas supostas minas de ouro, hábil comunicador num mundo impressionável por equilibristas de um humor de botequim, não foi o vencedor das eleições americanas. Perdeu-as por quase três milhões de votos populares, o que não é pouco. Hoje seria ridicularizado como um porco vermelho e azul.

A resposta é simples. O homem alçou picos montanhosos nas ciências, tecnologia, literatura, filosofia. Isso proporcionou conforto material e espiritual, mas não para todos. Os excluídos desses bens são em número muito maior. Por consequência, são dependentes e influenciáveis. Essa insustentabilidade é mantida por instituições anacrônicas, que balançam e permanecem.

Os Estados Unidos eram de segunda ordem na década de 30. Porém, sua gente tinha um potencial admirável, que ainda hoje conserva. Quase que se foram nas guerras da independência e da sucessão. Mas a coragem é seu forte, o que não se estende a seus governantes, com as exceções necessárias, como Lincoln e Obama. Um erro de visão jurídica impregnou os costumes americanos: leis velhas são melhores.

Não, o mundo é cambiante, as leis, em alguns países, podem ser, inclusive, tidas como revogadas por anacronismo. Já o povo do grande país americano saudou as leis velhas como exemplo de segurança jurídica que garantiu seu breve predomínio mundial.

Esquecem-se que correram "por fora" e do Plano Marshall e da nova geopolítica mundial extraíram a grande vitória. Uma poderosíssima indústria de guerra fez furtivamente a felicidade tipo "Seleções", cujas figuras coloridas de mundo idílico Trump viu quando criança e quer restabelecer.

A guerra da secessão, tendo como pano de fundo o escravagismo das grandes propriedades sulinas, deixou sequelas terríveis na forma que tem o Estado americano. Tanto que são estados unidos, não uma síntese política, sempre receosos de novas rupturas.

Naquele momento de agruras e sangue recíproco, fez sentido o pacto político-eleitoral entre os Estados, a eleição indireta, determinada pelos delegados das respectivas unidades. Por um único voto, um estado faz diferença no resultado eleitoral. Assim como um único e pretensioso homem quer fazer a diferença em nosso século.

No mundo contemporâneo o sistema é aterrador. O poder não é do povo, mas de alguns; a gloriosa democracia que Rui Barbosa exaltou na república velha brasileira não é democracia. Mandam os pesos outorgados, então discricionariamente, aos estados.

Assim unidos, não se sabe até quando. Nova York já assinala os primeiros movimentos de estremecimento dos pilares desse sistema anacrônico. Bom "tapa na cara" do aprendiz de feiticeiro deu o vizinho Canadá, ao abrir suas portas aos refugiados perseguidos. A Europa sente o momento frágil do "grande timoneiro" do mundo, sob valores fundados no humanismo irrespondível.

O valente já dá sinais de recuar, como no caso dos "green cards", tal qual todos os verdadeiramente medrosos e falastrões o fazem. Isolado, Trump também verá que o seu império romano não influencia mais do que 20% do equilíbrio mundial, e que poderá desabar aos ventos de uma prainha, como ocorreu com todos os impérios mundiais.

* Advogado e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.
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