17 de fevereiro, de 2017 | 14:56

Os riscos de uma reforma na educação que só busca resuiltados

Samy Pinto

Divulgação
Recentemente, fortes críticas vêm caindo sobre a reforma do ensino médio brasileiro, projeto anunciado pelo Ministério da Educação do governo Michel Temer. Apesar das divergências dos críticos, é importante salientar o ponto positivo de conversar sobre o tema no país, porque é a educação, sem dúvida nenhuma, o melhor investimento de verbas públicas que pode haver em uma nação. Uma população com acesso ao estudo trará sempre benefícios para o Estado. O que preocupa, de fato, é o desenho que está se formando com a reestruturação nas disciplinas da escola no Brasil.

Sob o ponto de vista do ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho, a juventude precisa e deseja esta reforma, que visa um aumento de horas anuais para o ensino médio, além de alteração na grade curricular, que permitirá que o aluno escolha, a partir de determinado ponto, uma área de especialização. Outro passo do projeto é a possibilidade de contratar professores sem curso, apenas por notório saber, para atender aos cursos técnicos. A escola que está sendo desenhada hoje é pequena, e busca atender apenas a indústria do resultado.

O que a juventude precisa e busca, e se vê isso nos protestos que ocorrem no país, é uma boa escola, com bons professores. O problema da qualidade das instituições e da falta de interesse dos estudantes na aprendizagem não é consequência do número excessivo de disciplinas, como argumenta o ministro Mendonça Filho e equipe. O motivo da educação não interessar no ensino médio não é a física, química, história e geografia, que deixa pesada a grade curricular do estudante. O que pesa é a mediocridade dos cursos e a falta de preparo do docente, que muitas vezes não tem o apoio necessário para desempenhar seu papel em sala de aula.

Diminuir as matérias que os alunos precisam estudar e deixar que eles decidam a própria grade curricular, baseados na escolha profissional, é ceder ao jogo do imediatismo, ao jogo do mercado. Ao chegar no final do ensino médio, o estudante ainda vai ter que passar pela graduação, que deve durar entre quatro e cinco anos, o que torna a pedir para a escola prepará-los para o campo profissional de uma urgência pequena.

A função da escola não é educar para o mercado, mas sim, para a vida. Tem o papel de ser um espaço que fará o estudante se encontrar e situar-se no mundo. Eis a importância de se conhecer e estudar filosofia, sociologia, história e geografia, como também conhecer a física, química e biologia, além de português e matemática. E com todas essas disciplinas, discutir sobre a realidade, aprender e refletir.

Então o cerne da questão se volta para o professor, e não para o modelo, e tão pouco para o currículo atual das escolas. Este, personagem central da trama, é o responsável por tornar os conhecimentos atrativos. O saudoso Rubem Alves foi muito feliz em criar um paralelo entre a educação e a gastronomia, pois não se come ferro e proteínas, mas se come uma boa carne temperada, um bom feijão gostoso e apetitoso. Atrás dos pratos vem os componentes nutricionais. Atualmente, o saber não é saboroso, o que devia encantar os estudantes é insosso e desinteressante. E é neste ponto, de diagnosticar o real motivo do desânimo do aluno, que o projeto falha.

Investir de forma concreta e segura na formação dos professores, e na mudança de status para esse profissional, é uma das soluções coerentes para o ensino médio brasileiro. Se os educadores fossem mais qualificados, as matérias seriam saborosas, todos os estudantes estariam extremamente envolvidos, e talvez estariam com a deliciosa dúvida de qual carreira seguir. Porque o mestre de matemática o encantou, o de química também, mas o de literatura foi fascinante. O de filosofia ajudou-o a pensar, e o de educação física fez com que ele cuidasse do corpo.

Criar um projeto que valorize o profissional educador é uma questão séria e precisa ser discutida, ainda mais ao pensar no futuro. O mercado atual desfavorece a qualificação do educador, a posição é de quem não conseguiu dar certo na economia, na engenharia etc, o que leva à necessidade de colocar o notório saber, o que não é uma boa ideia para o ensino médio. Então, não se resolve o cerne da questão. O professor precisa ser uma das profissões mais bem valorizadas da sociedade, porque se não for assim, as melhores mentes das poltronas escolares e acadêmicas não vão querer lecionar. E nas mãos de quem ficará as crianças que estão por vir?

Muito se tem escrito sobre a forma arbitrária como se traz uma medida provisória às reformas do ensino médio. Mas este não deve ser o ponto em questão, até mesmo porque, se o governo assume o poder pelas vias legais, ele tem a responsabilidade de reunir técnicos para provocar mudanças que visem o bem-estar e a melhoria de qualidade de todos os serviços no país. Então, não é despótico quando um técnico traz uma proposta para beneficiar os cidadãos. Entretanto, esta reforma, tal como nos foi apresentada, não me parece benéfica. A conclusão é que o professor é quem - de fato - tem as respostas para a melhoria da educação no Brasil.

* Professor e Rabino.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
MAK SOLUTIONS MAK 02 - 728-90

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário