23 de janeiro, de 2017 | 17:53

Racionamento branco? Como fica a situação de quem trabalha aos domingos?

Há algo no mínimo estranho, acontecendo nos últimos meses em relação ao abastecimento de água na região. Nos últimos meses, numa sequência de domingos, sofremos o corte de água por motivos diversos. Procurando nos arquivos da internet, vemos os episódios de dificuldades em prover o abastecimento passarem de 72 horas. Entre 18 e 23 de outubro, a empresa alegava que isso era devido a “manutenção no sistema produtor de água”, segundo a fonte. Bairros de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo foram os afetados nesses dias. Em 17 de novembro houve uma segunda paralisação emergencial no sistema de abastecimento de água no Vale do Aço, e a empresa alegou o mesmo motivo do mês anterior.

No norte de Minas, a postura da empresa em reconhecer a razão de rodízio no fornecimento de água é clara e razoável, dada a estiagem que acomete a região. No Vale do Aço, entretanto, com um sistema de comunicação prévia que não alcança os usuários, mais uma vez fomos surpreendidos com a falta de água no domingo, repetindo fato de quinze dias atrás. E não podemos reclamar de São Pedro, uma vez que nos meses de outubro, novembro e início de dezembro fomos generosamente presenteados com muitas chuvas.

Eu lembro que no ano eleitoral, no estado de São Paulo, o governo Alckmin, contrariando toda a lógica exposta pela mídia, estrategicamente negava a necessidade de racionamento, mesmo com os reservatórios, sobretudo o principal, o da Cantareira, usando o “Volume morto”. Não estamos em ano eleitoral, mas as más notícias podem ser utilizadas no “momento certo” pelos adversários para atribuir ineficiência ao governo atual.

É verdade que, sob o escopo da estatística, a falta de água aos domingos causa danos menores à população do que durante a semana. No entanto, os negócios do entretenimento, por exemplo, como os restaurantes, clubes, hotéis, bares e afins, no dia de maior potencial de faturamento, passam a correr riscos de desabastecimento e ficam sem condições para atender seus clientes. Como, nesta visão, eles são minoria, passam a “pagar este pato”.

É preocupante esta rotina de cortes de água. Até é possível que isso nos remeta a questões de saúde financeira da concessionária. Semana passada, em reportagem publicada em um jornal da capital, a empresa anunciou que pretende contratar um empréstimo no valor máximo de R$ 350 milhões para manter o capital de giro da empresa, cujo faturamento vem sendo afetado pelo menor consumo de água da população, diante da crise hídrica. A matéria relata que, de acordo com o balanço financeiro do primeiro trimestre de 2015, a companhia amargou uma queda de 86% no lucro, em relação ao mesmo período de 2014. Além de manter o capital de giro, os recursos pretendidos pela COPASA serão destinados ainda à contratação de uma empresa de consultoria para reestruturação da companhia e também para investir em um Programa de Demissão Voluntária (PDV).

Se não houver uma ampla divulgação junto a sociedade para que ela adote uma maior austeridade no uso da água, este racionamento não reconhecido só leva a piorar a situação dos reservatórios. Mas pedir para consumir menos, como citado acima, alimenta um ciclo vicioso: o faturamento cai, recursos para investimento na prospecção de novos reservatórios tendem a rarear, manutenções preventivas e preditivas começam a ser reduzidas, dando lugar a manutenções corretivas cujos danos são bem superiores para a sociedade e a própria empresa. A gritaria dos empresários dos domingos vai aumentar, e esta estratégia passa a não ser a melhor.

Assim, sugiro aos gestores da COPASA ampliar a comunicação e dialogar mais com os consumidores. E devem fazer isto antes que o nível de especulações transforme indícios em um fato consumado.
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