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19 de janeiro, de 2017 | 16:47

Para o ano que vem

Petrônio Gonçalves

O ano começou velho: mortes, assassinatos, massacres. As pessoas começaram o ano como sempre foram e como sempre serão, prometendo mudar, um dia... 2017 já é igual a 2016, como são iguais todos os anos, no calendário e dentro de cada um. As promessas de parar de fumar, beber menos, ter maior tolerância com as coisas deste mundo não resistiram à noite de réveillon e tudo se foi no ápice do estouro da garrafa de champanhe, com toda ânsia transbordando na palma da nossa mão. Fazemos listas e listas do que não faremos no ano novo, porque somos afeitos ao que somos e quase sempre nos tornamos tudo aquilo que nunca quisemos ser. Somos mesmo seres de vazio e adoramos falso preenchimento. Assim sempre fomos, desde depois de ontem. E assim seremos, na eterna hereditariedade das gerações.

Prostrados, com o nosso país de joelhos, assistimos, desde o dia primeiro, o despetalar do calendário, o dia a dia caindo e sumindo pelo ralo. O que já era ruim ficou ainda pior, como uma involução diária e precária em marcha batida dessa pobre sociedade brasileira. Em tempo de Temers & Trumps protagonizando os noticiários e ocupando as páginas da história, registramos a falta que nos fazem os Mandelas com seus pensamentos em mandalas, o José entre outros tantos Magos, o Ariano e sua Suna compadecida. Escolhemos nossos líderes e entregamos a eles o comando de nossa vida em sociedade. É inevitável que o mundo tome a forma do pensamento deles, da personalidade deles, de suas ideias. É um tempo de tristeza, das contas diárias vencendo sobre a mesa, da incerteza batendo à porta vizinha e à nossa. É um tempo pesado demais, e nos parece tolo simplesmente acreditar.

Está faltando ao mundo presente a generosidade universal, o desejo natural de mudança, a elevação do pensamento humano, da força motivadora do sonhar e ter a alma cheia de fé e esperança. Já não temos mais motivação para protestar, tudo foi vencido por homens decaídos. Está faltando luz ao tempo presente, e os flashes que espoucam são apenas para registrar o último assassinato de nossas esperanças.

Digito este texto com os dedos em chumbo pesando sobre o teclado, porque tenho nada para acrescentar, nada que valha a pena dizer. Toda dor é solitária e nossas alegrias são feitas de pequenas migalhas. Escrevo este texto como uma oração silenciosa de quem pede e clama por mudança. Não a mudança da rua, essa que acaba na primeira esquina. Mas na mudança que acontece, nasce e cresce, dentro de cada um, no mais fundo da alma, e que é capaz de mudar o mundo à sua volta. Essa é a revolução que me interessa, o se elevar em outro patamar.

Assim nossa nave não vai, fica, mais empobrecida, corrompida, desnutrida e sem esperança. Nem bateremos mais nas panelas - cada vez mais vazias -, bateremos nos tambores, pois, daqui a pouco, já será carnaval.

* Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor
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