25 de fevereiro, de 2017 | 09:28
A Guerra no Brasil está declarada
Marco Antônio Barbosa
Saques à luz do dia, tiroteios e mortos. Este não é o cenário da Guerra da Síria, e sim, do estado do Espírito Santo nos últimos dias. Cabeças cortadas não são atos somente de terroristas do Estado islâmico, mas imagens repetidas nos noticiários durante as rebeliões nos presídios em todo o país.Extermínios, como em regiões da África, fantasiados de chacinas em Porto Seguro, na Bahia. O que os números já alertavam, agora ganham as ruas das grandes cidades, de norte à sul. A criminalidade declarou guerra contra um estado falido e está ganhando a batalha.
Dados do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados no fim do ano passado e que refletem 2015, mostram que uma pessoa é morta no Brasil a casa nove minutos. O problema não é tão recente, mas por que somente agora parece que o caos existe?
A criminalidade sem limites sempre ficou à margem da sociedade, escondida embaixo do tapete. Quando se vê apenas os números, não se sente na pele e, consequentemente, não se cobra soluções. Assim como em outros setores, a má gestão do dinheiro público demora a aparecer, mas não deixa de apresentar a conta.
Em casa, se você gasta mais do que recebe ou com as coisas erradas, é possível viver por um período no vermelho ou de cartões de crédito, mas uma hora a cobrança chega. Sem investir em infraestrutura, inteligência e em profissionais, as polícias se enfraquecem e se omitem. Com isso, o crime organizado ganha espaço e se fortalece.
Mas do que uma crise pontual, vamos analisar de forma macro. A ausência do estado não é somente em segurança, mas em educação, moradia, saneamento básico, oportunidades de emprego. Tudo isso contribui muito para o cenário atual. Sem chances de um futuro, o crime surge como a única opção para colocar comida na mesa e crescer na vida. Vira um plano de carreira. Não é de hoje e não será resolvido de um dia para o outro.
Como forma de conter a violência, o exército é somente um paliativo e não pode ser visto como a solução. Para um caso de emergência, serve como tampão, mas é necessário rever todas as políticas públicas a fim de frear a criminalidade crescente. A incompetência do estado e a corrupção intrínseca em todo o sistema precisam ser denunciadas e combatidas incessantemente. O fundo de poço sempre será mais abaixo se não cortamos o mal pela raiz.
É importante entender que dos dois lados do ciclo vicioso da violência está a população. Se não cobra atitude dos governantes, não vigia as suas atitudes e não vota de forma correta, no fim ela tem de conviver com os problemas e pagar a conta. É preciso ter a noção de que o público é de todos. Temos de zelar pelo nosso bairro, comunidade e cidade como se fosse a nossa casa.
Vivemos durante anos fingindo que a violência não é aqui, que só há guerra no Oriente Médio. Precisamos sair da cortina de fumaça. A batalha está nas ruas e precisa ser enfrentada por todos. Mudar o canal da sua televisão não vai evitar que a sua casa seja roubada. Ou a população cobra ações efetivas dos governantes, ou seguiremos derrotados. O exército somos nós.
* Especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil, com mestrado em administração de empresas, MBA em finanças e pós-graduação em marketing e negócios.
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