31 de janeiro, de 2017 | 17:26

Esperança já!

Ricardo Viveiros

As pessoas já não respeitam nada. Antes, colocávamos num pedestal a virtude, a honra, a verdade e a lei. A corrupção campeia a vida destes dias. Quando não se obedece outra lei, a corrupção é a única lei. A corrupção está minando este país. A virtude, a honra e a lei se transformaram em fumaça e desapareceram de nossas vidas”.

Palavras de Alphonse Gabriel Capone, o Al Capone, contrabandista e vendedor de bebidas durante a “Lei Seca”, nos Estados Unidos. Ele também matou muitas pessoas, e foi preso por sonegação fiscal dias após conceder entrevista à revista Liberty, publicada em 17 de outubro de 1931.

Neste momento do Brasil, a reflexão do gângster gera questionamentos: O que busca o povo brasileiro quando vai às ruas, se é que vai? Que desejam jovens, adultos e idosos com diferentes mensagens, gritando antigas e novas palavras de ordem como nos tempos da ditadura?

Os brasileiros cansaram de problemas crônicos: educação, desemprego, saúde, falta de ética na política. A roubalheira ao longo de décadas teve, no Petrolão, a gota d’água. Transbordou com a crise política, econômica, social e, acima de tudo, moral. Não há mais espaço para discurso vazio, promessa não cumprida, corrupção, desmando e incompetência. Muito menos para delatores ou não, criminosos que cometeram absurdos contra o povo.

Eles roubaram dinheiro que, se investido na saúde, teria salvo muita gente da morte em alguns surreais hospitais públicos país afora. Como Al Capone, ao falar de si mesmos, tentam nos enganar outra vez. Posando como “heróis da Pátria”, com falso arrependimento, prometem devolver o que roubaram e entregar comparsas. Não enganam ninguém. Queremos mudanças para valer, reformas estruturais que garantam inalienáveis direitos. Mais sintomático que o povo nas ruas é quando as pessoas se revoltam caladas nas casas, fábricas e universidades. A desesperança é muito perigosa.

Nos tempos atuais em que o povo retorna às ruas para exigir honestidade, lembro um cidadão brasileiro, morto há 13 anos (ironicamente o número do partido que ajudou a criar): Carlito Maia. Publicitário brilhante, jornalista irreverente, responsável agitador e o melhor amigo de qualquer um. Suave e forte. Apaixonado convicto, solidário e bem-humorado, integrou o seleto grupo dos seres em extinção.

Carlito veio ao mundo a passeio, não em viagem de negócios – como dizia de si mesmo. Foi o único sonhador realista que conheci. Transbordava ternura, mas, também, repleto de coragem, era capaz de derrubar montanhas para que elas não fossem a Maomé, só para o profeta não se acomodar. “Uma vida não é nada. Com coragem, pode ser muito”, dizia.

Nestes tempos bicudos, com tantas revelações de corrupção, imagino a decepção de Carlito. Ele que afirmou: “A esquerda, quando começa a contar dinheiro, vira direita”. Ao ver o povo protestando contra os desgovernos nos três níveis, sinto saudade de suas frases, flores e cartões escritos com canetas bicolores, configurando uma comunicação criativa, lúcida e emocionada que faz refletir, querer e transformar. Meu velho, você estava certo: “Nós não precisamos de muita coisa. Só precisamos uns dos outros”. Sem perder a esperança, mantendo a determinação de lutar por nossos direitos, defender verdade e justiça, podemos, com mais educação e cultura, mudar o Brasil pelo voto consciente e responsável.

* Jornalista e escritor, autor de A vila que descobriu o Brasil e Todo mundo disse que não ia dar certo, publicados pela Geração Editorial. Presidente da Ricardo Viveiros & Associados – Oficina de Comunicação.
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