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03 de fevereiro, de 2017 | 14:12

Desafios no ensino de Inglês para surdos

David Marcelo Berto

Aprender uma nova língua é simplesmente fascinante. Não somente pelo fato de falar palavras e frases em outro idioma, mas também pelo contato com culturas que permeiam o estudo. Sempre ouvimos falar da importância de se aprender outra língua e dos benefícios pessoais e profissionais que podemos usufruir com isso.

Em Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira, essa visão é enfatizada: “É indispensável que o ensino da Língua Estrangeira seja entendido e concretizado como o ensino que oferece instrumentos indispensáveis de trabalho” e que permite “um acesso mais igualitário ao mundo acadêmico, ao mundo dos negócios e ao mundo da tecnologia”.
Tudo isso pode parecer interessante para os alunos que jogam videogames, assistem a filmes, acessam a Internet, planejam uma viagem, enfim, realizam atividades como qualquer outro indivíduo. Com o início do projeto de inclusão, passamos a receber, em salas de aula convencionais, alguns alunos que não têm nessas atividades um hobby ou que não compreendem essas diferenças culturais e linguísticas. Dentre os alunos a serem incluídos vamos destacar um, o deficiente auditivo ou surdo.

Surdo é aquele que sofreu uma perda da audição, que varia de leve a profunda. Como há a dificuldade de ouvir os sons, essa deficiência afeta também a fala, dependendo do nível da surdez. A maioria dos deficientes auditivos comunica-se utilizando a LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais, que tem sua própria gramática, sintaxe, morfologia e fonética.
Alguns simplesmente se comunicam por meio de sinais domésticos, que a própria família e amigos criam para desenvolver uma conversa. Dentro deste contexto vem a indagação: será que é possível um aluno surdo se interessar pela aprendizagem da Língua Inglesa? O que fazer para atrair os alunos surdos? São questionamentos frequentes dos professores com esses alunos em suas turmas, que podem gerar insegurança e medo. Mas reflexões diárias levarão os educadores a deixar isso de lado. É o professor que precisa mudar seu método de ensino.

O aluno surdo se expressa e aprende as coisas de forma diferente quando comparado aos alunos ouvintes. Nós nos acostumamos a incentivar os alunos a buscarem a pronúncia perfeita, repetindo as palavras que ensinamos, focando em conversações. Mas isso não faz sentido para os surdos, porque eles não conhecem os sons das letras, dos fonemas e das sílabas.
Antes, o educador deve pensar que, em compensação à falta da audição, os alunos surdos são muito visuais. Por isso, a utilização de figuras facilita muito a aprendizagem. O aluno vai associar a imagem da palavra escrita à imagem do objeto/palavra em questão. Esse método ajudará até mesmo o professor que não tem conhecimento sobre a Língua de Sinais.

Outro fator importante é a contextualização das palavras. O aluno surdo não precisa aprender somente palavras soltas. Muitos professores o fazem achando que não poderão extrair um sentido daquilo que leem. É exatamente o contrário: alunos com deficiência auditiva interessam-se muito em aprender outra língua.

O professor deve aproveitar essa característica e preparar sua aula pensando, também, nesses alunos, para que eles não desanimem ou se decepcionem. Softwares educacionais também são uma boa pedida. Os alunos surdos se sentem muito bem ao manipular um ambiente visual, no qual eles possam interagir. No caso de alunos com mais idade, o professor deve tomar cuidado ao questionar sua forma de escrita.

Em LIBRAS, a ordem que as palavras aparecem na frase é diferente, tanto no português quanto na língua inglesa, podendo haver dificuldades em entender a ordem dos adjetivos em relação aos substantivos. Muitos educadores acabam confundindo a deficiência auditiva com a mental. As duas nada têm a ver uma com outra. Em razão desse equívoco, os surdos acabam deixando de lado a prática da leitura, tanto na primeira quanto numa segunda língua.

Há muitos surdos que dominam essa capacidade de leitura e escrita tão bem quanto ouvintes, inclusive muitos que já conseguiram sua graduação ou pós-graduação.

Poderíamos então parar e refletir: quem será o incluído? O aluno ou o professor? Na verdade, os dois. O aluno, por poder fazer parte de um ambiente com pessoas diferentes e, assim, se sentir pertencente a ele, o que é um fato. O professor, por sua vez, por saber unir-se a dois universos ao mesmo tempo, o do ouvinte e do surdo. Educadores precisam estar sempre preparados para estar nesses universos simultaneamente, com atividades que atendam às necessidades de todos os alunos. A Língua de Sinais não é o único caminho para esse universo. Há caminhos novos a cada dia, com brincadeiras, leituras, artigos tecnológicos, imagens, criando várias rotas para um mesmo objetivo: a satisfação do aluno.

* Consultor de Línguas Estrangeiras da Vitae Brasil; Professor de Língua Inglesa e Tradutor/Intérprete de Libras (IMOESC – Caçapava/SP), graduado em Letras pela Faculdade Anhanguera de Taubaté (SP).
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