17 de janeiro, de 2017 | 16:57

Avanços tecnológicos que podem ampliar o acesso à saúde ainda são tabus no Brasil

Carlos Eduardo Cassiani Camargo

A crítica situação da saúde pública no Brasil se arrasta há décadas e parece sem fim. Os danos à população são inúmeros, da falta de atendimento básico a hospitais lotados e profissionais sobrecarregados. Uma realidade que pode ser mudada com o auxílio da tecnologia e cobranças mais efetivas da sociedade para mais investimentos do poder público na melhoria do acesso à saúde. Todo ano, o Sistema Único de Saúde realiza cerca de quatro bilhões de procedimentos ambulatórios, mais de 530 milhões de atendimentos e supera 11 milhões de internações. Falando em planos de saúde, mais de 60 milhões de brasileiros possuem esse benefício. Entretanto, com ou sem planos médicos, as pessoas sofrem do mesmo mal: a falta de profissionais para suportar a demanda de pacientes.

Segundo dados do Portal da Saúde do Governo, o Brasil tem 1,8 médicos para cada mil brasileiros, índice abaixo de outros latino-americanos como a Argentina (3,2) e o México (2). Para igualar-se à média de 2,7 médicos por mil habitantes registrada na Inglaterra, em cujo sistema de saúde se inspirou o SUS, o Brasil precisaria ter hoje 168.424 médicos a mais. No Brasil, segundo o IBGE, 42% das cidades têm até 10.000 habitantes e 72% têm até 20.000 habitantes, e em sua maioria não possuem estrutura médica de ponta e muitas nem tem médicos.

Esse panorama deixa explícita a decadência do nosso modelo de sistema de saúde e a falta de investimento em tecnologias que podem facilitar, adiantar e melhorar os atendimentos nas pequenas, médias e grandes cidades do país. A deficiência é maior nos pequenos municípios, com centros médicos pequenos e escassez de profissionais especializados e equipamentos necessários para diversos tipos de exame. A realidade de muitos usuários é depender dos transportes disponibilizados pelas prefeituras para buscarem tratamentos e consultas em cidades vizinhas, ou nas grandes metrópoles.

Toda essa movimentação e falta de acesso a equipamentos e exames podem ser evitados com o investimento em tecnologia. Um centro médico no interior do Ceará hoje consegue se comunicar e emitir laudos de um paciente com ajuda de profissionais do Rio de Janeiro, por exemplo. Uma clínica no Oiapoque que dependa de um laudo de exame urgente para preparar um paciente para procedimentos operatórios pode solicitar ajuda de plantonistas no Chuí. Todavia, dependemos da ação dos governantes para evoluirmos nossa medicina e aumentar os benefícios para a população, igualando nosso sistema de saúde ao de países de primeiro mundo.

Com regulamentação ainda restrita pelo Conselho Federal de Medicina, a Telemedicina pode ser aplicada no Brasil em iniciativas como a capacitação profissional complementar, em estudos e pesquisas e na emissão de laudos a distância. Este último com grande representação na saúde financeira de clínicas médicas e de saúde ocupacional, por exemplo, que podem reduzir em até 30% o seu custo operacional graças à praticidade e agilidade que a terceirização deste serviço consegue obter com os laudos remotos.

Segundo a ATA (American Telemedicine Association), países como os EUA já utilizam sistemas de atendimento online, e há 80% de acerto no diagnóstico de patologias simples, evitando o deslocamento de pacientes até a unidade de atendimento médico. Segundo a associação, 97% dos usuários aprovam esse modelo de serviço, alegando redução de tempo, custos e rapidez na solução dos casos. Ainda mais adiante, em situações de patologias que necessitam de mais atenção, o acompanhamento profissional pode ser feito à distância, podendo ser acionado pelo próprio médico, caso ele perceba alguma situação fora das normalidades determinadas para aquele paciente.

Com o uso da telemedicina podemos levar médicos e especialistas a qualquer uma destas cidades e estaríamos, enfim, favorecendo o acesso à saúde na medida da grandeza e necessidade da sociedade brasileira.

*Carlos Eduardo Cassiani Camargo é especialista em cardiologia, membro das Sociedades Paulista e Brasileira de Cardiologia (SOCESP e SBC) e presidente da Brasil Telemedicina.
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