04 de fevereiro, de 2017 | 09:12

Cambucás, caquis, jabuticabas…

Por Luiz Carlos Amorim

Numa crónica anterior, sobre a infância, não falei do enorme e único pé de cambucá que conheci quando menino e que povoou toda a minha vida. Nunca me esqueci dele. E nunca vi outra árvore como aquela, no decorrer de todos esses anos. Me reporto à outra crônica quando inicio esta, porque menciono naquela o bilboquê, que funcionou como uma máquina do tempo, tanto tempo fazia que não brincava com ele e de repente descobri que ainda sabia jogar, que ainda podia brincar de ser menino.

E o pé de cambucá é um marco na minha infância, pois eu sempre esperei encontrar outra árvore com aquela fruta de sabor único, de textura única, que se parece um pouco com pêssego, mas é só um pouco e na aparência. E nunca encontrei, parece que os cambucazeiros se escondem de mim, ou pior, será que eles não existem mais por aqui?
Outra coisa que me fez lembrar o cambucazeiro foi o livro "Minha Aldeia", da minha amiga Norma Bruno. Descobri, lendo o livro, que a árvore favorita dela é o caquizeiro. Meu vizinho tem um caquizeiro, e daqui onde estou escrevendo essa crônica, posso vê-lo: ele está verdinho, verdinho, cheio de folhas e logo estará colorido, iluminado, dourado, carregado de frutos. E agora, quando o vejo, eu me lembro de Norma, essa cronista brilhante das coisas da nossa ilha, que, ao mesmo tempo em que usa o falar do ilhéu, o nativo, tem uma elegância ímpar no escrever.

Eu nunca esqueci aquela árvore majestosa, enorme cambucazeiro com uns dez metros de altura. Ela ficava na casa de um vizinho e nós íamos lá, quando era época de colher os frutos, pedir para subir e comer alguns. E os vizinhos deixavam e a gente subia e subia naquela árvore gigantesca e apanhava os frutos amarelos e duros por fora, mas suculentos por dentro, com uma semente dura e lisa, parecida com a semente de abacate, mas menor, talvez do tamanho de uma semente de pêssego. O tamanho da fruta também regulava com o tamanho de um pêssego grande, só que era redonda. A polpa não tinha separação da casca, então a gente abria a fruta com os dentes, tirava a semente e comia a parte macia até chegar à parte mais resistente, que era a casca.

O pé de Cambucá deve ser parente da jabuticabeira, pois as flores e os frutos dão direto no tronco e nos galhos, e o sabor é até um pouquinho parecido, mas é característico porque é agridoce, ácido, incomparável.

Queria voltar a subir num pé de cambucá, e me lembrei dele agora porque é fevereiro e os frutos estão maduros para se colher. Alguns amigos meus, que sabem dessa minha nostalgia, já me comunicaram que têm em suas casas um pé de cambucá: Else, de Joinville, Flávio Cardozo, daqui de Floripa, que até me deu alguns frutos dos quais plantei a semente para ter o meu próprio pé de cambucá.

Minha terra tinha dessas coisas: um pé de cambucá grandioso, dois pés de nozes maiores ainda, tão grandes que se podia ver de qualquer ponto da cidade. E tem as dezenas de cachoeiras belíssimas. Essa terra é Corupá, o vale das águas e do verde, no pé da Serra do Mar.

Escritor, editor e revisor, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, cadeira 19 na Academia Sul Brasileira de Letras. www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br
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