20 de fevereiro, de 2017 | 15:48

CSFX: pedaços da década de 70

José Amilar da Silveira

Divulgação
Com a vigência da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB, lei nº 5.692/71, editada em 1971 pelo governo militar, as escolas enfrentaram momentos difíceis ao se verem obrigadas a fazer os ajustamentos na sua proposta pedagógica, num curto espaço de tempo. Na época foram extintos o curso primário, realizado nos Grupos Escolares, o curso ginasial, o curso científico, o curso clássico, madureza e outros.

E foi instituído o 1º grau – englobando o curso primário e o curso ginasial, totalizando oito anos escolares. E instituído o 2º grau, com caráter profissionalizante. As melhores escolas do estado de Minas Gerais se viram às voltas com essas mudanças. Estavam no auge, em Belo Horizonte, os Colégios Santo Antônio, Loyola, Santo Agostinho, Marista, Isabela Hendrix, Pio XII, Pitágoras, o Promove...

O CSFX também enfrentou esse momento cheio de desafios, com a nova LDB. Os cursos primário e ginasial foram reorganizados e reestruturados para formar o 1º grau, da 1ª à 8ª série. No lugar do curso científico foram implantados, a partir de 1974, os cursos profissionalizantes Técnico em Metalurgia, Auxiliar Técnico de Metalurgia, Técnico em Enfermagem, Auxiliar Técnico em Enfermagem e Curso de Magistério de 1º Grau, que cobriam as áreas de ciências exatas, ciências biológicas e ciências humanas.

Os ajustes no projeto pedagógico foram feitos de modo a atender os vários públicos que faziam seus estudos no CSFX. O 2º grau teve uma definição bem clara: formar excelentes técnicos, com a orientação e a formação profissional dos alunos interessados nesse segmento; e cuidar da formação acadêmica, também excelente, para quem quisesse a continuidade de estudos e a profissionalização a nível do 3º grau, indo para as melhores universidades do país.

O curso técnico foi sistematizado para quatro anos e planejado para realmente formar excelentes técnicos. O curso de Auxiliar Técnico foi estruturado em três anos. Ao término do terceiro ano, o aluno recebia o diploma de auxiliar-técnico.

Só que a organização curricular desses três anos era tal que atendia também toda a demanda do antigo curso científico, com sólida formação acadêmica, para quem quisesse buscar o 3º grau, em alguma universidade. Assim, o aluno que quisesse se inserir realmente no mercado de trabalho com o curso de 2º grau, fazia o curso técnico. E quem pretendia a continuidade dos estudos na universidade - 3º grau - fazia o curso de Auxiliar Técnico.

Praticamente todos os técnicos de Metalurgia formados nos primeiros anos de funcionamento foram contratados pela Usiminas, os de Enfermagem pelo Hospital Márcio Cunha, e os de Magistério pelo próprio CSFX.

A Usiminas e o Hospital Márcio Cunha davam apoio integral ao projeto educacional do colégio. Seus funcionários, engenheiros, técnicos, médicos e enfermeiros eram autorizados a sair do trabalho, na área da empresa, para virem à escola cumprir seus horários de aula. As aulas práticas e estágios também eram desenvolvidos na área da usina e do HMC.

Os presidentes da Fundação São Francisco Xavier e os Secretários Executivos ocupavam também cargos de chefia na Usiminas. Apesar de sua posição hierárquica, sempre respeitaram o CSFX, e foram importantes parceiros do seu projeto educacional, cada um no seu tempo.

Vale lembrar os presidentes da FSFX, José de Barros Cota, Álvaro Luiz Macedo de Andrade (UDG), João Geraldo Pessoa Evangelista (UDG), Antônio José Neves Pinto (UDG) e, a partir da metade da década de 80, o engenheiro Rinaldo Campos Soares, por 22 anos, que foi substituído por Rômel Erwin de Souza.

Igualmente parceiros foram os Secretários Executivos da FSFX, Diamantino Figueiredo Pereira (Financeiro da Usiminas), Mário Mauro Martins, Paulo Roberto de Carvalho Coelho (UDI), Reinaldo Malafaia Filho, José Carlos da Rocha, José Geraldo Nogueira Soares (UDS), Ronaldo Monteiro de Souza (Engenharia Industrial), que assumiu a Secretaria Executiva na mesma época em que Rinaldo assumiu a presidência, e Chrysantho de Miranda Sá Júnior. Atualmente, Luís Márcio Araújo Ramos ocupa a Direção Executiva da FSFX.

Um fato marcante aconteceu nessa época. A primeira turma do Curso Técnico em Metalurgia iniciou o 1º ano com um número muito grande de alunos, distribuídos em várias salas. Fatores diversos fizeram com que, a cada ano, o número de alunos por sala fosse diminuindo.

A primeira turma, chamada turma 1974, era animada, constituída por pessoas interessadas no curso, amigas entre si e amigas dos professores e do colégio. No 1º e no 2º ano tudo correu normal, sem maiores atropelos. No 3º ano, eram aproximadamente 40 alunos. Foi quando a bomba estourou. Terminado o ano, apenas oito alunos foram aprovados para o 4º ano. A grande maioria foi reprovada na disciplina Geografia, que era ministrada pelo professor Samuel Augusto Deslandes Filho.

O tratamento da Geografia, além de seus aspectos físicos e humanos, abordava, com profundidade, os aspectos econômicos, inclusive aqueles que tinham relação com a siderurgia. Foi um alvoroço no colégio. Reunião uma atrás da outra. Mas prevaleceu a decisão do professor Samuel. Sério, correto, rigoroso, muito respeitado pelos alunos, por seus pares e pela direção do colégio, ele prestou todas as informações e justificativas da sua decisão.

Os concluintes do curso, no final de 1976, realizaram a festa de formatura no Grande Hotel de Ipatinga: Glória Maria Cabral Magalhães, João de Deus Brito, José Cláudio Souza, Marinho Ramos Pacó, Nelma Morais de Oliveira, Roberto Dias de Araújo, Valdir Nunes Soares e Valdívio Fagundes Fontes.

Os demais tiveram que refazer o 3º ano e se juntaram a um outro grupo de excelentes alunos, a turma 1975. Essa segunda turma concluiu o curso em 1977 e celebrou sua formatura no dia 17 de junho de 1978, com a festa de congraçamento na Lagoa Silvana.

O paraninfo escolhido por eles foi o diretor do CSFX, que inventou de convidar seus afilhados para um coquetel em sua residência, mas não avisou à esposa para preparar a recepção. Quando os alunos chegaram, houve aquela correria para salvar a situação. A esposa do diretor faz lembrar, até hoje, que o jogo de cristal verde que tem em sua casa foi um presente que veio para compensar o acontecido.

* Diretor do Centro de Estudos Profª Zenita Guenther. SCHOLA/EDUCAÇÃO Assessoria e Consultoria. E-mail: [email protected].
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Roberto Dias de Araujo

21 de fevereiro, 2017 | 04:15

“Obrigado prof. Amilar pela lembrança desta época de bastante luta e determinação. A parceria entre CSFX e a USIMINAS foi determinante no sucesso deste projeto educacional que atendeu prontamente as necessidades de mão de obra especializada desta empresa, uma vez que havia uma grande carência no mercado deste tipo de profissional. Me dignifica o fato de ter participado deste processo e digo sempre aos meus amigos que o Curso Técnico em Metalurgia foi muito mais consistente que o de Engenharia que vim concluir nos anos seguintes, isto graças a qualificação dos professores, na maioria excelentes profissionais da Usiminas, também da visão da Diretoria da Usiminas que nos cedeu as instalações da empresa para que pudéssemos ter o claro e real conhecimento dos processos industriais, e finalmente ao senhor professor Amilar por empreender este grande projeto que foi um sucesso. Marcou muito a minha vida estes anos dourados. Obrigado novamente.”

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